Jin dirigia em silêncio, respeitando o turbilhão de pensamentos que tomava conta do amigo. Desde que saíra da mansão dos Matsumoto, Hideo não havia pronunciado uma única palavra. Apenas segurava firme a mala com as joias rejeitadas, como se aquele gesto simbólico tivesse selado o seu fracasso.
"Fazer Sayuri desistir... essa é a única saída", pensava, repetidamente.
No apartamento, ele se trancou no escritório. Não queria sono, nem descanso. Precisava de um plano — frio, racional, eficaz. Mas cada ideia que surgia parecia pequena diante da imagem de Sayuri olhando para ele com os olhos marejados. Ele não podia simplesmente magoá-la. Mas também não podia continuar mentindo.
Abriu o notebook, puxou um caderno antigo, rabiscou possibilidades.
Fechou o caderno após alguns minutos e passou a mão no rosto, cansado. "Ela vai me odiar. Talvez para sempre", pensou. Mas não importava. Se odiá-lo significasse libertá-la... então que fosse.
— Você vai mesmo fazer isso? — perguntou Jin da porta, observando o amigo com olhar preocupado. Ele havia entendido exatamente o que ele pretendia quando ouviu as palavras de Hana.
— Preciso. Não vou ser o homem que prende alguém por conveniência familiar. Sayuri merece ser amada. E eu... eu sou apenas uma sombra para ela agora.
Jin entrou, puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele. Ele via o quanto Hideo estava atormentado com tudo aquilo.
— E se ela não desistir? E se, mesmo depois de tudo isso, ela continuar lutando pelo compromisso?
Hideo respirou fundo, encarando o teto.
— Então terei que desistir eu. Mesmo que isso me custe tudo.
Jin balançou a cabeça, respeitoso, mas triste. O amigo estava sendo um grande cabeça-dura ao insistir em seus planos mirabolantes.
— Você sabe que, mesmo tentando fazer isso com cuidado, vai machucá-la, não sabe?
— Sei. — Hideo se levantou, foi até a janela. A cidade brilhava sob os neons lá fora. — Mas é melhor machucar agora do que arruiná-la aos poucos.
O plano estava traçado. No dia seguinte, Hideo mandaria uma mensagem a Sayuri, pedindo para se encontrarem. Um encontro informal. Amigável. Ele precisava dar os primeiros passos. Plantar as sementes. Fazer com que a decisão parecesse dela.
E talvez, só talvez... isso fosse suficiente para salvá-la dele.
No outro dia, Hideo mandou uma mensagem para Sayuri assim que acordou. Haveria uma festa naquele dia, e ele a convidou para ser sua acompanhante. Seria perfeito para iniciar seu plano para que ela o deixasse. No final do dia, ignorando o fato de que teria que buscá-la, ele foi direto para a festa. Ao seu lado, Jin o olhava com uma carranca no rosto, não gostando do comportamento do amigo, que sempre fora gentil com as mulheres ao seu redor.
— Não gosto disso. — disse Jin enquanto entravam na festa.
— Não precisa gostar, precisa apenas torcer para dar certo. — respondeu ele.
Após uma hora de atraso, Sayuri entrou na festa. Os seus olhos não escondiam a raiva que sentia de Hideo naquele momento, por tê-la deixado esperando, sabendo que não iria. Ela caminhou com passos decididos até ele, parando à sua frente. Vendo como ela estava brava, Jin se retirou rapidamente.
— Por que me fez esperar se não ia me buscar? — perguntou ela de forma ríspida.
— Eu te convidei, não disse que te buscaria. — respondeu ele, vendo os olhos dela se escurecerem ainda mais.
— Quer mesmo jogar esse jogo, Hideo? Vai se arrepender disso.
— Não sei do que está falando, e se não está satisfeita comigo, é só cancelar nosso compromisso. — disse, dando de ombros.
Sayuri riu, um riso amargo que vinha do fundo de sua alma. Naquele momento, ela finalmente entendeu o que Hideo queria com aquele comportamento.
— Esse jogo é para dois, Hideo. — disse ela, se retirando e indo se servir de uma bebida.
Hideo caminhava entre os convidados, ignorando a presença de Sayuri. Era nítida a forma como as pessoas os olhavam, curiosas com o que estava acontecendo.
— Então estamos diante do futuro líder da família Shinoda. — disse uma mulher, aproximando-se de Hideo e colocando a mão em seu ombro.
— É o que parece, querida. — disse ele, pegando a mão dela e dando um beijo. A mulher ficou visivelmente eufórica com aquele gesto.
— Me diga, já tem uma dama para ocupar o lugar ao seu lado? — A pergunta era pertinente, e Sayuri ouvia aquilo com o maxilar trincado de raiva.
— Esse lugar não é para qualquer uma. — disse ele, rindo e fazendo os outros rirem. A mulher se inclinou em direção a Hideo, apoiando-se nele enquanto ria.
Sayuri perdeu o pouco controle que ainda tinha ao ver aquilo. Largando sua taça, ela marchou até onde eles estavam. Com um movimento rápido, arrancou a mão da mulher do ombro de Hideo e lhe deu um soco no nariz. Ela caiu no chão chorando, segurando o nariz.
— Sua louca! — gritou.
Hideo olhava para Sayuri com os olhos arregalados enquanto ela encarava a mulher à sua frente.
— Louca ficou você — disse ela, olhando para a mulher antes de se virar para os outros. — Vocês ficaram loucos se pensam que podem rir às minhas custas.
— Sayuri... — começou Hideo.
— Cala a p***a da boca antes que eu mesma faça isso! — A incredulidade encheu o rosto das pessoas enquanto ouviam as palavras dela, em choque. — Você é meu, e sabe disso. E antes que eu diga que não o quero mais, você vai continuar sendo meu.
Sayuri caminhou até Hideo, a sua mão se fechando em volta do pescoço dele, apertando de leve.
— Espero que aprenda isso, meu noivo. — disse ela antes de puxá-lo para si, colando a sua boca à dele de forma voraz.
Sayuri podia sentir o espanto de Hideo com aquele contato, mas não lhe deu tempo para pensar antes de o beijar intensamente diante de todos na festa. Antes de soltá-lo, mordeu seu lábio inferior, cortando-o levemente.
— Divirta-se. — disse ela, saindo e deixando todos estáticos.