Capítulo 26

1135 Words
A fumaça do charuto de um dos homens se espalhava lentamente pela sala, misturando-se com o som abafado da música que vinha do salão principal da boate. Jin e Hideo estavam sentados no sofá de couro preto, os olhos atentos, o silêncio entre eles tão afiado quanto uma lâmina. Os três homens à frente pareciam hesitar, como se esperassem uma autorização implícita para abrir o jogo. Hideo cruzou os braços, o semblante impenetrável, mas a paciência começava a se esvair como areia por entre os dedos. Foi então que um deles, um homem de meia-idade de terno impecável e sorriso falso, resolveu quebrar o silêncio. — Jovem Shinoda, creio que podemos iniciar uma nova era de alianças... Assim como o seu pai fez no passado, achamos que seria de grande proveito selar os nossos acordos com laços mais... familiares. Os olhos de Hideo se escurecem na mesma hora com as palavras do homem. Se eles ao menos soubessem o quanto ele odiava o que o seu pai fazia não teriam tido a audácia de fazer aquela proposta a ele. Ao seu lado ele sente Jin tocar o seu braço em advertência lhe pedindo que ficasse calmo. O segundo homem assentiu, puxando um envelope do bolso interno do paletó e o colocando sobre a mesa. — Estas são informações sobre as nossas filhas. Belas, obedientes, discretas. Uma delas poderá se tornar a sua noiva ou a sua dama de companhia se preferir, se aceitar uniremos as nossas famílias. O mundo pareceu congelar por um segundo. Hideo não acreditava que o homem a sua frente tinha tido a coragem de dizer o que ele havia ouvido. Jin se moveu ligeiramente, como se esperasse uma explosão — e ela não demorou. Os olhos de Hideo se estreitaram. Um calor incômodo subiu-lhe pelo peito, espalhando-se como veneno. Primeiro veio o nojo — um enjoo visceral ao perceber o que realmente se passava naquela sala. Não eram acordos. Eram vendas. Trocas de seres humanos como mercadoria, algo pelo qual ele lutava com todas as suas forças. Depois, a raiva. Uma raiva seca, profunda, que se acumulava nas entranhas como magma prestes a explodir. O som abafado do seu próprio coração parecia ensurdecedor. O queixo cerrava, os punhos se fechavam devagar, os olhos tornavam-se duas lâminas negras afiadas. Por fim, a fúria. Cravada no olhar, viva no timbre da sua voz. — Vocês acham... — começou ele, com a voz baixa, fria — que podem comprar a minha lealdade com mulheres? Que podem repetir com o filho o que fizeram com o pai? O homem mais velho tentou se justificar, mas Hideo se levantou de repente, a cadeira rangendo atrás dele. O brilho nos seus olhos era como o de uma fera acuada prestes a atacar. Ele queria poder dar fim a vida daqueles homens naquela mesma hora. — Não sou o meu pai. E se acham que vou aceitar uma união forçada, que vou transformar outra mulher num peão de jogo sujo, estão mais loucos do que parecem. Eu não terei amantes e nem filhos bastardos como todos vocês tem. O terceiro homem tentou manter a calma. Ao ouvir as palavras de Hideo sabia que tinham dado um tiro no próprio pé ao imaginar que ele seria como o pai, e que desta forma pudessem obter algumas vantagens dele. — Senhor Shinoda, isso é apenas uma forma de fortalecer laços... nada mais. Hideo riu — um riso curto, amargo. Ele olhava para o homem pensando como ele poderia ser tão e******o a ponto de acreditar no que estava dizendo. Hideo sempre tinha admirado a força e poder do seu pai, mas infelizmente todos tinham um lado feio e o do seu pai era a infidelidade com a sua mãe, algo que ele jamais perdoaria. — Fortalecer laços? Vocês chamam isso de laço? Chamam de aliança o que não passa de tráfico disfarçado? Ele se aproximou lentamente da mesa, apoiando as duas mãos sobre o tampo de vidro, inclinando-se sobre os homens. — Eu deveria colocar uma bala da cabeça de vocês agora mesmo. Se voltarem a tocar nesse assunto — ele apontou para o envelope como se fosse uma arma — vou considerar uma declaração de guerra. — Posso cuidar disso para você chefe. — Diz Jin puxando duas pistolas com silenciador da sua jaqueta e apontando para os homens a sua frente. — Por favor senhor, queríamos apenas encontrar um meio de convivermos, não queríamos deixá-lo chateado. Nos perdoe. — Pede um dos homens ao ver as armas. O silêncio voltou a dominar a sala. Jin permanecia imóvel, mas atento. Os homens hesitaram, levantando-se devagar, recolhendo o envelope com mãos trêmulas. Sabiam que tinham cruzado um limite — e não teriam uma segunda chance. — E pensar que eu quase deixei as minhas armas lá fora... — Para você ver. — Diz Hideo se sentando novamente e observando os homens a sua frente. — Tragam me ulagumas bebidas. Rapidamente um dos homens se levanta e corre para fora, ele volta segundos depois com várias garrafas de bebidas caras e alguns copos nas suas mãos. — Aqui jovem Shinoda. — Diz o homem lhe entregando um copo. Ao lado de Hideo, Jin permanecia com as armas em punho apontadas para os homens a sua frente. — Não é para mim, eu quero que cada um de vocês bebam, como um pedido de desculpas pela ofensa que me fizeram. — Diz Hideo mais tranquilo. Os olhos do homem se iluminam e ele rapidamente pega mais dois copos para servir a bebida. — Acho que podemos deixar os copos de lado. O homem para olhando para Hideo, ele se abaixa e pega três garrafas, as abrindo e colocando na frente de cada homem na sala. — Agora podem beber. — Diz voltando a se recostar no pequeno sofá. Eles olham em dúvida uns para os outros, mas quando Jin engatilha uma das armas eles agarram rapidamente as garrafas a entornando na suas bocas. Hideo queria rir do desespero dos homens a sua frente, mas permanecia calmo e sério sentado no seu lugar. Quando eles terminam de beber colocam as garrafas na mesa com dificuldade. — Agora estamos perdoados senhor? — Pergunta o homem. — Ainda não estou satisfeito, e vocês só sairão daqui quando estou estiver. — Diz ele com olhos sombrios abrindo mais três garrafas e colocando na frente deles. Quando eles não tocam nas garrafas Jin faz um pisparo em um dos copos o quebrando. — A chefe deu uma ordem, mecham-se! — Diz ele com a sua voz grave. Hideo observava com prazer os homens a sua frente virar uma garrafa atrás da outra, ele já tinha um plano em mente que faria com que nunca mais alguém lhe fizesse a mesma proposta descabida dos infelizes a sua frente.
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