O som do motor do carro ecoava na noite silenciosa. Ele avançava lentamente, sacudindo os pensamentos de Masato pelo caminho. A dor em sua perna pulsava quente, um lembrete de seu encontro desastroso com Matteo. O ferimento latejava, uma lembrança c***l do momento em que fora derrotado, não apenas fisicamente, mas também diante de toda a elite que antes o reverenciava.
O seu punho cerrado repousava sobre o banco, os nós dos dedos brancos de tensão. O olhar fixo na escuridão além da janela não via a estrada — via apenas o rosto de Matteo, os olhos frios, o movimento exato da lâmina que cortara a sua carne e o seu orgulho. Aquilo não era apenas um ferimento. Era uma marca. Um lembrete da sua humilhação.
Masato se remexeu, a dor o fazendo grunhir baixo. Ele havia subestimado Sayuri. Subestimado Matteo. E agora, o preço era alto. Sentia-se como um leão ferido: traído por sua própria confiança, enjaulado por sua arrogância.
— Eles vão pagar… — murmurou para si mesmo, a voz rouca, carregada de ódio.
Em sua mente, planos antigos começavam a se desfazer, corroídos pelo fracasso. O que antes parecia engenhoso agora lhe parecia falho. Um plano infantil, movido por vaidade. Mas agora, ele compreendia. Para destruir Sayuri, não bastava tirá-la de cena. Era preciso apagá-la, corpo e alma. Reduzir tudo o que ela representava a cinzas. E Matteo… Matteo pagaria de forma ainda mais lenta, mais dolorosa. Ele não apenas o ferira — o expusera, o ridicularizara, e o preço por ele ter defendido Sayuri seria a morte. Em sua mente nada mais justo do que ambos compartilharem o mesmo destino.
Masato se curvou levemente, apoiando a mão na coxa ensanguentada. O calor que subia pelo seu peito não era apenas febre. Era raiva. Uma raiva pura, ardente, que queimava cada célula do seu corpo como brasas vivas. A sua respiração ficou pesada. Os olhos, antes frios e calculistas, agora cintilavam com um brilho febril.
Ele precisava de um novo plano. Um mais letal. Algo que não desse margem ao erro.
Ao longe, a silhueta de sua mansão surgia, iluminada pela luz trêmula das luninárias dos jardins. A sua fortaleza. O seu covil. Era ali que renasceria — mais c***l, mais impiedoso. A b***a ferida que retornava para lamber suas feridas... e planejar o contra-ataque. Ele sorri ao ver por onde os seus pensamentos o levavam, se perguntando quando tinha se tornado tão dramático daquela forma.
Masato era alguém que não gostava de complicar as coisas, ele desejava que Sayuri morresse e a seu ver aquilo era algo simples, mas o envolvimento de outras pessoas o tinha atrapalhado.
— Isso não acabou, Sayuri… — sussurrou, e um sorriso torto, quase insano, brotou nos seus lábios. — Está apenas começando.
O rangido dos portões ecoou como um lamento quando o carro adentrou os jardins escuros da propriedade. Shun veio ajudá-lo a descer, mas Masato recusou com um gesto brusco. Mancou até a entrada principal com os dentes cerrados, o sangue escorrendo pela calça cara, mas não parou. A dor o mantinha acordado, focado, alimentando o ódio que fervia como veneno nas suas veias.
Ao entrar no seu escritório, dispensou todos com um olhar glacial. Trancou a porta atrás de si e se arrastou até a escrivaninha de mogno. Abriu uma gaveta e retirou um mapa detalhado da cidade, alisando-o sobre a superfície polida. Os seus dedos manchados de sangue marcaram pontos com precisão: o teatro onde Sayuri costumava visitar… a vila onde Matteo fazia negócios quando vinha ao japão… os bastidores que poucos conheciam.
— Preciso tirar dela tudo o que tem valor.
Sentou-se com dificuldade, inspirando fundo. A sua mente, antes cega pela raiva, agora clareava com uma lucidez perigosa. O novo plano não seria imediato. Seria meticuloso. Ele queria que ela visse tudo desmoronar, um tijolo de cada vez, sem entender de onde vinha o ataque.
E para isso, ele precisaria de aliados. Ou melhor… ferramentas. E já sabia quem iria o cupar o lugar que Lyo tinha deixado.
Masato puxou uma segunda gaveta, revelando uma caixa de madeira entalhada. Abriu-a com reverência e retirou um pequeno pergaminho: nomes, endereços, dívidas antigas. Gente que podia ser comprada, manipulada ou ameaçada. Gente suja. Perfeita.
— Se ela pensa que Matteo ou Hideo pode protegê-la, está enganada — disse com frieza, fitando uma velha fotografia de Sayuri sorrindo em um recorte de jornal. — Eles serão os primeiros a cair. Assim que ela os perder, estará vulnerável.
A ideia lhe veio como um sussurro, sedutora. E ele sabia que estava no caminho certo, pois diferente dele, Sayuri tinha um coração e junto com ele a fraqueza que a dominava: as pessoas que ela amava.
E então, o golpe final. Algo digno da sua humilhação.
Sayuri iria desejar estar morta muito antes de o aço de Masato encontrá-la novamente.
Ele se recostou na cadeira, os olhos fixos no vazio, enquanto as sombras da sala pareciam se mover ao seu redor. Ali, no silêncio da madrugada, nascia o verdadeiro monstro.
Quando a perna de Masato doí novamente ele trinca os dentes, estava tão perdido em seus pensamentos deturpados que por um instante tinha se esquecido do seu ferimento.
— Shun! — Grita ele dando um forte soco na mesa. Rapidamente a porta do escritório se abre e o mordomo entra de cabeça baixa, não era louco de olhar nos olhos do seu chefe quando ele estava daquela forma.
— Senhor. — Diz ele.
— Preciso que cuide da minha perna, e seja rápido! — Esbraveja Masato fazendo o mordomo tremer.
— Cuidarei disso senhor. — Diz ele saindo as pressas do escritório, ele retorna segundos depois com uma maleta e uma bacia com água morna.
Com cuidado Shun corta a calça de Masato e aplica uma anestesia local antes de fazer o curativo. Ele já tinha sido medico uma vez na sua vida, mas suas escolhas o fizeram perder tudo, mas ali com Masato ele tinha a chance de ser útil ao seu chefe, e aquilo o agradava.
— Pronto senhor, tome estes medicamentos para a dor e vai se sentir melhor. — Sem responder Masato pega os comprimidos da mão de Shun e toma o dispensando logo em seguida. Queria ficar só com seus pensamentos, planejar seus próximos passos com calma e tranquilidade.