Capítulo 13

1016 Words
O salão continuava em festa, mas, para Hideo e Sayuri, o mundo parecia ter encolhido a um pequeno campo de batalha, onde apenas os dois existiam. Eles mantinham olhares hostis um contra o outro, os seus rostos refletindo a fúria que os dominava. — Você não tem ideia do que está dizendo — rosnou Hideo, tentando manter o controle da voz. Os seus olhos ardiam, não de raiva, mas de algo mais profundo: vergonha e dor. — Eu nunca pedi por isso, Sayuri. Nunca pedi por nós. Sayuri cruzou os braços, como se se blindasse contra mais um golpe, mas seus olhos brilhavam de fúria contida. As palavras de Hideo soavam, para ela, como desculpas baratas para não assumir a sua parte da culpa em tudo aquilo. Ele não parecia pensar no que ela havia passado durante todos aqueles anos — estava olhando apenas para o próprio umbigo. — Não, Hideo. Você não pediu, e ao que parece se esqueceu que eu também não pedi por isso. Mas, mesmo assim, estou aqui, assumindo de frente os meus compromissos. Isso seria pedir demais? — a voz dela falhou por um instante, e Hideo percebeu o tremor que ela disfarçava com arrogância. — Você sabe o peso que o meu nome carrega. Você sabe o que somos. — Ele não queria ouvir mais do que ela estava dizendo, pois aquilo fazia a sua mente vaguear por lugares que ele não desejava visitar — e, naquele momento, não estava pronto para isso. — Você não entende. — Sei, sim. — Ela deu um passo à frente, sem medo. — Mas também sei que você é covarde. Um homem com força para comandar impérios, mas fraco demais para assumir um compromisso de anos. Eu sou sua aliada, assim como a minha família… e você foge como um menino assustado sempre que as coisas se tornam reais demais. Hideo cerrou os punhos. O sangue pulsava alto nos ouvidos. Ele não queria explodir, não ali. Mas as palavras dela eram navalhas que rasgavam a sua carne, forçando-o a confrontar a si mesmo e os seus erros. Olhar para Sayuri era recordar tudo o que ele tinha feito ao longo dos meses para fugir daquele compromisso. — Eu não fugi. Eu protegi você! — De quem, Hideo? De mim mesma? — Sayuri agora sussurrava, mas o tom cortava fundo. — A verdade é que você tem medo de me deixar entrar. Porque sabe que, se eu entrar, você nunca mais será o mesmo. Hideo respirou fundo, sentindo o ar denso da sala pesar nos seus pulmões. Ao redor, alguns olhares já se fixavam na discussão. Murmúrios começavam a se formar entre os convidados. Ele sentia o peso da exposição. Mas o orgulho... o maldito orgulho não o deixava recuar. Foi então que uma figura firme se colocou entre os dois. — Basta. — A voz grave e imponente de Haruki Shinoda, pai de Hideo, ecoou. — Estão esquecendo onde estão? Ao lado dele, a mãe de Hideo, elegante e serena, segurava o braço do marido com firmeza, como se tentasse acalmá-lo. Mas seus olhos estavam cravados no filho, a preocupação estampada em seu rosto. — Hideo, as pessoas estão observando. Esta é uma celebração, não um campo de guerra — disse ela, com doçura, mas firmeza. — Se tiver algo a resolver, que seja com respeito. Sayuri recuou meio passo, respirando fundo. Hideo desviou o olhar, sentindo o peso dos olhares ao redor. Por um instante, a fúria se dissipou, substituída por uma vergonha cortante. — Me desculpem — disse Sayuri, com um leve aceno aos pais de Hideo. — Não era minha intenção causar constrangimentos. — Oh, querida! — disse Mei, aproximando-se e tocando o rosto dela com delicadeza. — Você jamais nos constrangerá. Só quero que aproveite a sua noite especial sem brigas. Sayuri amava a mãe de Hideo. Ela era sempre amável e gentil — algo que contrastava terrivelmente com a personalidade do marido. Com um aceno, se virou, pronta para sair, mas Hideo a segurou pelo pulso. O toque foi leve, mas firme. — Sayuri... — sua voz saiu baixa, mas carregada de emoção. Sayuri ficou em silêncio por um segundo. Depois, suavemente, soltou o braço da mão dele. — Cresça, Hideo. E com isso, ela se afastou, deixando Hideo parado no meio do salão, com o coração na mão e o orgulho estilhaçado aos pés. — Viu o que as suas ações causaram?! — disse Haruki, zangado, passando a mão pelos cabelos. — Não bastava eu ter uma dívida de gratidão com a família Matsumoto… também devo a eles a sua vida! E você nem ao menos consegue ser grato por isso! — Acalme-se, querido. Sei que eles podem se entender. Só precisam de um pouco de tempo para se conhecerem melhor — disse Mei, tocando os ombros do marido. — Você confia demais nesse garoto, Mei, e espero que ele não te decepcione como está fazendo comigo — disse ele, retirando a mão dela do ombro e saindo. Mei observava com tristeza o marido se afastar. Sabia que Haruki era duro, mas também conhecia o seu lado mais gentil — algo que poucos enxergavam. — Eles precisam se entender, querido — disse Mei, pegando no braço de Hideo e conduzindo-o até algumas poltronas mais ao fundo do salão. — Eu não vou me entender com ela, mamãe, porque não vou me casar com ela — disse ele de forma firme, com a voz mais baixa para que as pessoas à sua volta não ouvissem. — Acho que você ainda não entendeu que isso não é negociável, filho. Já está decidido — respondeu Mei. — Por que eu, mãe? Por que ele tinha que fazer isso comigo?! — disse Hideo, desesperado. Mei segurou as mãos do filho com carinho. Os seus olhos castanhos encontraram os dele, repletos de ternura. — Um dia eu te conto, meu filho. Te prometo isso. Mas você precisa entender o lado da Sayuri também. Diferente de você, ela não está lutando contra isso. Apenas aceitou o seu destino. Pense um pouco nela.
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