Não houve aviso. Não houve negociação. Os motores rugiram até estacionarem bruscamente no pátio central, sob os olhares surpresos dos guardas da entrada. Homens da Fênix, de Yuki e Matteo desceram dos carros em sincronia, armados, determinados — uma força silenciosa, mas com a fúria do trovão à flor da pele.
Ricardo foi o último a descer, os olhos frios como aço temperado. Yuki o acompanhava, já instruindo dois homens para se espalharem pelo perímetro.
— Localizem o galpão. Rápido. — disse Yuki com voz firme.
A mansão estava quieta demais, como se todos tivessem prendido a respiração ao pressentirem que algo fora do controle havia chegado. Os soldados que guardavam os portões assistiam a tudo sem reação — podiam ver que não conseguiriam lidar com as pessoas que entravam na mansão.
Ao contornarem os jardins e corredores externos, encontraram o galpão. Havia um corpo caído próximo à entrada de ferro: era Jin, o braço direito de Hideo.
— Jin?! — exclamou um dos homens da Fênix, correndo até ele.
Estava ferido, o rosto com hematomas, o uniforme rasgado e o braço algemado a uma argola de ferro cravada no chão de pedra.
— Eu... eu tentei... — murmurou Jin, cuspindo sangue. — Eles iam... iam machucar o Hideo. Tentei impedir, mas... me pegaram por trás... disseram que era ordem direta de Haruki...
Ricardo se agachou diante dele, e sua expressão se tornou ainda mais tensa.
— Onde ele está?
— Lá dentro... trancado... — respondeu Jin com dificuldade.
Enquanto um dos homens soltava Jin das algemas e Charles tratava de estancar os seus ferimentos, Ricardo se levantou e se voltou para o galpão. Bateu com força na porta de ferro.
— Abram. Agora! — Sua paciência tinha acabado.
Do outro lado, houve murmúrios apressados, correria. O trinco rangeu e a porta se abriu parcialmente. Quatro soldados de Haruki surgiram à vista, pálidos ao reconhecerem as pessoas à sua frente.
Eles ergueram as mãos em sinal de rendição. Não havia nada que eles pudessem fazer naquele momento.
— Esperem... nós não vamos resistir! — disse um deles, a voz firme, mas carregada de tensão. — Só estávamos cumprindo ordens do Don. Não temos prazer em fazer isso... especialmente com o herdeiro da Yakuza.
— Então por que não se recusaram? — disparou Yuki com frieza.
— Porque recusas aqui... custam a vida. — respondeu outro, desviando o olhar, envergonhado. — Mas se estão aqui para tirá-lo... não vamos impedir.
Ricardo avançou sem hesitar, os homens da Fênix abrindo caminho.
— A partir de agora, qualquer ordem do Don contra o próprio sangue está revogada. Se alguém tentar impedir o que estamos prestes a fazer, será tratado como inimigo. — disse, encarando cada um dos soldados nos olhos.
Eles abaixaram as cabeças em respeito, afastando-se da entrada do galpão.
— Ele está no fundo... — murmurou um deles. — Trancado... desde a manhã.
Ricardo trocou um olhar com Yuki.
— Vamos buscá-lo. — disse Ricardo, caminhando a passos largos. Quando chegou à última cela, arfou com a cena à sua frente.
— Podem levá-lo. E se certifiquem de que ele nunca mais volte para esse lugar amaldiçoado. — disse Shiro, abrindo a porta da cela e soltando as algemas de Hideo.
— Pode contar com isso. — disse Nico, com olhos sombrios, ao ajudar a segurar Hideo.
As feridas que viam abertas nas costas de Hideo eram algo que jamais esqueceriam. Eram profundas, como se tivessem arrancado pedaços de sua carne com uma faca. A tatuagem da Fênix, que ele havia feito anos atrás ao se juntar a Ricardo, estava completamente arruinada.
— Mas que merda! — praguejou Aurélio ao ver as costas de Hideo. Ele olhou para Shiro e caminhou a passos rápidos, agarrando o homem pelo colarinho. — Eu devia te dar um tiro por fazer isso!
— Não vou te impedir se quiser fazer. Sei que vai doer bem menos do que ver o que fiz com ele. — disse Shiro, com olhos apagados, encarando Aurélio.
Aurélio soltou Shiro, ainda praguejando. Via a culpa no homem e como ele estava se consumindo com o que tinha feito.
— Vamos logo, ele precisa de ajuda. — disse Ricardo, ajudando Nico a levar Hideo para fora.
— Vou ligar para o médico e pedir que ele venha. — disse Matteo, que tinha se mantido em silêncio até aquele momento.
Assim que saíram do galpão, depararam-se com Haruki parado à frente deles. Os homens da Fênix e os de Haruki estavam em um impasse, armas apontadas uns para os outros. Ricardo deixou Hideo com Nico e Aurélio e se aproximou, enquanto os seus homens abriam caminho.
— Não pensei que o líder da Fênix fosse um invasor de propriedade. — disse Haruki, com olhos sombrios.
— Só quando é algo que diz respeito à minha família. — respondeu Ricardo, sustentando o olhar de Haruki.
— E desde quando a forma como disciplino o meu filho tem a ver com você, Ricardo Augustini? — disse ele com desdém.
— Desde que o seu filho foi batizado na minha família. Ele é um Fênix agora, você querendo ou não. E jamais vou permitir que você toque nele novamente. — disse Ricardo, dando um passo à frente.
— E como você pensa que vai me impedir? — perguntou Haruki.
— Acho que você se esquece que me deve, Haruki. — disse Ricardo, com um sorriso de canto.
Haruki travou no lugar ao ouvir as palavras de Ricardo. Lembrava-se bem dos eventos de anos atrás, quando Ricardo lhe dera uma informação crucial — a chave para salvar o seu filho Sora das mãos de terroristas.
— Não me esqueci. Mas, até onde me lembro, o trato era para ajudá-lo com um dos seus inimigos. — disse ele, com os dentes trincados.
— E é exatamente isso que você representa para mim agora: um inimigo. — Não havia qualquer hesitação nas palavras de Ricardo ao dizer aquilo. Haruki, naquele momento, representava tudo o que ele mais odiava.