Ricardo havia descido as escadas em silêncio, mas seus olhos denunciavam o quão irado ele estava com tudo o que tinha acontecido. Ao menos ele se consolava agora que sabia que Haruki não poderia mais tocar em Hideo, mas ainda não era o suficiente para ele, os seus instintos gritavam que havia mais coisas naquela história.
O silêncio pairava pesado sobre a sala principal da mansão Matsumoto. As grandes janelas de vidro deixavam entrar uma luz fria, filtrada pelas cortinas de linho, desenhando sombras nas paredes cobertas de arte japonesa. Ricardo caminhou até as janelas de costas para os outros, observando o jardim com um olhar perdido. Os koi nadavam calmamente no lago, alheios ao caos que cercava os humanos.
— Não confio nele — murmurou Ricardo, sem se virar. — Haruki é como um lobo em pele de cordeiro.
Haruki tinha deixando para trás uma promessa de paz que, para Ricardo, soava mais a ameaça velada do que a alívio. A batalha para resgatar Hideo tinha sido bem sucedida, mas o custo... Hideo ainda estava a se recuperar. E Sayuri... tinha se recusado a deixar o noivo desde que eles deixaram o quarto, algo que Ricardo entendia bem. Ele conhecia o desespero de ver alguém que se amava e se sentir impotente, então apenas a tinha deixado com Hideo e saído com os outros.
Na sala estavam também Matteo, Aurélio, Klaus e os outros. Jin estava sendo atendido pelo médico naquele momento, ele não havia sido poupado da crueldade de Haruki.
Todos sentados nos sofás espalhados pela sala, minutos depois Yuki retorna com alguns criados que traziam várias travessas com chá e alguns bolinhos. Matteo limpava a lâmina de uma das suas facas com um pano branco, gesto que fazia sempre que estava nervoso o que poucas pessoas sabiam, é claro.
Síria mexia no seu chá, mas não bebia, e Charles encostado na parede, mantinha os braços cruzados, atento a qualquer ruído que pudesse vir de fora. Ele não gostava de todo aquele silencio, era acostumado com a calmaria antes da tempestade e esperava que de alguma forma Haruki revidasse, todos esperavam.
— Podem relaxar ele não vai atacar. — Diz Yuki pegando uma xícara de chá e se sentando. — Haruki presa de mais a sua honra para isso.
As palavras foram ditas em tom de escárnio. Depois do que Yuki tinha visto o seu respeito por Hideo tinha crescido.
— Tem certeza disso? — Pergunta Charles.
— Tenho. Ele pode não gostar, mas vai manter a sua palavra. — Diz dando de ombros.
— Vocês são esquisitos. Se fosse em outro lugar estaríamos sobre ataque agora mesmo. — Diz Nico passando a mão pelos cabelos.
— Para nós o líder tem que ter honra no que se fala, e o pedido de Ricardo deixou isso bem claro. — Explica Yuki.
— Posso entender isso, mas ainda acho bem louco. — Responde Nico.
— E Jin? — Pergunta Matteo.
— Está sendo tratado. Ele não está tão r**m quanto Hideo, mas fizeram um bom estrago com ele. — Yuki tinha que admitir que Hideo tinha um bom homem ao seu lado. Jin havia demonstrado que passaria por cima de tudo para ver o seu líder bem e seguro.
— Precisamos começar a pensar em algo. — Diz Ricardo se aproximando e se sentando de frente para eles.
— O que propõe? — perguntou Yuki. — Não podemos esperar que Haruki mantenha a palavra. Ele pode ser influenciado por outras pessoas.
— Temos de neutralizar Masato. Ele é o nosso objetivo aqui. O verdadeiro perigo. Enquanto ele estiver solto, Sayuri nunca estará segura. E Hideo... bem ele vai querer respostas.
— O que sabemos sobre Masato? — questionou Klaus se levantando e indo sentar ao lado de Síria.
— Pouco. Muito pouco — respondeu Yuki. — Está sempre um passo à frente. Não deixa rasto. Mas há rumores. Dizem que ele mantém ligações fora do Japão. Negócios com outras organizações.
— Então precisamos de infiltrar alguém. Alguém que consiga aproximar-se, ganhar a confiança dele. Saber quem são os seus aliados. E quem são os seus inimigos.
— Não, isso vai levar muito tempo e não quero fiar aqui mais do que o necessario. — Responde Ricardo.
— Nisso eu posso ajudar chefe. — Diz Alícia sorrindo. — Assim que o Xavier chegar poderemos usar o novo programa dele para conseguir informações, junto com os nossos vai ser algo rápido. — Diz ela com um largo sorriso no rosto.
— Casa comigo? — Pergunta Nico sentando ao lado dela e segurando o seu rosto entre as mãos.
— Já somos casados, se esqueceu? — Pergunta ela com a sobrancelha arqueada.
— Mas eu me casaria com você de novo sem nenhum problema. — Diz ele dando um beijo rápido nos seus lábios.
— Eles são sempre assim? — Pergunta Matteo.
— As vezes são piores. — Responde Vito entrando na sala acompanhado de Max. — Acho que cheguei bem na hora.
Ricardo sorri ao ver o sogro chegando, Vito tinha sido mais rápido do que ele tinha imaginado.
— Tenho que mimar a minha esposa sempre que posso. — Diz Nico agarrado a Alícia.
Matteo observava aquilo com um sorriso discreto no rosto. Ele tinha visto pouco sobre os membros da Fênix, e até onde ele sabia Ricardo era muito seletivo com quem frequentava o seu círculo e a sua casa, mas observando o comportamento deles naquele momento ele percebia que eles eram bem diferentes do que imaginavam.
— Onde está o nosso caçulinha? — Pergunta Max.
— Lá em cima. Ele teve alguns ferimentos profundos. — Diz Ricardo. Max olha bem para o rosto de seu chefe e entende o que tinha acontecido na mesma hora.
— Vamos vingá-lo chefe, ninguém toca em um dos nossos. — Diz ele com olhos sombrios.
— Chefe? — Pergunta Matteo com a sobrancelha arqueada. — Você não é o Don da Mafia Valentine? Lidera o grupo mais louco de quem já ouvi falar.
Max sorri com as palavras de Matteo. Os seus homens tinham ganhado fama nos últimos meses, o que os tinha deixado muito felizes.
— Não importa o que sou agora, só me importa de onde vim. — Responde ele dando de ombros. Algo que ninguém jamais tiraria de Max era a gratidão que ele tinha por Ricardo.