Assim que Hideo chega em casa, ele corre para o seu quarto. Não queria passar mais tempo fingindo ser algo que não era na presença do pai. Quando entra no seu quarto, ele ouve o telefone tocar e, ao olhar para a tela, um sorriso curva os seus lábios ao ver o nome que brilhava.
— Olá, Oksana. — diz ele, se jogando na cama e gemendo quando a suas costas entram em contato com as cobertas. Ele havia se esquecido do pequeno presente do seu pai.
— Oi, Hideo. Já estava com saudades de você. — diz ela com a voz suave.
— Se o Aurélio te ouve falando isso, ele vem parar aqui atrás de mim. — diz ele rindo. Não importava há quanto tempo estivessem casados, Aurélio continuava um marido ciumento e possessivo.
— Aquele moreno me ama. — diz ela, rindo ao telefone. Hideo gostava de ver aquela alegria de Oksana. Ela era a prova de que o destino era imprevisível.
— É bom mesmo, arranco o couro dele se não cuidar de você direito.
— Sabe que ele cuida, até demais, mas não é por isso que te liguei. — diz ela, mudando o tom de voz, e Hideo já sabia que era algo sério.
— O que houve? — pergunta, sentando-se rapidamente na cama, atento ao que ela diria.
— Descobri mais uma remessa, vai chegar aí amanhã à noite. — Ela não precisava dizer o que era para que ele soubesse. Os dois lutavam contra aquilo há muito tempo e não seria a primeira vez que interceptavam cargas humanas.
— Tudo bem, vou cuidar disso. — diz ele.
— Não mesmo, Hideo. Essa carga é maior que as outras e, infelizmente, eu não posso ir aí te ajudar. Vou conversar com algumas pessoas e te enviar ajuda, vai ser mais seguro. — Se não fosse sua gravidez, Oksana provavelmente já estaria voando para o Japão, mas, na sua situação atual, com quatro meses de gestação de gêmeos, ela não poderia arriscar.
— Não precisa, Oksana. Já fizemos isso milhares de vezes. Sei como as coisas funcionam. — Ele não se preocupava em ser descoberto. O seu objetivo era apenas entrar, neutralizar os soldados e abrir espaço para a polícia cuidar do resto. Seria fácil, no seu ponto de vista.
— Acho que não entendeu, Hideo. A carga é maior, o que significa que a vigilância sobre ela também será. Não vou arriscar a sua vida, vou mandar ajuda. — diz ela.
— Não precisa, Oksana. Posso lidar com isso sozinho e, caso precise de ajuda, tenho um pessoal de confiança aqui que pode me ajudar. Não precisa ficar preocupada. — diz ele.
— Essa teimosia sua é impressionante, sabia? Apenas me prometa que vai se cuidar. Não quero que nada te aconteça. — diz ela com a voz mais suave.
— Nada vai me acontecer. Se esqueceu que estou em uma disputa para padrinho? Tenho que voltar inteiro para levar essa. — diz ele com um sorriso na voz.
— Mas agora tem mais crianças para apadrinhar. — diz ela, rindo ao telefone.
— Sim, mas eles não são seus filhos. Sempre te considerei uma irmãzinha, Oksana, e realmente quero cuidar dos seus filhos.
— Oh! Sabia que você fica uma fofura falando desse jeito? — diz ela, rindo. Hideo revira os olhos com aquelas palavras dela. — Se eu não estivesse grávida, te convidaria para uma cerveja. Precisamos colocar as conversas em dia.
— Isso é verdade, faz tempo que não saímos apenas para uma bebida. — diz ele com um suspiro.
— Não se preocupe. Vou falar com o moreno e marcar um dia para ir aí, nem que seja para eu tomar apenas um suco.
— Faça isso. Vou adorar te ver novamente. — Às vezes, Hideo sentia falta da sua amiga. Oksana era alguém que ele prezava bastante e que sempre lhe dava um pouco de ânimo. Mas, depois do casamento, ela tinha assumido responsabilidades com a máfia de Aurélio, e agora se viam menos do que antes, o que o fazia sentir saudades da bela loira russa.
— Fique bem, Hideo, e me ligue se precisar de algo, está bem?
— Farei isso. Dá um tapa na cabeça do Aurélio por mim. — diz ele, brincando.
— Pode deixar. — responde ela, rindo antes de desligar.
Hideo olhava para o telefone, rindo, sem perceber que a sua mãe estava na porta o observando com uma bandeja nas mãos.
— Ainda não me conformo que não se casou com ela. — diz Mei, colocando a bandeja na mesinha e lhe entregando uma xícara de chá.
— Oksana é realmente maravilhosa, mãe, e está muito feliz com o louco do Aurélio. Eles vão ter mais dois filhos, ela está grávida de gêmeos novamente. — diz ele, vendo os olhos da mãe se arregalarem.
— Meu Deus! Don Aurélio deseja mesmo criar um exército. — Hideo ri com as palavras da mãe.
— Precisa ver ele em família, mamãe. Aquele maluco é louco pelos filhos e por Oksana. — Mei podia ver o carinho com que o filho falava dos amigos. Ela gostava quando Hideo desaparecia por um tempo; ele sempre voltava mais leve, mais feliz.
— Querido, sei que não quer falar sobre isso, mas precisamos. — diz ela com a voz mais tranquila, tocando na mão dele. Hideo trava. Sabia bem do que a sua mãe estava falando, assim como sabia que o seu pai só não o tinha lembrado daquilo ainda por causa da surra do dia anterior.
— Eu não quero isso, mamãe. Não quero ela. — diz ele, frustrado, colocando a sua xícara de volta na bandeja.
— Ela é adorável, querido. Vai se dar muito bem com ela. Devia lhe dar uma chance. — Os olhos de Mei eram suaves enquanto observava o filho andar de um lado para o outro do quarto.
— Você sabia que aquela maluca anda me perseguindo, mamãe? — pergunta ele, parando. Mei olha para o filho e começa a rir. Ela adorava aquela personalidade de Sayuri e sabia que, para domar o seu filho, a pequena teria que ter pulso firme.