Hideo observava com uma carranca sua mãe rir às suas custas. No fundo, ele gostava de ouvir o riso tranquilo dela, mas não gostava de saber que era por causa de sua noiva e das perseguições incansáveis dela.
— Não ria, mamãe, é sério. — diz ele, sentando-se na beirada da cama.
— Eu sei, mas sempre que penso que o meu filho adulto está fugindo de uma menina que m*l alcança o seu peito, não consigo segurar o riso.
— Não quero nada com ela, e enquanto eu puder evitar esse compromisso, eu vou tentar. — diz, emburrado.
— Você nem a conheceu, meu filho. Sayuri é incrível e uma mulher muito bonita. — diz Mei com um sorriso sugestivo.
— Desde quando passou a aceitá-la? Você sempre perseguiu as minhas pretendentes. — diz ele, arqueando a sobrancelha.
— Tenho um bom pressentimento sobre ela. — responde Mei, sorrindo. Ela realmente tinha terminado com vários compromissos que Haruki havia arrumado para Hideo, mas desta vez era diferente. Mei podia ver nos olhos da menina o mesmo brilho que via nos olhos do filho, e sabia que os dois se dariam bem no futuro.
— Eu não quero um casamento de conveniência, mãe. Queria me casar com alguém que eu realmente amasse. — Mei sabia o que se passava na cabeça do filho, e aquilo apenas a deixava aflita. Ela se levanta e senta-se ao lado dele, na beirada da cama, segurando as suas mãos.
— Você não é ele, Hideo. Sei que, independente da pessoa com quem se casar, você vai tratá-la com respeito e dignidade. — Mei sabia que o seu filho tinha um lado doce que poucas pessoas conheciam, e aquela era a diferença entre ele e os outros homens que ela conhecia.
— Por que ainda está com ele, mamãe? Você merece alguém melhor.
Um sorriso triste curva os lábios de Mei. Apesar de o filho já ser adulto, ele conhecia bem pouco da vida, e havia certas coisas que ela sabia que ele só entenderia se experimentasse — não que ela desejasse a mesma vida que tinha para ele.
— Nem sempre ele foi assim, Hideo. Seu pai era gentil e caloroso. Sempre me tratou com amor e cuidado, e por mais que ele tenha errado, eu não posso desmerecer o cuidado que ele tem comigo. — Mei conhecia bem o marido que tinha e, por mais que Haruki aprontasse, ele sempre a tratara com carinho, e era isso que, para ela, compensava os anos ao lado dele, mesmo sabendo que ele já não a amava mais.
— Nunca vou entender isso. — diz ele, balançando a cabeça enquanto passa o braço sobre os ombros da mãe.
— Não tente entender, meu filho, apenas respeite a minha decisão. — diz ela com voz tranquila.
— Eu vou tentar, mamãe, mas a próxima que aparecer na nossa porta para te desaforar será a última. — diz ele com um tom cortante na voz. O seu pai não se preocupava em silenciar as amantes, mas ele cuidaria disso.
— Meu pequeno guerreiro, sempre pronto para me defender. — diz ela, sorrindo com carinho. Hideo sempre fora assim desde pequeno. Quando começou a entender o que acontecia à sua volta, mudou — e Haruki nunca mais conseguiu alcançá-lo.
— Você é o que eu tenho de mais precioso, mamãe. Vou sempre cuidar de você. — diz ele, beijando a sua testa.
Mei parte logo após fazer outro curativo nas costas de Hideo — algo pelo qual ele estava grato, já que teria dificuldade em alcançar os lugares certos. Hideo olhava para as paredes do quarto, perguntando-se por que não estava no seu apartamento naquele momento. Ele quase não vinha mais para casa, e o apartamento no centro tornara-se o seu lar. Mas sempre que se lembrava dos cuidados da mãe, percebia que ela era a razão para ele sempre retornar àquela casa que só lhe causava dor.
Com um suspiro, Hideo resolve descansar. Já pretendia partir após a missão do dia seguinte, antes que Sayuri o encontrasse — embora ele duvidasse que ela já não soubesse de sua presença. Havia algo na forma como Sayuri o seguia que o deixava intrigado. A menina era como uma verdadeira espiã, seguindo cada um dos seus passos. Na última vez que ele esteve na casa de Max fugindo dela, o seu amigo recebeu, semanas depois, um presente de casamento da parte dela e um pedido de agradecimento por tê-lo hospedado por tanto tempo.
No fundo, Hideo não sabia o que fazer com ela. A sua única certeza era que não desejava se casar com Sayuri e faria de tudo para impedir que isso acontecesse — nem que precisasse se embrenhar nas florestas brasileiras para fugir dela. Ricardo já tinha um pessoal treinando lá; seria fácil conseguir ir junto.
Hideo acorda no outro dia sentindo todo o seu corpo doer. Quando olha no relógio, percebe que ainda eram cinco da manhã. Levanta-se, toma um dos comprimidos que a sua mãe lhe deu, toma um banho e desce para o salão de treino. Ao menos poderia treinar um pouco para passar o tempo.
Com a sua espada nas mãos, entra no salão, encontrando um dos líderes dos soldados de seu pai treinando também. Um sorriso curva os seus lábios ao ver de quem se tratava.
— Está ficando velho e perdendo o sono, Shiro? — pergunta Hideo, aproximando-se dele.
— Quase isso, jovem senhor. — diz ele, fazendo uma pequena reverência. — Soube que o seu retorno terminou, mais uma vez, em comoção.
— Você me conhece. Se não for para dar dor de cabeça ao velho, não teria motivos para retornar. — diz ele em tom de brincadeira, mas o homem à sua frente podia ver a verdade estampada nos seus olhos.
— Lamento que isso tenha acontecido mais uma vez. — responde ele, com os olhos baixos.
— O que está feito, está feito, Shiro. Não podemos mudar. — diz com um suspiro.
— Estou vendo que trouxe companhia. — diz ele, apontando para a espada nas mãos de Hideo. — O que acha de uma luta?
— Achei que não fosse me convidar, mestre. — diz ele, fazendo o soldado rir. Shiro havia sido o primeiro professor de Hideo nas artes da luta, e ele tinha profundo apreço pelo homem à sua frente.