Devaneios.

1361 Words
— Então... — Pigarreou, limpando a garganta. — Que tipo de negócios você faz com o meu noivo? — a garota tentou quebrar o clima que surgiu em meio ao silêncio quase erótico. Pude notar que fingia interesse na resposta. — Apenas contratos e coisas entediantes de homens. Você não quer realmente saber sobre isso, não é?! — Disse sincero e ela concordou, rindo. — Tem razão, não me importo. — Levou a taça até a boca, bebericando o seu martini. O olhar de Astryd não desgrudou do meu. — Você é realmente um duque? — Insistiu. — É como diz o título, não é? — respondi com indiferença e peguei uma das taças que o garçon colocou na nossa frente. Astryd deu outra risadinha, parecia desconfiada. — Qual é o seu castelo então, duque? — desafiou. — Castelo de Bran. Gostaria de conhecê-lo, Anghel? — Ofertei com segundas intenções. Talvez terceiras, quartas... — Talvez um dia. — deu de ombros, levando a taça até a boca sem tirar os olhos esverdeados dos meus. — Você é casado? — Perguntou de repente, exibindo um sorrisinho sacana. Contive a vontade de rir, mas neguei com um simples aceno com a cabeça. — Por que não? — insistiu. — Não sei se a vida que eu levo caberia uma esposa. — Respondi vago. Astryd apertou os olhos, me observando atenta como se tentasse me decifrar. — Boêmio? — Indagou. — Se prefere chamar assim. — disse simplista, rindo. Não, minha querida. Demoníaco, sádico, tirano! Boêmio é o narcisista ninfomaníaco do seu noivo que anseio para torturar no inferno muito em breve. — Bem, é assim que chamam os homens que levam uma vida hedonista. — Alfinetou. — Hedonista? — Arqueei as sobrancelhas ao ouvir aquela palavra, rindo outra vez. — Fala como se fosse r**m viver uma vida em busca de prazeres. — É uma vida vazia. Todos precisam de uma família. — Todos? — disse com escárnio e ela assentiu, segura daquilo. — Está errada. — Não consegui conter a arrogância, dessa vez. Astryd virou-se depressa na minha direção, aparentemente descrente com o que eu disse, ainda que empolgada com o rumo que a conversa tomava. Então ela gostava de ser contrariada? Talvez Seth nunca tenha lhe dado atenção o suficiente para que uma discussão como essa surgisse. — Não preciso de uma família. Nunca tive uma e me saí muito bem. — concluí, balançando a taça na minha mão. — É por isso que não sente falta de uma. Não podemos sentir falta do que nunca tivemos, não é? — disse com pesar. Não gostei do seu tom, tampouco do olhar condescendente. Evitei gargalhar, mesmo que a vontade fosse grande. Ainda me divertia com as nuances dos mortais. São muito estúpidos, mesmo quando tentam ser bons. Astryd se atentou ao anel de prata no meu dedo anelar com o brasão Scorpius detalhado em preto e diamante. Depois correu o olhar pelas minhas luvas de couro, bem mais curtas que as dela. Gostaria de ouvir a sua mente, mesmo que o fascínio no seu olhar dissesse com clareza o que achava e pensava de mim. Foi divertido ter a sua atenção. A garota era como uma criança - ou um animal de estimação - curiosa com a criatura desconhecida e pitoresca ao seu redor. Resisti a curiosidade de invadir a sua mente quando a sua voz quebrou o silêncio. — Além disso, é fácil para você, é homem. Mulheres são ensinadas desde cedo que precisam ser boas filhas e esposas obedientes, só assim terão algum valor. Não podemos nos dar ao luxo de fazer escolhas egoístas, como ficar sozinhas, por exemplo. — disse. — Deve ser triste viver assim. E acreditar que o seu valor está no quanto você suporta de um homem infiel, bêbado e r**m de cama, apenas para ter uma falsa sensação de segurança e realização. — respondi sugestivo. A garota corou, apesar de não fazer ideia de como é o desempenho do seu noivo na cama. Bem diferente de metade das mulheres que frequentavam o bar, ou a alta sociedade. Pergunto-me se Astryd tem conhecimento de que quase todas as suas amigas fodem com o seu noivo. — O seu maior desejo é realmente ter uma família, Anghel? — Indaguei com desconfiança. Não é possível que uma mulher como ela desejasse apenas isso na vida. Anghel parecia inteligente demais para ter sonhos tão cristãos. — E-eu... — ela riu nervosa, mordendo o lábio. Desviou o olhar do meu e depois voltou a encarar-me, pensando na resposta. — Estou noiva. Suponho que preciso querer ter filhos. — Ergueu a mão, mostrando o anel de noivado. — Bufei com a resposta vaga, revirando os olhos. Por favor, me surpreenda, Anghel. — Não foi isso que eu te perguntei. Posso ver esse anel horrível no seu dedo, apesar de precisar de uma lupa para enxergar as safiras. — Desdenhei. Ela abriu a boca chocada com a aspereza nas palavras que não contive, sem conseguir esconder a sua surpresa. — Você é muito rude! — acusou. Concordei, indiferente. — Eu, honestamente, acho que um diamante de 10 quilates ficaria muito melhor em você. Não concorda? — Me vi obrigado a tentá-la, Anghel parecia ser alguém que morderia a isca. A garota gargalhou e pegou novamente a sua taça de martini, levando até a boca. Deu um gole ainda mais generoso, ao ponto de fazer a suas bochechas queimaram e os olhos encheram-se de lágrimas. — Cuidado, Scorpius. — avisou após um breve silêncio, recuperando-se da dose. — Não pode me falar isso depois de admitir não ser um homem para casar. — Eu nunca disse isso. Eu disse que não sabia se uma esposa caberia no meu estilo de vida. Ao menos, não uma esposa comum. Você não me parece comum, Anghel. Estou errado? Astryd corou. Não era difícil ganhar cor naquela palidez implacável. — Quando eu era criança, sonhava em ser cantora. — Ela admitiu de repente, contendo uma risadinha. A observei interessado, notando a oportunidade que parecia surgir bem diante de mim. — Cantora? Interessante... Uma famosa? — Inclinei-me para frente, tocando a sua mão com a minha. — Sim, famosa. — Completou em devaneios. — Queria ser adorada, endeusada! — suspirou. — Eu sempre soube que o tal amor que tanto ouvimos falar não existe de verdade. Então idealizava a devoção de pessoas desconhecidas, como fãs fanáticos, por exemplo. É mais palpável do que a ideia do amor romântico que nós mulheres fomos ensinadas a acreditar desde crianças. — a garota riu envergonhada. — Me sinto patética por admitir isso em voz alta, ainda mais para um duque. Alarguei o sorriso debochado. — Não acredita em amor, Anghel? Eu sabia que você era especial. — Arqueei as sobrancelhas com diversão declarada. — E se eu dissesse que posso te ajudar, o que você me diria? — Que está louco! Era o meu sonho de infância, Scorpius. Não me permito mais sonhar. — completou amarga e depois riu um pouco mais alto, entregando os efeitos da bebida. — Mulheres com a minha casta não podem se dar a esse luxo, desonraria a minha família. Fui criada para ser esposa, não para ter uma vida boêmia. — arfou, parecendo derrotada pela dura realidade. — É um erro tentar agradar qualquer pessoa que não seja você mesma. — Alertei. — Tente falar isso ao meu pai. — respondeu sarcástica, terminando o martini numa rapidez assustadora. Deixou a taça na mesa e arrumou a pulseira de brilhantes sobre a luva no braço esquerdo, inquieta. — Não depende dele, depende de você. — disse com a voz mansa, ganhando novamente a atenção de Astryd. — E do quanto está disposta para ter o que quer. — Completei com malícia. Ela me olhou silenciosamente por alguns segundos, parecendo estudar as minhas palavras, depois puxou a sua mão para longe da minha, sutil. — Acho que estou bêbada. — Forçou uma risada, endireitando os ombros. — Preciso encontrar o meu noivo... Concordei por ora, apontando com a cabeça na direção de Seth que saía por detrás das cortinas vermelhas com fácil acesso aos fundos do bar.
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