A luz suave da manhã entrava pelas frestas da cortina, tingindo o quarto de dourado. Hideo dormia profundamente, com o braço firmemente enlaçado em torno de Sayuri, o rosto enterrado nos cabelos dela, respirando como se finalmente tivesse encontrado paz. O cheiro de Sayuri invadia os sentidos de Hideo lhe dando a tranquilidade que ele sempre precisava.
Sayuri desperta lentamente se sentindo estranha, sua mente nublada pelo sono. Ela apenas se lembrava vagamente de estar no cinema com Matteo o resto era um grande borrão.
Quando abriu os olhos, demorou alguns segundos a perceber onde estava. O teto era estranho. As paredes não eram as do seu quarto. O colchão era macio demais. E... havia um braço sobre ela. O coração de Sayuri dispara e os seus instintos entram em ação.
Levantou-se num pulo.
— MAS O QUE—?! — começou, o olhar varrendo o quarto até pousar no rosto de Hideo, que agora se mexia lentamente, ainda meio zonzo de sono.
Os olhos dele encontraram os dela. E nesse exato instante, a ficha caiu.
— BOM DIA, FLOR DO DIA... — disse ele, com um sorriso torto, ainda meio grogue.
— HIDEO?! — gritou ela, recuando um passo, como se ele fosse uma miragem.
Num reflexo automático, Sayuri cerrou o punho e deu um soco direto no rosto dele, que nem teve tempo de reagir. Hideo voou da cama, enrolado no lençol, aterrando no chão com um baque seco e um gemido:
— Mas que merda! O meu nariz!
Sayuri, de pé sobre o colchão, olhos arregalados e o peito arfando, parecia uma guerreira em alerta total. Agora que ela via Hideo caído no chão com a mão no nariz que ela percebia finalmente o que tinha feito, o desespero e vergonha invadem o seu rosto assim como a confusão com tudo aquilo.
— Você me sequestrou?! Me trouxe para sua casa?! Seu tarado! — Grita ela com os olhos em fúria sobre ele.
— Eu apenas te trouxe para descansar! — gritou ele do chão, com uma mão no nariz e a outra a tentar se desenrolar do lençol. — E é assim que me agradece?!
— Seu maluco! Como eu ia adivinhar que era você!? — Diz ela furiosa com a resposta dele.
— Pelo menos foi simétrico... a sua mão é tão pesada quanto o seu coração!
Sayuri arqueou uma sobrancelha e atirou-lhe uma almofada. Ele aparou no ar, com um sorriso de canto de boca.
— Se queria tanto dormir na minha cama, podia ter pedido com jeitinho... — Responde ele com um sorriso de canto. Por um segundo os olhos de Sayuri param naquele sorriso que curvava os lábios dele, mas as palavras de Hideo a trazem de volta.
— Na sua cama?! HIDEO, Eu nem sei como vim parar aqui!
— É você que está em cima da cama, Sayuri. Eu é que fui parar no chão. — rebateu, finalmente conseguindo levantar-se com alguma dignidade. — Podia ao menos ser um pouco mais compreensível e grata por minha ajuda.
— Eu não vou te agradecer! Devia ter sido o Matteo a ter me levado para casa. — Diz cruzando os braços.
A raiva de Hideo se acende ao ouvir o nome de Matteo, ele se levanta e se joga sobre Sayuri a derrubando em sua cama, a suas mãos segurando com força as delas enquanto os seus olhos a observavam como duas chamas de fogo ardentes.
— Não ouse pronunciar o nome daquele i****a na minha casa Sayuri! Você é minha! — Diz ele antes de capturar os lábios dela em um beijo ardente.
Antes que as coisas esquentasse entre eles, a porta do quarto foi escancarada com um estrondo que quase a arrancou das dobradiças. Hideo solta Sayuri rapidamente pegando a arma que tinha de baixo do travesseiro.
— HIDEO! Está tudo bem? Eu ouvi gritos. — Jin surgiu à porta com uma pistola em punho, o cabelo desgrenhado, e uma expressão de puro pânico no rosto.
Sayuri aproveitou aquele momento para sair da cama, enquanto Hideo, ainda de roupas de dormir e com o nariz meio inchado, levantava as mãos.
— Jin! Abaixe essa arma! E o que faz no meu apartamento tão sedo? — Pergunta se levantando.
Jin observa o rosto de Hideo com confusão. ELe podia ver o quanto o nariz do amigo estava vermelho e levemente inchado.
— Mas... o que... — os olhos dele foram de Hideo a Sayuri, depois para o hematoma no rosto de Hideo. — Ela bateu-te?!
— Sim. — responderam ambos ao mesmo tempo, um com resignação, a outra com orgulho.
Jin piscou várias vezes, como se o cérebro estivesse a reiniciar. Ele não imaginava que quando retornasse para a casa do seu chefe fosse o encontrar machucado.
— Então... não há invasores? — Pergunta um pouco constrangido.
— Não, só a Sayuri com punhos de ferro e reflexos assassinos. — murmurou Hideo, massajando o nariz. Sayuri atirou-lhe uma almofada.
— Isso é o que você ganha por sequestrar alguém. — Diz ela de forma ríspida.
— Bem... — disse Jin, finalmente baixando a arma. — ...eu só queria ter certeza que não tinha sido morto no sono. Pelo visto você foi quase morto, mas acordado.
Hideo suspirou, sentando-se à beira da cama. ELe podia ver Jin com a mão na boca tentando conter o riso que o tomava.
— Jin, por favor... vai fazer o café. E não traga mais arma para o meu quarto.
— Está bem, está bem... Mas da próxima vez, avisa quando for dormir com uma ninja histérica. — Sayuri ergueu uma sobrancelha ameaçadora. Jin recuou um passo.
— Com todo o respeito, claro... — Diz ele com um sorriso sem graça enquanto fugia do quarto.
Ele desapareceu pelo corredor, as mãos passando pelos cabelos em desordem e murmurando algo sobre “precisar de terapia”.
Sayuri olhou para Hideo.
— Isto acontece sempre com você? — Pergunta Sayuri ao ver a reação de Jin.
— Não. Ele que está sendo dramático. — Diz dando de ombros. Sayuri apenas revira os olhos para ele enquanto deixa o quarto.