Capítulo 18. Ainda não confia em mim ?

599 Words
O relógio marca 8h. Henrique entra no escritório silencioso. O ambiente é luxuoso, mas frio: móveis de madeira escura, cortinas pesadas e o cheiro constante de café forte. Antônio está de pé, de costas, observando a vista da mansão um panorama da cidade que ele domina como um rei moderno. Ele não se vira quando Henrique entra. — Feche a porta. — diz apenas, a voz calma demais. Henrique obedece. Um silêncio pesado se instala por alguns segundos. Antônio continua olhando pela janela, as mãos cruzadas atrás das costas. — Ontem à noite… — ele começa — Você agiu rápido. Frio. Preciso disso ao meu lado. Henrique mantém-se em pé, postura militar. — Era meu dever, senhor. Antônio se vira lentamente. O olhar é penetrante, avaliador. — Dever… Essa palavra sempre soa bonita, não é? — ele caminha devagar até a mesa, apoiando-se na borda. — Mas me diga, Henrique… o que leva um homem a se jogar na frente de uma bala por outro? O salário? A lealdade? Ou algo mais? Henrique segura o olhar dele, mas não responde. Antônio sorri de leve um sorriso que não chega aos olhos. — Eu já vi muitos homens fingirem lealdade. E sabe o que todos tinham em comum?— ele se aproxima mais — No fim, todos queriam alguma coisa. Dinheiro a mais. Poder. Ou… companhia. A última palavra sai carregada de intenção. Henrique entende o que ele está insinuando, mas continua impassível. — Com todo respeito, senhor… Eu só quero fazer meu trabalho. E garantir que o senhor e sua família estejam seguros. Antônio o observa em silêncio, como quem tenta ler cada músculo do rosto dele. — Minha família… — ele repete, pensativo. —Virgínia Henrique assente uma única vez. — Principalmente ela. O silêncio retorna. Então Antônio dá a volta na mesa e pega um copo de whisky, mesmo sendo cedo demais para isso. Ele serve apenas um dedo e toma um gole antes de continuar: — Você sabe, Henrique… Ontem à noite, quando vi aquele homem atirando, pensei: ‘é o fim’. E então, você apareceu. Frio. Preciso. Eu devo minha vida a você. Henrique responde sem hesitar: — Não deve nada, senhor. Só fiz o que qualquer segurança treinado faria. Antônio sorri dessa vez, o sorriso é sincero, mas carregado de desconfiança. — Qualquer segurança? Não. A maioria teria hesitado e você sabe disso. Ele caminha até ficar frente a frente com Henrique, tão próximo que a tensão parece palpável. — Mas eu vou te dizer uma coisa… se algum dia descobrir que esse impulso heroico foi por qualquer motivo além do profissional, Henrique, eu mesmo vou apertar o gatilho. Henrique o encara firme. — Não será necessário. Antônio dá dois tapinhas leves no ombro dele e recua. — Ótimo. Porque, por enquanto, você é o único homem em quem eu posso confiar. Ele volta a se sentar na cadeira, já com o olhar frio novamente. — Agora vá. Virgínia vai sair à tarde. Quero você com ela o tempo todo. E lembre-se…— ele ergue o olhar por cima dos papéis. — Ela é o meu ponto fraco. E eu não tolero ninguém tentando descobrir até onde esse ponto vai. Henrique faz um breve aceno e sai da sala, fechando a porta. Do outro lado, ele respira fundo. Por fora, mantém a calma. Por dentro, sente o peso do que acabou de ouvir e do que está por vir. Porque proteger Virgínia não era mais apenas um trabalho. Era uma linha perigosa e Antônio Mancini estava observando cada passo que ele dava sobre ela.
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