Capítulo 13. Focado no serviço

624 Words
O carro preto desliza pelas ruas movimentadas, refletindo o sol da tarde nos vidros escurecidos. Henrique dirige em silêncio, os olhos fixos na estrada. No banco de trás, Virgínia está reclinada, mexendo no celular, mas atenta a seu novo segurança. — Você sempre dirige assim, calado? — pergunta ela, sem levantar os olhos. — Estou trabalhando, senhorita. — responde Henrique, voz neutra. Ela solta uma risada leve. — Trabalhando? Parece mais um robô programado pra ignorar conversas. Henrique não reage. Continua focado no trânsito. Ela o observa pelo espelho interno, intrigada com a frieza dele. Está acostumada a seguranças que tentam puxar assunto, bajular, rir de tudo o que ela diz. Mas aquele ali... parecia feito de pedra. Ela não podia deixar de notar sua cicatriz na lateral do rosto, o que a deixa curiosa, quais serviços ele fez antes de ser seu segurança ? Por que seu pai confiou nele ? Por que ele tinha aquela cicatriz que ao invés de deixá-lo feio, o deixava ainda mais atraente para ela, com um ar misterioso, poderoso, amedrontador. Quando chegam ao shopping, Henrique estaciona o carro e sai primeiro, fazendo uma rápida varredura com o olhar antes de abrir a porta para ela. Virgínia ajeita os óculos escuros, segura a bolsa e desce com um ar de rainha entediada. — Relaxa, ninguém aqui vai me sequestrar.— diz ela, andando à frente. Henrique a acompanha de perto, sempre um passo atrás, calado, ela percebe. — Você é sempre assim paranoico ou é seu charme profissional? Henrique ignora o comentário, seguindo firme. Ela sorri, provocada. Enquanto caminham pelos corredores do shopping, as pessoas os observam ela, linda e confiante; ele, imponente e discreto, vestindo preto, o olhar sempre atento. Virgínia entra em uma loja de grife e começa a provar roupas. Henrique permanece do lado de fora, braços cruzados, observando o movimento. Depois de um tempo, ela sai do provador com um vestido azul e pergunta: — E aí, o que acha? Henrique mantém o olhar neutro, mas por dentro não consegue deixar de reparar na beleza de Virgínia. — Não sou o público-alvo pra opinar, senhorita, estou trabalhando. — Quer dizer que não tem opinião? — Quer dizer que não estou aqui pra isso. Ela dá um sorriso de canto, avaliando o desafio. — Você é difícil, hein. Achei que todos os seguranças do meu pai fossem uns cachorrinhos adestrados. Henrique não mexe um músculo sequer, continua neutro com um olhar vazio. — Eu respondo a seu pai, não a você, senhorita. Virgínia o encara, surpresa pela ousadia. Depois sorri um sorriso genuíno, divertido. — Você é mais interessante do que deixa transparecer, Henrique. Ele desvia o olhar, sério. — Minha função é garantir que volte pra casa em segurança. Só isso. — E se eu disser que quero ir embora sozinha? — Não vai. Virgínia dá uma risada curta e balança a cabeça. — Você realmente leva isso a sério, não é? — Sou pago pra isso. Ela se aproxima um passo, os olhos azuis faiscando de curiosidade e desafio. — E se eu disser que quero te conhecer melhor? Henrique encara os olhos azuis brilhantes dela por alguns segundos, depois responde com frieza: — Não tenho interesse. O silêncio paira entre os dois. Virgínia o observa, tentando decifrar aquele muro de gelo que ele parece carregar. Depois dá de ombros, fingindo indiferença. — Tudo bem, Henrique. Vamos ver até quando você aguenta ser o cara certinho. Ela entra de volta no provador o som dos saltos ecoando no piso de mármore. Henrique observa por um momento, firme, impassível mas por dentro, já sente que o verdadeiro perigo da missão não são os inimigos de Antônio, e sim a filha que ele jurou proteger.
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