O plano de reconquista
Xavier Lancaster
Eu saí do escritório do Brian com uma sensação estranha. Não era mais a fúria quente de há minutos, mas sim uma determinação fria e focada. Brian tinha razão. Eu não estava com medo de perder o controlo da empresa para ela; eu estava apavorado de perder ela. O medo de não ser a razão do seu sorriso era um novo tipo de due diligence emocional, e eu não podia falhar nesta aquisição.
Voltei para o meu andar, e a luz do final da tarde era agora um crepúsculo. Daniela Marçal ainda estava na sua pequena sala, a fechar o relatório. Ela parecia uma estátua de eficiência, o cabelo apanhado e o blazer cinzento, as minhas compras, a gritarem o seu valor. Ela levantou os olhos quando me aproximei. O olhar era o de sempre: cortesia profissional, afiada e desarmante.
— Xavier? — A voz dela era límpida, sem a faísca de desafio de há pouco.
Parei ao lado da sua mesa, a minha sombra ainda a cobrir a dela. Eu tinha de fazer isto de forma diferente. Não como CEO, não como controlador, mas como… o homem que a beijou na Suíça.
— Largue isso, Marçal — comecei, a minha voz era suave, mas autoritária, o que era um péssimo começo. Corrigir imediatamente. — Dani. Precisa de sair.
Ela franziu a testa, o que era um bom sinal. A minha alteração no apelido fez efeito.
— Tenho de fechar o follow-up do Viena, Xavier. Se for para jantar de negócios, preciso de uns minutos para me preparar.
— Não é trabalho. — Apoiei na ponta da mesa, inclinando para a frente. Eu estava a bloquear o seu escape, mas desta vez, não era por fúria, era por propósito. — É um encontro.
Ela parou. Os seus olhos castanhos, geralmente de puro raciocínio, registaram uma confusão genuína. Ponto para mim.
— Um... encontro? — ela repetiu, como se a palavra fosse um código que ela não conseguia decifrar. — Xavier, o nosso contrato não exige a simulação de encontros fora do contexto social da Olívia.
O meu maxilar apertou. O contrato. Sempre o maldito contrato. Algo que eu ainda não tinha nem feito, não assinamos nada ainda.
— O meu braço direito me chamou Dani e riu consigo sobre um buraco logístico. O meu CFO está a reanalisar números por causa de um olhar seu. Eu estou a ter surtos de raiva primitiva no meu escritório. — Eu inclinei mais, a minha voz agora um sussurro grave. — Isto não é sobre o contrato, Daniela. Isto é sobre reivindicar a minha noiva.
Eu vi um pequeno rubor nas suas bochechas. A faísca de conhecimento voltou aos seus olhos.
— Onde vamos? — Ela não sorriu, mas havia um brilho de antecipação.
— Para onde o seu sorriso não pertença à Lancaster & Associates. Não a vou testar. Vou conquistar. — Endireitei a minha postura. — Esteja pronta em dez minutos. Vou levar você a um lugar onde a única aquisição que farei esta noite será a sua atenção.
Ela assentiu meio perdida, a sua perfeição parecia finalmente vulnerável.
- E a Olívia? Prometi que hoje... - A interrompi.
- Vamos levar uma supresa para ela, não me teste, Daniela. Foi você que procurou isso, então assuma o que tem cativado.
O meu plano estava a ser executado com precisão. O carro estava à espera. O restaurante, na cobertura, era privado, com uma vista que se comparava ao topo do meu próprio penthouse. Não era para impressionar o ativo, era para partilhar o meu mundo com a mulher.
Estávamos no elevador executivo, apenas nós os dois. Eu conseguia sentir o perfume floral que pairava sobre a sede, e por um momento, pensei que iria finalmente quebrar a barreira da eficiência.
— Marçal… Daniela — comecei, virando para ela, pronto para fazer um discurso desajeitado sobre os meus sentimentos.
— Você está a melhorar — interrompeu ela, o seu sorriso pequeno e devastador estava de volta. — Não se esforce tanto, Xavier. Gosto quando você se atrapalha.
A perfeição dela era insuportável.
A porta do elevador abriu no andar executivo, e o meu mundo colapsou. A minha secretária, a Sra. Joana, estava de pé ao lado de um grupo de pessoas, com os olhos arregalados de pânico.
Os meus pais.
Eles estavam ali, de pé, no meio do meu santuário de controlo. O meu pai, com o seu terno feito à medida e o olhar de águia que nunca aprovava nada. E a minha mãe, a imagem da elegância gelada. Eles não tinham anunciado a sua chegada. Eles nunca o faziam. A Sra. Joana tremia.
— Xavier! — A minha mãe avançou, ignorando a Sra. Joana. — Que bom que te encontramos. Viemos de surpresa. O teu pai está…
— Onde está a noiva? — O meu pai. Direto ao ponto, como sempre. A sua voz, um trovão baixo, a ecoar pela sala. — Tínhamos que a conhecer antes desse anúncio desastroso. Precisamos de discutir a cláusula de não concorrência e a segurança do capital antes do anúncio oficial.
Ele olhou para Daniela, que estava ao meu lado. Os seus olhos varreram ela da cabeça aos pés, um scanner de valor e pedigree. O olhar de um predador a avaliar a caça.
Daniela Marçal, a estagiária que se tornou o meu ativo mais valioso, e que eu estava prestes a levar para o nosso primeiro encontro romântico, não se encolheu. Ela se endireitou, a sua postura de blazer de corte irrepreensível era a de uma CEO.
— Boa noite, Sra. e Sr. Lancaster — disse ela, a voz profissional e límpida, com uma confiança que beirava a arrogância controlada. Ela estendeu a mão para o meu pai. — Sou Daniela Marçal, e serei a sua futura nora. Sinto muito, mas vamos ter de adiar a nossa discussão. O Xavier tem um encontro importante para honrar.
Ela estava a usar o meu argumento. A minha garganta apertou. Eu queria a discussão. Eu queria que ela se escondesse. Mas ela estava a dar a sua melhor perfeição.
O meu pai hesitou. Pela primeira vez na vida, a sua mandíbula de aço tremeu com surpresa.
— Um... encontro? — repetiu, exatamente como Daniela tinha feito.
— Sim, pai. — Eu recuperei a compostura, entrando no jogo. Passei o meu braço pela sua cintura, a minha mão a apertar como tentando ter controle. Reivindicado. — A Marçal está sob o meu controlo direto neste momento. Ela é a minha noiva, e o nosso contrato matrimonial exige que a minha atenção seja prioritária. Vamos conversar amanhã.
Eu a senti relaxar sob o meu toque. A faísca de conhecimento nos seus olhos dizia: Eu sou funcional, e a minha função é ser melhor que o seu passado.
— Agora, com licença. — Eu a puxei na direção do elevador, deixando os meus pais paralisados e a minha secretária à beira de um ataque de nervos.
O elevador desceu, e eu olhei para ela. Ela estava a sorrir. Um sorriso pequeno, de satisfação silenciosa, que não era dirigido aos meus pais, mas a mim.
— O encontro importante de que falámos não era o jantar, era? — perguntou ela.
— Não. — O ar na minha garganta estava preso. — O encontro importante era fazê-los perceber que você não é um ativo, mas a minha noiva. E o que eu faço é da minha conta. Eu amo a perfeição insuportável em você, Daniela.
Eu iria reivindicar a minha noiva. Mas agora, os meus pais estavam na cidade. A única coisa mais desafiadora do que tentar ser romântico com Daniela era apresentar à União de Ativos Perfeita que me criou.