Capítulo 74

1012 Words
O sol ainda m*l havia rompido o céu quando Haruki Shinoda, pai de Hideo, atravessou os portões da residência Matsumoto. Vestia-se com sobriedade — um terno escuro e a expressão de quem carregava o peso de séculos de honra familiar. Os criados recuaram ao vê-lo, reconhecendo imediatamente o poder e a tensão que o envolviam como uma nuvem. Ele havia ficado furioso no dia anterior, ao saber que a sua futura nora tinha sido ameaçada por um dos aliados, mesmo estando sob a proteção da sua casa e da sua organização. Sabia que a família Matsumoto provavelmente estava à beira de cometer algo terrível, e precisava evitar aquilo se quisesse manter a paz entre as organizações. O pai de Sayuri o recebeu com frieza contida. Estava aflito ao saber do que havia acontecido com a sua filha. Por sorte, Kyota havia treinado bem Sayuri e sabia que ela estaria segura agora que tinham ajuda com a sua proteção. Após o chá servido por Hana, que mantinha os olhos fixos no homem à sua frente, a conversa começou — cortante como aço forjado. — Vim pedir perdão — disse Haruki, curvando-se. — O que aconteceu com Sayuri é inadmissível. Prometo que lidarei com Masato pessoalmente. Ela estará segura. Dou-lhe a minha palavra como homem e como pai. Kyota manteve o olhar fixo, analisando-o como se pudesse ver a alma por trás da voz firme. O silêncio entre eles durou longos segundos. Ele conhecia bem a honra de Haruki e não poderia negar isso. O líder da Yakuza tinha um nome forte, e a suas palavras eram sinal de honra e lealdade. Mas naquele momento falavam da sua filha, e isso tinha um peso diferente para Kyota. — A palavra de um Shinoda pesa muito, mas não apaga o sangue que quase foi derramado — respondeu por fim. — Se algo acontecer novamente com a minha filha, não será apenas uma conversa que resolverá. Haruki tensionou o maxilar ao ouvir as palavras de Kyota, mas sabia bem o que se sente ao ter um filho em perigo. Sabia também o quanto o homem à sua frente amava a própria família. Assim, decidiu ignorar as palavras ácidas; ele mesmo reconhecia as suas falhas naquele assunto — algo que pretendia corrigir. Apesar da tensão, ambos sabiam que um acordo era necessário. Com relutância, e após uma troca de olhares entre Kyota e Hana, selaram a promessa: nenhuma represália, desde que a segurança dela fosse garantida. — Eu concordo, desde que ninguém mais ouse tocar em minha filha. Ela já sofreu demais, Haruki. Não merece passar por mais essa situação. — Os olhos de Kyota não deixavam margem à dúvida. A suas palavras eram duras como o ferro, deixando claras suas intenções. — Tem a minha palavra. Sayuri será de minha família em breve, e vou garantir que ninguém toque nela — disse, fazendo uma reverência diante de Kyota como sinal da sua sinceridade. Ao sair, Haruki encontrou Hideo à sua espera, parado como uma estátua sob a cerejeira do jardim. Os seus olhos buscavam respostas — ou talvez o fim das mentiras. Ele não queria discutir logo cedo com o pai, mas precisava saber o que ele estava fazendo em relação a Masato. É claro que não diria ao pai que estava investigando o homem em segredo — e nem precisava. Haruki conhecia o filho e sabia bem do que ele era capaz. — Vem comigo — disse o pai. — Está na hora de escutar a verdade da boca de Masato. — Aquilo não era algo que Hideo esperava ouvir, mas pela forma como os olhos do pai estavam escurecidos, percebeu que as ações do aliado não haviam agradado a ele também. Haruki queria poder matar Masato com as próprias mãos pelo que tinha sido forçado a fazer. Ele, o grande líder da Yakuza, sendo obrigado a pedir perdão e se curvar diante de alguém inferior, apenas porque um dos seus não soube respeitar as regras. Aquilo teria punição. Por mais que gostasse de Masato, teria de lidar com ele da forma correta para não irritar outras organizações. No caminho, o silêncio entre pai e filho era mais pesado do que palavras jamais conseguiriam carregar. Aquele evento parecia ter acabado com a pouca paz que ainda existia entre os dois. Chegaram ao local combinado — um templo nos arredores da cidade, onde apenas o som dos corvos ousava quebrar a quietude. Hideo bufou ao ver o lugar que haviam escolhido. Nada lhe parecia mais cômico do que aquilo, a menos que Masato esperasse o perdão do velho pai pelo que fizera — algo que ele garantiria que Masato não receberia. À entrada, um rapaz esperava. Cabelos desgrenhados, olhos escuros e observadores. Usava um terno preto e estava encostado a uma pilastra do templo. O maxilar de Hideo se contraiu ao vê-lo. Os seus punhos se fecharam com força apenas ao olhar para o rapaz à sua frente. Ódio — o mais puro ódio — o dominava, e esse sentimento ameaçava consumi-lo de forma implacável. — Sora… — murmurou Haruki, surpreso ao ver o jovem à sua frente. O rapaz deu um passo à frente, ajoelhando-se diante de Haruki. Estendeu a mão e pegou a dele, dando um pequeno beijo no anel que ele usava no dedo. — Pai… peço-lhe a bênção — disse com a voz contida, os olhos baixos, sem encarar o homem à sua frente. Foi nesse instante que a paciência de Hideo se esgotou. Os seus olhos encarando o rapaz a sua frente com tanta furai que parecia que ele seria consumido por ela. — Ele? — o tom era de pura incredulidade e fúria. — O bastardo? Haruki virou-se, o rosto tomado por uma mistura de dor e esperança. Mas Hideo não conseguia conter a raiva. O passado que pensava enterrado ressurgia diante dele, e tudo indicava que aquele dia ainda guardava mais segredos do que respostas. Mas de algo Haruki tinha certeza, pela expressão do seu filho a presença do jovem a sua frente não era algo bom naquele momento.
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