Capítulo 27

1018 Words
Hideo tinha um sorriso no rosto ao deixar a boate. Aqueles homens jamais esqueceriam o castigo que haviam recebido, e ele estava deixando uma mensagem bem clara: não era seu pai e agia de forma diferente dele. Quando a notícia se espalhasse, ninguém mais ousaria fazer uma proposta como aquela novamente. Assim que entrou no seu apartamento, Hideo foi direto ao bar, servindo-se de um drinque. Precisava de uma bebida depois da noite que tivera. — Confesso que fazia muito tempo que não me divertia assim. — disse Jin, pegando o copo que Hideo lhe oferecia. — Eles logo entenderão que eu não sou meu pai e que trabalho de uma forma bem diferente dele. — respondeu ele, levando o copo à boca e tomando um gole da bebida com despreocupação. — Mas me conte, meu amigo, o que perdi enquanto estive fora? — perguntou Jin, sentando-se de frente para Hideo. — Muita coisa. — respondeu, lembrando-se de algumas aventuras que vivera ao lado da Fênix. — Ouvi dizer que você está andando com uma galera de peso agora. — disse, com um sorriso sugestivo. — Isso depende. — disse ele, dando de ombros. Hideo não era de comentar sobre a sua vida pessoal. — Então andar com o pessoal da Fênix é pouca coisa agora? — perguntou, rindo. — São alguns amigos. — Pelo que ouvi, são bem mais que isso. — Jin, apesar de estar distante, nunca deixara de se preocupar com o amigo e sempre se mantinha informado sobre os seus passos. Foi assim que descobriu que Hideo havia entrado para a Fênix. — Somos família, Jin. Aqueles loucos não me deixam me afastar, nem que eu quisesse. — disse ele, rindo ao lembrar-se de Ricardo e da forma como Sayuri ficava de olho nele. — E você gosta. — observou Jin, satisfeito. Sempre soube que Hideo não tinha um bom relacionamento com o pai e ficou feliz por saber que ele tinha pessoas que realmente se importavam com ele. Eles podiam ser homens da máfia, sem escrúpulos ou coração, mas desejavam viver o que todos desejavam: ter uma família e alguém para quem voltar. Olhando nos olhos do amigo, Jin sabia que ele estava realizando esses desejos com as pessoas ao seu redor. — E seu pai? Continua do mesmo jeito de antes? — perguntou, com a voz mais baixa. Não gostava de tocar naquele assunto, pois ressuscitava os demônios do amigo, mas sua preocupação falava mais alto, e ele não ficaria satisfeito enquanto não ouvisse da boca de Hideo que tudo estava bem. Hideo colocou a bebida sobre a mesinha de centro e se levantou em silêncio. Tirou a camisa e virou as costas para Jin, sem cerimônia. — Depende do que você chama disso. — disse ele, sem nenhuma emoção na voz. Jin ficou travado no lugar. Olhava as costas de Hideo com aparente raiva e nojo pelo que Haruki havia feito. A tatuagem que o amigo tinha m*l cobria as marcas e cicatrizes ali presentes. A pele, em alguns lugares, estava enrugada, mostrando que m*l havia cicatrizado quando ele foi castigado novamente. Arrependimento brilhava nos olhos de Jin, mil coisas passando por sua mente enquanto olhava as costas do amigo, marcadas de forma c***l. Sempre soube que Haruki era c***l, mas achava que ele havia parado com aquilo ao longo dos anos. Estava enganado, e a sua raiva apenas aumentava ao ver tudo o que o amigo havia sofrido na sua ausência. Jin se levantou, colocando o copo na mesa, os olhos em brasa e a raiva queimando forte no peito. Em silêncio, caminhou em direção à porta do apartamento de Hideo. — O que vai fazer? — perguntou Hideo, segurando o seu braço e o impedindo de sair. — Eu não me chamo Jin Sato se ainda hoje não colocar uma bala na cabeça do seu pai. — Hideo se surpreendeu com as palavras. Nunca havia visto o amigo agir daquela forma em toda a sua vida. Via a raiva e o ódio brilharem profundamente nos olhos castanhos dele. — Deixe pra lá. Não quero que morra por causa de algumas surras que levei. Jin não acreditava no que ouvia. Olhava para o amigo com descrença. — Algumas surras? Ficou louco, Hideo?! — disse, soltando-se do aperto e dando alguns passos para trás. — Isso foi tortura! Pelo amor de Deus, você era apenas uma criança! Hideo suspirou. Não queria se lembrar daquilo. Pela mãe, estava disposto a deixar de lado tudo o que havia sofrido e pôr uma pedra sobre o assunto. Estava cansado de tanta briga e discussão em casa. Só queria paz, nada mais. — Isso está no passado, Jin. Não quero ficar pensando nessas coisas. — disse Hideo, virando-se e sentando-se novamente no sofá. — Você está se ouvindo, Hideo? Eu vejo que você tem cicatrizes novas. Foram feitas quando? Semana passada? — perguntou de forma sarcástica, dominado pela raiva. — Acho que sim. Não estava contando os dias. — disse, pegando novamente a sua bebida. Jin não esperava uma resposta, mas o fato de Hideo ter respondido mostrava que o seu amigo sofrera mais do que ele imaginava durante todos aqueles anos. — Me deixa acabar com isso? — disse, sentando-se em frente a ele novamente. — Vou lá, dou um tiro nele e pronto, tudo isso acaba. Hideo sorriu com as palavras do amigo. Reconhecia que Jin era corajoso e não se preocupava com as consequências do que faria. Mas Hideo se preocupava, e não condenaria o amigo à morte por causa de suas cicatrizes. Afinal, elas eram bem mais profundas do que as marcas na pele. — Não vou fazer isso, Jin. A minha mãe o ama, apesar de ele ser um grande canalha, e não a deixarei triste. — disse, erguendo os olhos e encarando o amigo. — Mas sou grato por ter alguém ao meu lado que estaria disposto a perder a vida por mim. — Somos praticamente irmãos, Hideo. Você é minha família, e não há nada que eu não faria para te ver bem. — respondeu ele, mais relaxado.
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