Capítulo 80

1001 Words
Não houve aviso. Não houve negociação. Os motores rugiram até estacionarem bruscamente no pátio central, sob os olhares surpresos dos guardas da entrada. Homens da Fênix, de Yuki e Matteo desceram dos carros em sincronia, armados, determinados — uma força silenciosa, mas com a fúria do trovão à flor da pele. Ricardo foi o último a descer, os olhos frios como aço temperado. Yuki o acompanhava, já instruindo dois homens para se espalharem pelo perímetro. — Localizem o galpão. Rápido. — disse Yuki com voz firme. A mansão estava quieta demais, como se todos tivessem prendido a respiração ao pressentirem que algo fora do controle havia chegado. Os soldados que guardavam os portões assistiam a tudo sem reação — podiam ver que não conseguiriam lidar com as pessoas que entravam na mansão. Ao contornarem os jardins e corredores externos, encontraram o galpão. Havia um corpo caído próximo à entrada de ferro: era Jin, o braço direito de Hideo. — Jin?! — exclamou um dos homens da Fênix, correndo até ele. Estava ferido, o rosto com hematomas, o uniforme rasgado e o braço algemado a uma argola de ferro cravada no chão de pedra. — Eu... eu tentei... — murmurou Jin, cuspindo sangue. — Eles iam... iam machucar o Hideo. Tentei impedir, mas... me pegaram por trás... disseram que era ordem direta de Haruki... Ricardo se agachou diante dele, e sua expressão se tornou ainda mais tensa. — Onde ele está? — Lá dentro... trancado... — respondeu Jin com dificuldade. Enquanto um dos homens soltava Jin das algemas e Charles tratava de estancar os seus ferimentos, Ricardo se levantou e se voltou para o galpão. Bateu com força na porta de ferro. — Abram. Agora! — Sua paciência tinha acabado. Do outro lado, houve murmúrios apressados, correria. O trinco rangeu e a porta se abriu parcialmente. Quatro soldados de Haruki surgiram à vista, pálidos ao reconhecerem as pessoas à sua frente. Eles ergueram as mãos em sinal de rendição. Não havia nada que eles pudessem fazer naquele momento. — Esperem... nós não vamos resistir! — disse um deles, a voz firme, mas carregada de tensão. — Só estávamos cumprindo ordens do Don. Não temos prazer em fazer isso... especialmente com o herdeiro da Yakuza. — Então por que não se recusaram? — disparou Yuki com frieza. — Porque recusas aqui... custam a vida. — respondeu outro, desviando o olhar, envergonhado. — Mas se estão aqui para tirá-lo... não vamos impedir. Ricardo avançou sem hesitar, os homens da Fênix abrindo caminho. — A partir de agora, qualquer ordem do Don contra o próprio sangue está revogada. Se alguém tentar impedir o que estamos prestes a fazer, será tratado como inimigo. — disse, encarando cada um dos soldados nos olhos. Eles abaixaram as cabeças em respeito, afastando-se da entrada do galpão. — Ele está no fundo... — murmurou um deles. — Trancado... desde a manhã. Ricardo trocou um olhar com Yuki. — Vamos buscá-lo. — disse Ricardo, caminhando a passos largos. Quando chegou à última cela, arfou com a cena à sua frente. — Podem levá-lo. E se certifiquem de que ele nunca mais volte para esse lugar amaldiçoado. — disse Shiro, abrindo a porta da cela e soltando as algemas de Hideo. — Pode contar com isso. — disse Nico, com olhos sombrios, ao ajudar a segurar Hideo. As feridas que viam abertas nas costas de Hideo eram algo que jamais esqueceriam. Eram profundas, como se tivessem arrancado pedaços de sua carne com uma faca. A tatuagem da Fênix, que ele havia feito anos atrás ao se juntar a Ricardo, estava completamente arruinada. — Mas que merda! — praguejou Aurélio ao ver as costas de Hideo. Ele olhou para Shiro e caminhou a passos rápidos, agarrando o homem pelo colarinho. — Eu devia te dar um tiro por fazer isso! — Não vou te impedir se quiser fazer. Sei que vai doer bem menos do que ver o que fiz com ele. — disse Shiro, com olhos apagados, encarando Aurélio. Aurélio soltou Shiro, ainda praguejando. Via a culpa no homem e como ele estava se consumindo com o que tinha feito. — Vamos logo, ele precisa de ajuda. — disse Ricardo, ajudando Nico a levar Hideo para fora. — Vou ligar para o médico e pedir que ele venha. — disse Matteo, que tinha se mantido em silêncio até aquele momento. Assim que saíram do galpão, depararam-se com Haruki parado à frente deles. Os homens da Fênix e os de Haruki estavam em um impasse, armas apontadas uns para os outros. Ricardo deixou Hideo com Nico e Aurélio e se aproximou, enquanto os seus homens abriam caminho. — Não pensei que o líder da Fênix fosse um invasor de propriedade. — disse Haruki, com olhos sombrios. — Só quando é algo que diz respeito à minha família. — respondeu Ricardo, sustentando o olhar de Haruki. — E desde quando a forma como disciplino o meu filho tem a ver com você, Ricardo Augustini? — disse ele com desdém. — Desde que o seu filho foi batizado na minha família. Ele é um Fênix agora, você querendo ou não. E jamais vou permitir que você toque nele novamente. — disse Ricardo, dando um passo à frente. — E como você pensa que vai me impedir? — perguntou Haruki. — Acho que você se esquece que me deve, Haruki. — disse Ricardo, com um sorriso de canto. Haruki travou no lugar ao ouvir as palavras de Ricardo. Lembrava-se bem dos eventos de anos atrás, quando Ricardo lhe dera uma informação crucial — a chave para salvar o seu filho Sora das mãos de terroristas. — Não me esqueci. Mas, até onde me lembro, o trato era para ajudá-lo com um dos seus inimigos. — disse ele, com os dentes trincados. — E é exatamente isso que você representa para mim agora: um inimigo. — Não havia qualquer hesitação nas palavras de Ricardo ao dizer aquilo. Haruki, naquele momento, representava tudo o que ele mais odiava.
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