Capítulo 14

1003 Words
A música voltou a preencher o salão com um ritmo suave, quase como se quisesse apagar os vestígios da discussão que minutos antes havia paralisado todos os presentes. Sayuri reapareceu entre os convidados com um sorriso discreto nos lábios e os olhos reluzindo sob a luz das lanternas. Quem a olhava de longe jamais imaginaria o turbilhão que a corroía por dentro. Ela dançava. Um, dois, três passos e um giro leve, guiada por um dos jovens herdeiros de uma família aliada. O rapaz falava algo divertido e Sayuri ria, mas sua mente estava longe. Tentava, em vão, empurrar a imagem de Hideo para o fundo da sua consciência. Ela desejava apenas esquecer que aquela discussão tinha acontecido. "Não vale a pena pensar nele agora", repetia para si mesma. Entre uma dança e outra, aceitou uma taça de champanhe, depois outra. Conversou com amigos, sorriu para antigos aliados da família, posou para fotos com convidados estrangeiros. A cada gesto, construía com esforço a ilusão de que a discussão não tinha significado. Mas a verdade era que a voz de Hideo ainda ecoava em sua mente. E a dor de vê-lo hesitar mais uma vez doía mais do que gostaria de admitir. Do alto da sacada interna, um par de olhos atentos a seguia com firmeza. Yuki Matsumoto mantinha os braços cruzados sobre o peitoril de madeira, o maxilar travado. O kimono azul-marinho bem ajustado ao corpo e a postura imponente denunciavam não apenas a sua posição na família, mas também o desconforto que sentia. — Ridículo — murmurou para si, observando a irmã rindo com outro pretendente. Ele não acreditava na risada dela. Ninguém a conhecia como ele. Sayuri podia fingir bem, mas Yuki via a tensão no ombro dela, a forma como seus olhos varriam o salão discretamente, como se esperassem que Hideo aparecesse a qualquer momento para puxá-la de volta ao conflito m*l resolvido. "Ele não merece a minha irmã", pensava. E a medida que via a sua irmãzinha se magoar com aquele compromisso, ele se perguntava se o seu pai tinha feito a escolha certa. Yuki não havia interferido na discussão de antes apenas por respeito aos pais, mas cada palavra dita por Hideo havia se cravado como uma farpa em seu orgulho de irmão. Para Yuki, não importava a dívida entre as famílias, nem os acordos silenciosos entre líderes: Sayuri merecia alguém que a escolhesse com convicção, não alguém que a tratasse como um fardo. — Senhor Matsumoto — chamou um segurança, aproximando-se discretamente. — Tudo está sob controle. — Continue atento. Essa festa ainda não acabou — respondeu Yuki, sem desviar os olhos de Sayuri. No salão, Sayuri agora conversava animadamente com uma das amigas, as duas rindo ao recordar alguma travessura de infância. Mas bastava um olhar mais atento para perceber o cansaço em seu rosto. O rímel começava a borrar no canto dos olhos, e os sorrisos estavam cada vez mais curtos. Ela estava exausta. E por mais que tentasse, aquela noite — a sua noite — havia sido manchada por algo que ela preferia não nomear. Yuki desceu as escadas lentamente. Se Sayuri precisava fingir força, ele estaria ao lado dela como pilar. E se Hideo ousasse se aproximar novamente, teria de passar por ele primeiro. As mãos de Yuki envolvem a cintura de Sayuri a puxando para o seu peito. — Você pode enganar a todos irmã, menos a mim. — Diz ele dando um beijo nos seus cabelos. Yuki podia sentir o corpo da sua irmã tremer agarrado ao dele, e sabia o esforço que ela fazia para permanecer forte. — Eu vou ficar bem Yuki, sempre fico. — Diz ela ainda sem encontrar os olhos do seu irmão. Qualquer um que os visse pensaria que estavam apenas dançando. — Sei disso, você é a mais forte de nós, mas isso não significa que não precise ser cuidada. — Responde ele enquanto a puxava com sigo para o pátio do salão de festas. A noite estava estrelada, sem nuvens no céu. Um vento fresco jogava os cabelos de Sayuri para trás trazendo um pouco de clareza a sua mente. Yuki mantinha a sua mão agarrada a da sua irmã enquanto a guiava até um pequeno banco mais afastado de alguns convidados que estavam ali. — Se quiser posso matá-lo por essa ofensa. — Diz ele com o maxilar trincado de raiva. — Faria isso por mim Yuki? — Pergunta ela. — O ideal seria que me perguntasse o que não faria por você, meu pequeno panda. — Diz ele com um sorriso de canto. — Credo Yuki! Não me chame assim. — Diz ela tentando se afastar dele, mas ele mantém um braço firme na sua cintura. — Você sempre será meu pequeno panda guloso. — Diz rindo da tentativa dela de se soltar. — Você não é apenas a joia dos nossos pais Sayuri, é a minha também. A vontade de Sayuri era chorar com as palavras do seu irmão. Yuki era sempre muito fechado quando se tratava dos seus sentimentos, então ouvir aquilo dele tinha um grande significado. — Isso significa que vai aumentar a minha mesada? — Pergunta ela alisando a gola do seu quimono. — E desde quando você está sem dinheiro? Até onde eu me lembre você ainda está usando um dos meus cartões irmãzinha. — Diz ele com a sobrancelha arqueada. — Uma garota precisa se manter bem irmão. — Diz ela sorrindo. — Não me importo que me deixe na miséria, desde que isso a faça feliz. — Yuki tinha um olhar tranquilo sobre Sayuri, para ele o seu maior tesouro estava bem ao seu lado, e não havia nada que ele não fizesse por ela. — Cuidado, ou posso realmente tentar te deixar na miséria. — Responde ela brincando. — Boa tentativa, mas sabemos que isso não vai acontecer. — Diz ele a puxando mais para si. Sayuri apenas descansa sa cabeça no peito de Yuki, o seu irmão sempre seria seu maior porto seguro.
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