Capítulo 25

1012 Words
Hideo parecia ter tirado um grande peso das costas com a conversa que havia tido com o seu pai, e, naquele momento, a sua mente voltava para o que tinha acontecido mais cedo na casa de Sayuri. O carro avançava sem destino certo, guiado mais pelo piloto automático da sua mente do que pela vontade de ir a algum lugar específico. As luzes da cidade passavam como vultos diante do para-brisa, e ele nem se dava ao trabalho de perceber para onde ia. Hideo Shinoda estava furioso. Mas, acima de tudo, estava frustrado consigo mesmo. Ele não entendia por que havia feito aquilo, por que tinha defendido Sayuri? Mas, no fundo, sabia que jamais permitiria que alguém a humilhasse, e, de certa forma, ficou muito satisfeito ao ver as marcas das suas mãos no rosto de Lyo. Desde que começara aquele noivado arranjado, a sua mente já não lhe pertencia. Ele não desejava continuar com aquilo e via que, quanto mais demorasse, mais Sayuri sofreria no meio da sociedade da máfia — e não era isso que ele queria. Ele não sabia como protegê-la. Não sabia se sentia desejo ou raiva. Não sabia nada — e isso o estava matando por dentro. A vida de Hideo estava um verdadeiro caos. Era como se ele tivesse retornado apenas para resolver problemas que surgiam aos montes a seus pés. Queria fugir novamente, voltar para onde sabia que tudo aquilo era apenas lembranças em sua mente — mas não faria isso. Ele era um Shinoda e tinha um nome e uma reputação a zelar, e era justamente isso que ele estava indo resolver naquele momento. O carro de Hideo estacionou em frente a uma boate badalada no centro. Era ali que muitos negócios ilegais aconteciam. Ele caminhou pelo corredor onde várias salas privadas estavam, indo em direção ao local onde o esperavam. — Vai acabar morrendo assim, meu amigo. — Ao som daquela voz, Hideo se virou depressa, um largo sorriso no rosto. — Jin! — disse ele, abraçando o homem à sua frente. — Não sabe a falta que me fez durante todos esses anos. — Estou vendo. Me desculpe por isso, mas o treinamento levou mais tempo do que eu previa. Queria estar aqui por você mais cedo, mas não pude — disse ele com pesar. Hideo olhava para o amigo, feliz por tê-lo de volta. Eram amigos de infância, haviam estudado juntos e possuíam alguns negócios no submundo. Mas, alguns anos atrás, Jin havia se mudado para treinar com os membros da sua família, e desde então m*l conversavam. Mesmo assim, Hideo estava feliz por ver que a amizade entre eles não havia mudado. — Não me importo com a demora, fico feliz que tenha voltado. — Voltei e estou pronto para assumir o meu lugar ao seu lado — disse ele com os olhos determinados. Jin era bem diferente de Hideo: moreno, mais alto, cabelos antes castanhos agora pintados de branco com as pontas azuis. No lábio inferior, tinha um piercing e um sorriso no rosto ao olhar para o amigo. — Tem certeza disso? Sabe que não precisa — disse Hideo. A família de Jin era muito rica, ele não precisava trabalhar com Hideo. Jin havia sido escolhido anos atrás, quando Hideo deixou claro que não trabalharia com o homem de confiança do seu pai. Desde então, Jin vinha sendo treinado não apenas para cuidar da sua segurança, mas para ser seu braço direito na máfia — seu subchefe. — Sabe que não faço isso por dinheiro. Devo a minha vida a você, e ficarei feliz em trabalhar ao seu lado. — Hideo havia salvado Jin de um acidente quando eram crianças, e Jin jurara que sempre estaria ao seu lado. Hideo não esperava que, mesmo depois de adultos, o amigo ainda mantivesse aquela promessa feita quando eram apenas meninos. — Se você tem certeza, fico feliz por tê-lo ao meu lado novamente. — O que temos para hoje, chefe? — perguntou ele com um sorriso brincalhão no rosto. — Uma reunião que pode não ser tão tranquila quanto imagino. — Hideo sabia que as pessoas que o esperavam na sala em frente eram difíceis de convencer e tinham uma visão muito limitada. Seria complicado fazê-las entender o que ele desejava implementar. — Ainda bem que vim preparado — disse Jin, puxando o casaco e mostrando as armas presas ao coldre. — Acho que não chegaremos a tanto — respondeu Hideo, balançando a cabeça. — Você não conhece esses velhos como eu. Se me irritarem, dou um tiro neles sem pensar duas vezes — disse ele, caminhando ao lado de Hideo em direção à última sala. — A sua função é me impedir de dar um tiro neles, não o contrário. — As coisas mudam, chefe — respondeu, dando um tapinha nas costas de Hideo. Assim que Hideo entrou na sala, todos se voltaram para ele em silêncio. Um homem se levantou e correu até ele, fazendo uma pequena reverência. — Bem-vindo, jovem Shinoda — disse o homem, sorrindo. Hideo percebia que o homem estava eufórico com a sua presença o que apenas fazia com que ele ficasse mais desconfiado do que já estava. — Queriam me ver? — perguntou Hideo, ignorando o cumprimento. Ele não se deixava levar por aparências e sabia que aqueles homens não eram confiáveis. — Sim. Precisamos discutir algumas coisas, e, como sabemos que em breve estará assumindo o lugar do senhor Haruki, seria bom se começasse a entender como tudo funciona — disse o homem. Os olhos de Hideo desviaram para as outras duas pessoas na sala, com desconfiança, mas ele ouviria o que tinham a dizer. — Vou ouvir — disse, fazendo um sorriso se abrir no rosto do homem à sua frente. Jin olhava para Hideo com a sobrancelha arqueada. Ele sabia bem o que se passava na mente do amigo. Aqueles homens não queriam apenas conversar sobre negócios — no mínimo, queriam tirar alguma vantagem daquela reunião. Mas iriam descobrir que ninguém conseguia tirar nada de Hideo tão facilmente quanto pensavam.
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