Capítulo 17. Salvou minha vida

773 Words
O relógio marca quase onze da noite. O salão já está mais cheio, o ar levemente abafado por causa da mistura de perfumes caros e do calor das luzes. A banda toca um jazz acelerado, e o som das risadas encobre qualquer ruído menor. Henrique continua atento, observando o ambiente. Antônio conversa com dois empresários no centro do salão, taça de champanhe na mão. Virgínia está próxima, mas distraída com uma amiga que acabara de chegar. Henrique nota algo. Um garçom, novo, que ele não lembra de ter visto no começo da festa, os passos tensos, a postura errada. Ele se move entre as mesas, equilibrando uma bandeja prateada com garrafas. Nada de mais, à primeira vista… até que o olhar dele cruza o de Henrique por um instante e se desvia rápido demais. Henrique se move, discretamente. Dois passos à direita. Olhos fixos no homem.A bandeja se aproxima do grupo de Antônio. Tudo acontece em segundos. Henrique percebe o movimento do punho o garçom solta a bandeja e puxa algo de dentro do paletó.Um brilho metálico. Henrique reage instintivamente. — Antônio, abaixe! Ele avança com força, empurrando Antônio para o lado no exato momento em que o som seco do disparo corta o ar.O vidro da taça explode, champanhe voa, gritos tomam o salão. Henrique atinge o agressor antes que o segundo tiro saia. Um soco certeiro no braço armado, a arma cai, desliza pelo chão. Dois seguranças correm, Henrique já o domina, torce o braço do homem para trás, o imobiliza no chão com um golpe preciso no ombro. Antônio, caído ao lado da mesa, encara a cena, a respiração pesada. O som dos gritos, dos passos, o caos. Virgínia corre na direção do pai, assustada. Henrique levanta o olhar, firme, o suor escorrendo pela têmpora. — Afastem-se todos, tirem Virgínia daqui — grita para os seguranças, a voz firme, autoritária. O agressor geme, tentando se soltar, mas Henrique o mantém preso com a bota no ombro. — Quem mandou você?— rosna. O homem não responde. Henrique o atinge com um golpe rápido e forte na cabeça. Antônio se levanta com ajuda de outro segurança. O paletó está sujo de champanhe, mas ele está ileso. Ele observa Henrique algemando o agressor com brutal eficiência. Quando o barulho começa a diminuir, Antônio se aproxima, o olhar sério, a voz firme mas baixa: —Você me salvou dessa vez Henrique . Henrique se endireita, a respiração ainda controlada. — Apenas fiz o meu trabalho. Antônio o encara por um instante há algo diferente no olhar dele agora. Não é só aprovação. É respeito. Misturado a algo mais difícil de ler: cautela. — Ninguém faz o que você fez só por obrigação, é lealdade.— diz, quase num tom de quem pensa alto. Henrique não responde. Virgínia, pálida, o observa de longe. Há um brilho estranho em seus olhos mistura de medo, admiração e algo que ela mesma não entende. Antônio então se volta para Henrique. — Leve ele para o galpão. Henrique apenas assente. Enquanto os outros seguranças chegam, as câmeras são desligadas e os convidados evacuam discretamente, o ar do salão muda. A música cessou, o luxo agora parece frio e distante. E Henrique entende: Ele acabou de salvar a vida de Antônio Mancini e, ao mesmo tempo, acabou de se tornar o homem mais observado daquela casa. Quando Henrique entra no galpão da mansão Mancini, é recebido por um rastro de sangue e gemidos abafados. Antônio só de calça está sujo, expressão furiosa. Henrique se aproxima com passos lentos e calmos, como se não escutasse os gemidos de dor do homem jogado ao chão bem na sua frente. — Pediu que me chamassem, senhor? — Sim, Henrique. Esse vagabundo não abre a boca, não quer me falar o nome do covarde que mandou ele. — E o que o senhor quer que eu faça ? Antônio da um risada seca, sem humor. — Nada, te chamei apenas pra observar.— Antônio diz pegando a faca que estava jogada no chão já ensanguentada. O homem começa a se debater no chão mas Antônio não liga, seus olhos estão escuros, com ódio. Ele se aproxima do homem e enfia a faca na garganta dele, o sangue espirra no rosto de Antônio e isso apenas o deixa ainda mais satisfeito. Henrique obervava a cena com uma calma absurda, ele não sente absolutamente nada. Antônio se levanta e olha para Henrique que não demonstra nada, nem sequer olhar pro homem ensanguentado no chão. — De um jeito na bagunça.— Antônio ordena para Henrique e sai do galpão em passos lentos, para se limpar.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD