Larisse Narrando
— Aqui está o seu crachá. — A atendente de sorriso iluminado fala. Pego o crachá e sorrio de volta para ela.
— Obrigada. — Eu falo.
Olho para o crachá escrito “Espaço vida” e abro um sorriso na mesma hora. Era uma vitória para nossa clínica ter chegado até aqui, hoje era o último dia de conferência e amanhã eu já embarcaria de volta para casa.
Tento ligar para Rafael antes de entrar no último dia de palestra, mas ele não me atende. Acho estranho e tento mandar mensagem, mas as mensagens não entram.
— Que estranho — Falo para mim mesmo.
Guardo o celular quando vejo que a palestra iria começar. A palestra começa e quem está dando ela começa a falar de toda sua carreira, de como chegou até aqui e eu começo a pensar na minha trajetória com o Rafael também. São 3 anos de clínica e a gente está na melhor época de nossas vidas, fazendo o maior sucesso no Brasil todo e nós tínhamos pacientes de vários lugares do Brasil, até pensava em expandir à clínica e colocar outras pelo Brasil. Quem sabe a nossa ideia ainda acontece?
Eu e Rafael nos dávamos tão bem e esse era à alma do negócio, a gente completava um ao outro de uma forma inexplicável, tanto na vida pessoal como na profissional.
(...)
O avião já iria decolar e em uma última chance de falar com Rafael tento ligar para ele, mas novamente o celular caía na caixa postal e as mensagens não eram entregues. Entro no aplicativo das câmeras da clínica e elas estão todas desligadas, acho aquilo tudo estranho.
— Por favor aperte os cintos, desligue ou coloque em modo avião os celulares porque iremos decolar em alguns minutos. — A Aeromoça fala e eu suspiro colocando o celular em modo avião.
Era um dia todo sem notícias dele, não quis ligar para minha mãe que mora perto para saber notícias, não quero me preocupar. Minha mãe e Rafael tem um pouco de implicância um com o outro.
Assim que desço do avião e vou caminhando pelo aeroporto sinto alguns olhares estranhos para mim, eu olho para baixo vendo a minha roupa e está tudo certo. Não conseguia entender o porquê daqueles olhares.
— Larisse? — O uber fala me olhando.
— Sim — Falo e entro no carro, ele me encara pelo retrovisor o tempo todo. — Está quente por aqui, não é mesmo? — Tento puxar assunto já que gostava de conversar, mas ele não me responde, o tempo todo calado e me olhando estranho. — Aqui está — Falo pagando o uber e ele logo me dar o troco sem dizer nada.
— Dona Larisse? — O porteiro fala parando de varrer à rua.
— Olá — Digo sorrindo para ele. — Tudo bem com o senhor?
— Sim — Ele diz com o tom de voz fraco e me olhando de cima para baixo.
Porque está todo mundo me olhando assim? O prédio onde moramos fica na frente da nossa clínica, escolhemos o apartamento devido à localização. Antes de entrar no prédio olho para a clínica que está tudo fechado e luzes apagadas.
Subo para o apartamento e quando entro levo um susto, largo a mala e as bolsas em cima dela e arregalo os olhos, começo a correr pelos corredores desesperada vendo que tudo está vazio, não tinha nada. Não tinha sofá, cama, mesa… apenas tinha o guarda-roupa com as minhas roupas, não tinha sinal do Rafael também!
Desço desesperada e dou de cara com o porteiro com alguns homens ao seu lado, ele me chama, mas ignoro. Atravesso a rua quase sendo atropelada por um carro que vinha na rua em minha direção, quando pego a chave para abrir a porta da clínica vejo que ela está aberta.
— Rafael? — Entro chamando ele. — Rafael? — Eu não tinha resposta.
Ainda abrindo a porta lentamente uma lágrima desce pelo meu rosto, eu não sabia oque pensar, dois dias atrás eu tinha um casamento perfeito, uma clínica, um sócio e um marido. Quando abro a porta dou de cara com a clínica vazia, só tinha a mesa da secretária e mais nada, vou andando pelas salas e vejo que não tinha mais nada. Ele tinha tirado tudo ali de dentro, em nosso escritório apenas a mesa e o cofre fora da parede, não tinha nem mesmo os óvulos e sêmens congelados de nossos clientes.
Abro meu celular e algo me diz para abrir a conta bancária, à nossa conta conjunta, ela está vazia. Eu tento ligar várias vezes para Rafael, mas não consigo! Nada dele me atender. Então ligo para Layla que era esposa de Carlos e eles eram nossos amigos desde à faculdade.
— Larisse? — Rita fala assim que atende.
— Layla, você sabe do Rafael? Ou Carlos sabe? Cheguei de viagem e ele sumiu — Falo desesperada no telefone tentando entender tudo que está acontecendo.
— Você não sabe ainda de nada Larisse? — Ela fala me olhando.
— O que aconteceu? Do que você está falando? — Pergunto olhando para clínica vazia e deixando algumas lágrimas descer.
— Rafael deve ter fugido, o rosto de vocês dois estão estampados em todos os lugares na Internet e nos noticiários. — Arregalo os olhos.
— Espera! — Digo tendo um ataque — O que você está falando? Rosto na internet, noticiários? Lucas fugiu?
— Sim! Desde hoje de manhã. — Ela fala no celular — Onde você está? Estou indo para aí.
— Na clínica. — Falo desligando o celular e começo a entrar na Internet.
Entro no i********: e eu tinha milhões de seguidores e muitas mensagens me xingando, começo a procurar por notícias e quando ia abrir uma delas, alguém abre a porta e eu olho para trás vendo vários policiais.
— Larisse Silveira Martins? — O policial pergunta.
— Sim, sou eu. — Falo com o celular na mão.
— Temos uma denúncia de que você e o seu marido estão vendendo Embriões de pacientes para fora do país. — Arregalo os olhos para ele. — Você sabe do paradeiro do seu marido Rafael Martins?
— Cheguei de viagem agora, não estou entendendo nada! — Digo sem entender mesmo.
— Por favor, me acompanhe para esclarecimentos — Ele fala me olhando e Layla chega na porta.
Encaro todos, encaro a clínica e começa a passar tudo que a Layla falou, o policial e pego o celular lendo a notícia ali escrita. Vejo tudo escuro e desmaio.
(..)
Abro os olhos e estou na delegacia.
- A senhora está se sentindo melhor? - Um policial pergunta e eu encaro ele e encaro o lugar que eu estava.