1 - Hoje a lua brilha ainda mais para mim

1722 Words
Lina caminhou pela cozinha, segurando a bandeja em um movimento quase perfeito entre o resto das pessoas que trabalhavam na mansão. O corpo magro e a beleza escondida através do uniforme. O cabelo escuro preso. As roupas arrumadas perfeitamente para aquela noite. "Pronto. Não vejo a hora de ir embora e aproveitar meu aniversário. Finalmente eu vou poder me transformar. Vai ser a minha primeira lua, titia. " O sorriso sapeca surgiu e ela suspirou fundo, o peito batendo forte e ela louca pra saber como seria. Sentia-se pronta pra conhecer sua loba interior. Estava completando dezoito anos naquela noite. Sua semente havia brotado e aquela seria então sua primeira noite de lua cheia. Trabalhar arduamente, viver com a tia e lutar pra ser alguém não foi tão fácil ali. A matilha não via pessoas como ela ou a tia. Eram a parte mais baixa. As pessoas que servia o resto. " Estou orgulhosa. Gostaria de poder levá-la para outro lugar, mas precisavam da gente aqui hoje." A garota tinha um coração puro e genuíno. Não conheceu luxo. Não conheceu seus pais. Mas conheceu a tia Mary, que adotou o pequeno bebê encontrado na margem do floresta, enrolada em cobertas e sentindo frio e fome numa noite escura e vazia. Foi Mary que salvou o pequeno bebê. Deixou ela bem agasalhada e decidiu esperar ver alguém ir atrás do pequeno bebê, mas nunca apareceu ninguém. Mary achava que era fruto de um erro de algum jovem t**o da alcateia. Então aceitou como um presente pra lua. Ela era uma viúva e não teve filhos e sempre haviam um lugar na mesa e um coração bom. Ensinou tudo sobre a alcateia ou o que ela precisava saber até ali. A tia tinha dedos calejados depois de anos de servidão a alcateia e as melhores famílias. " Ao menos estou em um aniversário, tia. Não é tão r**m como parece." " Por favor, nada de ficar conversando com os convidados da senhora Eliza e do senhor Colin, você entendeu?" "Vai ser o aniversário da filha deles. Viu como está tudo lindo?" A tia colocou as taças sobre a bandeja. "Nosso alfa vai estar aqui." Lina suspirou. "Como ele é, tia?" A garota puxou o pano e começou a lustrar as taças. Como sabia fazer. " Ele pode ser bom e pode ser assustador." "Vai ser a primeira vez que vou conhecê-lo, isso não é um ótimo presente?" " O nome dele é Dominik Wolfgang. Nunca esqueça o nome do nosso alfa, querida." "Dominik Wolfgang." Ela abriu um sorriso. Lina era apaixonada pela vida ali, mesmo que não fosse tão fácil como deveria. Ela achava que sua natureza era especial, diferente dos humanos normais. Gostaria apenas de mudar uma coisa. A forma como os omegas eram tratados pelos de cima, pelos mais favorecidos e com mais dinheiro. Eram todos iguais afinal. Tinha um preconceito pelas famílias sem nomes, acabavam servindo as famílias maiores. Por gerações as vezes. Como um círculo vicioso. Era melhor que pegar humanos e colocar na realidade deles. O segredo de sangue estaria mais protegido assim. Estar na casa dos Colin mostrava isso, era o aniversário de Stella Colin, estava tudo pronto pra até mesmo receber o convidado de honra. Era uma surpresa pra cada um. Wolfgang não saia tanto da sua casa, era frio, distante, arrogante e cuidava da sua alcateia com todas suas forças. Preparado e c***l pra isso. Alguns achavam que ele estava indo a mando da lua pra conhecer uma única pretendente. Todos achavam que seria a filha dos Colin. Era o aniversário dela. A semente de uma jovem poderia aparecer na sua décima oitava primavera. Fazendo ela assumir o sangue e sua natureza perante a lua. "Vamos com isso. A senhora Eliza não perdoa erros, querida." "Ela é uma péssima mulher." "Guarde isso pra você." A tia sorriu, vendo a jovem pegar a bandeja e ir até a mesa no salão principal da mansão. Lina se sentia bem ali, mas detestava a senhora Eliza e até a filha. Eram esnobe e maltratavam as pessoas. Por um segundo viu o salão arrumando, cada parte dele. Pronto para o aniversário mais esperado da alcateia. Colocou a bandeira arrumada sobre a mesa com as taças. Viu a jovem Stella Colin descer as escadas. Eram da mesma idade. Faziam até mesmo aniversário no mesmo dia. Lina não sabia o que era sentir inveja. Ela admirava as cores, as roupas e até a maquiagem. Mas sem maldade. Aquilo diferenciava ela de tudo e todos. A tia tinha medo disso, de alguém fazer m*l a jovem. Nasceu lutando, não precisava passar por mais coisas ruins. O senhor Colin e a senhora Eliza apareceram logo atrás da jovem, descendo as escadas. Ela foi pra perto dos outros empregados e então ficou em fila reta e de cabeça baixa, apenas olhando a cena que se formou. "Ficou tudo incrível, pai!" A jovem abraçou o homem, os cabelos grisalhos e o olhar alegre de realizar mais um dos milhares de capricho da filha Stella. Depois da morte da primeira mulher, isso fez ele feliz. Tentava preencher um vazio que parecia nunca ter fim dentro dele. Mesmo as vezes achando que nunca conseguiria. Elisa havia se casado com o viúvo, havia tomado o lugar da irmã e constituído uma família. Da forma que um dia ela disse que faria, colocando sua filha no lugar que não era dela. Lina sempre achou o senhor Colin agradável, ele não gritava com os funcionários e nem os humilhava. Não. Ele era bom. Era justo. Mas as vezes se ausentava e não percebia a parte c***l que Elisa e Stella fazia com os funcionários da mansão. "Essa noite você completa dezoito anos filha, eu espero que seja incrível tudo. Que você olhe para lua e sinta o poder invadir seu peito e aceite a natureza que a mãe lua nos deu." Lina não resistiu, ergueu o olhar e encarou as palavras do homem. Parecia terno e verdadeiro. Ela não sabia o que era aquilo. Mary era viúva. Não teve pai. Não teve mãe. Teve sua tia. A pessoa que ela faria de tudo. " Nosso alfa também estará aqui, não podemos esquecer o quanto isso é importante." Casar-se com um alfa era como uma dádiva. Um elixir pro resto da vida. Elisa só pensava nisso ao olhar pra filha. "Eu vou conseguir que ele me olhe e me queira, mãe. Vou ainda ser a escolhida por ele." Naquele momento ficou claro que mãe e filha tinham pensamentos iguais. O pai deu um balançar de cabeça. Achava aquilo uma loucura. Charles Colin viu Dominik Wolfgang assumir a alcateia depois da morte do pai, anos atrás. Sabia como ele podia ser bom, mas também como ele podia ser c***l. Entregar a filha para ele era como entregar um pedaço dele que nunca mais iria voltar. Independente se a própria filha quisesse. "Apenas se importe com se divertir. Hoje é seu aniversário. A lua está linda lá fora." Lina abaixou o olhar e então sorriu com as palavras. Entendendo tão bem o que ele falava. Ela só queria acabar aquela noite e subir até a floresta. Esperar acontecer e correr livre em quatro patas. " Algum problema? " Ela ergueu o olhar. Elisa se aproximou da jovem que sorria, como se tivesse alguma piada acontecendo. Aquilo era um péssimo sinal. "Parece se divertir escutando as coisas. Temos regras aqui, não é?" "Elisa." "Se não colocar eles no lugar deles, Charles. Eles nunca vão ser tão bons como devem." Lina ficou assustada com as palavras e viu a mulher se aproximar, erguer a mão e pegar uma taça. "Você é a sobrinha de Mary, não é?" "Sim, senhora." "Já vem aqui faz tanto tempo, ainda não aprendeu?" "Elisa, pare. " A mulher ignorou o marido. "Me desculpe." Se desculpou, mesmo sem ter culpa nenhuma. "Sabia que nunca gostei de você trabalhando aqui? Sua tia é ótima, mas você, você não é boa, olha pra essa taça. Consegue ver as manchas?" Não havia mancha nenhuma. Era só uma forma de rebaixar a jovem garota. O sangue dela começou a correr rápido. " Posso limpá-la de novo senhora." A taça foi jogada na frente dela, os cacos se espalharam e Lina deu um passo para trás. " Eu odeio quando faz isso, Eliza. Ela é apenas uma jovem." A mulher riu na cara de Lina. "Chame alguém pra limpar a depois pode ir pra casa. Eu não quero você aqui essa noite, amanhã pode voltar pra limpar o chão." Lina ficou com a boca seca. Sentiu um arrepio e depois uma sensação diferente dela. Por um segundo ela respirou fundo, fechou os olhos e pensou que iria gritar com aquela mulher. Sentiu uma raiva monumental. Mas segurou. " Com licença. " Lina não olhou pra mais nada e ninguém. Apenas abaixou a cabeça com o sangue batendo forte dentro dela. Quando atravessou a porta da cozinha, tirou o avental e então viu a tia, que se aproximou preocupada pela expressão no rosto dela. " Lina? " "A senhora Eliza foi horrível agora. Eu não fiz nada, eu juro." A tia pegou ela pela mão e levou ela pra um canto. Pegou o avental da mão dela e segurou as duas mãos dela depois. "Respira fundo, fica calma. Eu estou aqui, lembra que dia é hoje? Não sinta raiva, Lina. Limpe seu coração. " Aquilo fez ela se alcamar um pouco. "Por que nos tratam tão m*l?" "Eles não sabem tratar de outra forma." Os olhos de Lina se encheram de água, doeu. Doeu de verdade. "Ela disse pra ir embora. Ficar na limpeza amanhã. Ao menos posso aproveitar mais um pouco da noite e subir até a montanha." "Lina." "Eu estou pronta pra me transformar. A senhora vai ficar bem aqui?" "Promete me contar tudo depois?" "Se a senhora levar um pedaço de bolo. Eu arrumei uma vela, podemos cantar parabéns juntas. Vou esperá-la em casa. A senhora é a coisa mais importante na minha vida. Obrigada por cuidar de mim até hoje." "Você é como uma filha pra mim." " Preciso ir, antes que aquela mulher venha até aqui e me veja. Não quero trazer problemas para senhora, titia. " "A lua brilha para todos, Lina." A garota sorriu. "Hoje ela brilha ainda mais pra mim."
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