Em outro canto da cidade, Masato caminhava entre as sombras do armazém antigo onde o líder da gangue Kurogane o aguardava. O local, abafado e impregnado de fumaça de cigarro, exalava tensão. Os olhos do líder Kurogane, frios como lâminas de gelo, seguiram Masato até ele se sentar.
Aquele era o último lugar onde Masato imaginava estar, mas ele tinha pressa em descobrir se Hideo Shinoda realmente havia atrapalhado as suas cargas, e não via outra forma de lidar com isso sem ajuda. É claro que agora tinha Lyo, mas apenas ela não seria suficiente.
— Sabemos por que está aqui, Masato. — disse o líder sem rodeios, os dedos tamborilando sobre a madeira gasta da mesa. — Alguém denunciou o seu carregamento. Pessoas desapareceram. E você quer saber quem ousou tocar nos seus negócios.
Masato assentiu, o olhar carregado de raiva contida. Ele não se surpreendia por o homem à sua frente saber de tudo aquilo — ele tinha poder e influência para conseguir o que quisesse nas sombras de Tóquio.
— Desconfio de Hideo. Tudo aponta para ele. Ninguém mais tinha acesso aos contêineres. Se ele ousou me atrapalhar, pagará com sangue.
O líder da Kurogane riu baixo, um som sem alegria. Aquilo era tudo o que ele precisava ouvir. Ele tinha pendências com a família Shinoda, e aquela era a oportunidade perfeita para abalar os seus negócios.
— Curioso... Também temos razões para querer o pescoço de Hideo. A família dele nos deve... e traição é uma moeda cara.
Ambos se entreolharam, a cumplicidade nascida do ódio comum tomando forma. A conversa se aprofundou, os detalhes emergindo como peças de um quebra-cabeça sombrio. Se Hideo realmente entregara os contêineres à polícia, era um inimigo mortal para ambos.
— Se confirmarmos que foi ele... — disse Masato, com a voz cortante — ...não deixarei sobrar nem os ossos.
— Trabalhemos juntos, então. Mas sem erros. — respondeu o líder da Kurogane. — Hideo é escorregadio, mas, se for culpado, a sua morte será um aviso para qualquer outro que pense em se virar contra nós.
O plano começava a se formar. Espiões seriam enviados, aliados testados. Masato e os Kurogane tinham um novo objetivo comum. E no submundo da cidade, começava a caça por provas contra Hideo.
— Então temos um acordo. Vou colocar o meu pessoal nisso e você coloca o seu. Tenho pressa com isso. — disse Masato.
— Somos dois, então. Não se preocupe, em breve teremos o que desejamos.
Masato deixou o lugar com uma sensação nova. Ele sabia que não demoraria para descobrir a verdade. Quando se tem dinheiro, é possível conseguir qualquer informação — e disso ele tinha de sobra. Ao retornar para casa, Masato recebeu uma ligação de Lyo. Ele suspirou ao ver o nome dela brilhando na tela do telefone.
— Olá, Lyo. — disse ele.
— Olá, senhor Masato. Soube que haverá um baile daqui a alguns dias. Pensei que seria a oportunidade perfeita para arrancar algumas informações de Sayuri. — disse ela, animada.
— O que sugere? — perguntou ele, divertido.
— Achei que poderíamos colocar algo na bebida dela. Assim, ela ficaria vulnerável à nossa vontade durante a festa. — Masato ouvia aquilo pensando em como Lyo tinha ideias diabólicas para seus inimigos. Um tanto infantis, mas, se aquilo lhe trouxesse alguma informação, ele não se importaria.
— Isso pode dar certo. — disse ele.
— Ótimo. Sei que a família dela receberá um convite para a festa. Só preciso que consiga a droga para mim, que eu cuido do resto. — respondeu ela.
— Vou pedir para um dos meus te entregar na festa. Apenas seja cuidadosa, ninguém pode saber do nosso envolvimento. — Aquilo era algo que Masato não desejava que viesse a público. Ele preferia manter a sua identidade em segredo.
— Não se preocupe, senhor Masato. Vou ser cuidadosa no que farei. — disse ela ao telefone.
— Ótimo, senhorita Lyo. Vou aguardar boas notícias de você. — Masato tinha um largo sorriso no rosto enquanto falava. A cada dia que passava, ele tinha mais certeza de que Lyo era uma boa aquisição para seus planos. Até porque ela era totalmente descartável, e para ele não era difícil fazer alguém desaparecer, se desejasse.
Masato desligou o telefone com um largo sorriso no rosto. Sentia-se mais confiante, e assim que eliminasse Hideo, os seus problemas estariam resolvidos. O pai dele não representava perigo aos seus negócios, já que recebia uma porcentagem para fazer vista grossa ao que acontecia. Mas Hideo já havia deixado claro que não concordava com o que faziam.
— Para onde deseja ir agora, senhor? — perguntou o mordomo Shun ao volante.
— Me leve para ver as minhas lindas borboletas, Shun. Já faz um tempo que não as vejo. — disse ele, com um sorriso c***l no rosto.
— Como desejar, senhor. — respondeu ele, já mudando a rota.
O carro cortava a noite como uma sombra, e rapidamente Masato chegou ao seu destino. Era uma antiga construção que ele havia reformado especialmente para aquele hobby em particular. A cada passo que dava, o seu coração disparava ao pensar em tudo o que faria com as suas borboletas naquela noite.
Shun abriu a porta e permitiu que seu patrão entrasse. Ele caminhou pelo corredor em direção ao cômodo onde ficava a Sala das Borboletas, como Masato a chamava. Assim que a porta principal se abriu, o sorriso de Masato se alargou.
Em um domo de vidro que tomava conta de quase toda a sala, ele admirava as suas borboletas. Eram, ao todo, dez — cada uma de um país específico.
— Olá, minhas borboletas. Espero que tenham sentido a minha falta. — disse Masato, com um sorriso diabólico no rosto.
Quando as mulheres dentro do vidro ouviram a voz de Masato, assustaram-se e tentaram se esconder dos olhos dele — algo impossível, já que o domo era de vidro. Elas podiam apenas rezar para que o desejo do homem à sua frente fosse saciado cedo.