A música vibrava no salão com intensidade, e o brilho das luzes coloridas refletia nos rostos animados dos convidados. Porém, Lyo mantinha-se afastada, observando tudo da sacada do segundo andar. Os seus olhos estavam fixos em Sayuri, que conversava com algumas pessoas, ainda visivelmente irritada com o episódio anterior. Lyo segurava uma taça, mas não bebia. A sua mente trabalhava com precisão calculada.
Então, um homem se aproximou dela, discreto como uma sombra. Não disse uma palavra — apenas colocou um pequeno frasco em sua mão. Ela o escondeu rapidamente no bolso do vestido. Tinha visto tudo: a pequena cena que Sayuri causara lá embaixo, e sua raiva havia crescido.
— O bastante para atordoá-la, nada mais. — murmurou ele antes de se afastar.
Lyo desceu as escadas com leveza. Caminhou em direção a Sayuri com um sorriso forçado, carregando duas taças de champanhe. Quando se aproximou, Sayuri ergueu uma sobrancelha, surpresa com a ousadia.
— Vim em paz. — disse Lyo, estendendo-lhe uma das taças. — Esquece o que aconteceu entre nós aqueles dias, ok? Isso é só... um brinde entre mulheres que deviam estar do mesmo lado.
Sayuri hesitou, mas aceitou a bebida. Estava exausta demais para mais uma discussão. Levou a taça aos lábios e bebeu. Em poucos minutos, os efeitos começaram a se manifestar. Seu olhar tornava-se turvo, os passos incertos.
— Está tudo bem? — perguntou Lyo com falsa preocupação. — Você parece... fraca.
Sayuri tentou falar, mas as palavras saíram desconexas. Lyo a amparou com delicadeza, fingindo preocupação, e a levou discretamente para o segundo andar, afastando olhares curiosos. Entrou em um quarto reservado e deitou-a sobre a cama. Sayuri já estava inconsciente.
Lyo sorriu com satisfação, retirando o telefone da bolsa. Discou um número e, ao ouvir a voz do outro lado, disse:
— Está feito. Sayuri está pronta para responder às suas perguntas... do jeito que quiser, Masato.
Desligou com um suspiro vitorioso, mas, assim que guardou o telefone, ouviu um som vindo da cama. Virou-se com o coração acelerado.
Sayuri estava sentada, os olhos vívidos e alerta. Na mão, apontava uma arma diretamente para Lyo.
— Está pronta para responder às minhas, você. — disse Sayuri, fria como aço. Ela não era uma criança para cair nas brincadeiras de Lyo. Assim que tomou a bebida, percebeu que havia algo errado e, usando o outro copo em sua mão, cuspiu o líquido sem que Lyo percebesse.
O silêncio que se seguiu era cortante. Lyo deu um passo para trás, o sangue fugindo do rosto.
— Mas... você...
— Acha que eu ia cair nessa tão fácil? — interrompeu Sayuri. — Eu sabia que tinha algo errado quando você apareceu sorrindo.
Lyo estava encurralada. O jogo havia mudado. E Sayuri agora tinha o controle.
— Eu não sei do que está falando. — disse ela, recuando alguns passos em direção à porta do quarto.
— Acho que sabe, sim. — disse Sayuri, levantando-se e caminhando a passos lentos até ela. — Me diga, Lyo, o que pretendia com esse seu joguinho? Se é resposta que quer, eu posso te dar, mas não sem um preço.
Lyo não conhecia aquele lado de Sayuri. Já tinha ouvido falar que ela liderava um grupo de mercenários no mercado n***o, mas nunca imaginou que um dia estaria em sua mira.
— Já disse que não sei do que está falando. — insistiu ela, tremendo. Apenas lembrar-se do que Sayuri havia feito com ela a fazia tremer.
— Eu admiro essa sua coragem, Lyo. Até parece que não sabe o que vai acontecer se não abrir a boca. — disse ela, dando um chute na perna de Lyo, derrubando-a no chão.
— Por favor, Sayuri! Você estava passando m*l, eu estava apenas te ajudando. — disse ela, chorando.
— Contou tantas mentiras que passou a acreditar nelas, Lyo? — perguntou Sayuri com um sorriso de canto. — Eu devia cortar a sua língua por ousar armar para mim.
Os olhos de Lyo se arregalaram ao ver Sayuri puxar uma pequena faca e se aproximar de seu rosto.
— Não! Por favor, não! — disse ela, encolhendo-se.
Sayuri olhou para Lyo com nojo, mas tinha outras coisas a fazer.
— Saia da minha frente antes que eu mude de ideia. — disse Sayuri, olhando-a com firmeza.
Sem dizer uma palavra, Lyo correu para fora do quarto, temendo que Sayuri viesse atrás dela. Sayuri pegou o seu telefone e selecionou um contato, fazendo uma ligação.
— Olá, senhorita. Do que precisa? — perguntou a voz do outro lado da linha.
— Vou mandar os dados de uma pessoa para você, Júlia. E preciso que a monitore, principalmente as suas chamadas telefônicas. — Sayuri não era tola para acreditar no que Lyo havia dito, e faria questão de verificar pessoalmente aquela história.
— Vou cuidar disso, senhorita. Em breve te aviso como anda nossa investigação.
— Faça isso. — disse Sayuri, desligando.
Assim que Sayuri desceu, não encontrou mais Lyo em lugar nenhum. Ao olhar para o canto, viu Hideo conversando com algumas mulheres na festa, mas elas mantinham uma distância aceitável dele, o que fez um sorriso curvar os seus lábios.
— Não leve a m*l o que ele fez. — Ao ouvir aquela voz, Sayuri se virou, encontrando os olhos atentos de Jin.
— Veio defender a honra do seu amigo? — disse ela com deboche.
— Sempre o defenderei, senhorita Sayuri. Cresci com Hideo e conheço um lado dele que poucos terão a chance de ver. — Jin queria que o amigo percebesse a burrada que estava fazendo, mas entendia que Hideo só abriria os olhos por si mesmo.
— Essas pessoas diminuirão ainda mais, já que o seu amigo insiste em se esconder. — Sayuri já tinha visto algumas coisas de Hideo, e aquilo era a única coisa que a fazia insistir.
— As coisas não são como você pensa. — disse Jin. Ele não podia falar demais, apenas torcer para que Sayuri visse por trás das máscaras que o amigo usava.
— Não vou perder o meu tempo falando por enigmas com você. Avise o seu amigo para se comportar. — disse ela, dando um passo em sua direção. — E vai por mim, eu vou saber se ele não fizer isso.
Com uma última olhada em Hideo, Sayuri deixou a festa sem olhar para trás.