Conclusões precipitadas.

1362 Words
_ Nunca amei o Marcelo. Amor eu tenho por ti, e é forte como um tornado. Depois que te conheci, não tenho mais meus pés no chão; vivo flutuando - proferiu Camila. _ Eu vi o esmero que você teve ao se preparar para o encontro com ele. Eu sangrava ao acompanhar a garota que amo ir para outro - revelou Varuna, sentando-se na borda da cama. Camila assustou-se; não sabia sobre isso e juntou as sobrancelhas. _ Há quanto tempo você me vigia? - indagou a moça, arrumando a cama para poder deitar. _ Eu mencionei, minha rosa. Há muito - disse o espectro, erguendo-se e indo para o outro lado da cama. Retirou os sapatos e deitou-se. A jovem aconchegou-se bem perto do corpo etérico do fantasma. Os dedos de Varuna fizeram um carinho gostoso em sua face, retirando alguns fios e os acomodando por detrás da orelha, que tinha um brinco de pérola; um bonito e singelo adorno. _ Estou desencarnado há tanto tempo e, desde que parti, vivo aqui em Bella Flor. Acompanhei a sua chegada, tão menina. Tive raiva da sua família, queria os expulsar daqui - confessou ele, bem baixinho. De olhos bem atentos, assim como os ouvidos, a jovem prestava atenção em tudo, inclusive em como os olhos do seu amado variavam de tom conforme as emoções que sentia. Se estava feliz, o azul ficava bem claro, translúcido; a tonalidade de um azul mais fechado se fazia presente quando colorido por algo. _ Mas por quê? Meu pai comprou essa propriedade com tudo registrado e lavrado em cartório - perguntou, sentindo uma pontada de tristeza por causa da revelação que teve. _ Essa fazenda é minha, Camila, nunca deixou de ser. Bella Flor foi minha paixão em vida e continua sendo depois da morte. Sempre almejei adquiri-la e consegui, apesar de que isso me custou um alto preço. O valor que Varuna se referia não era os muitos depois de um cifrão. Ele se referia aos sonhos que teve que abortar, aos projetos que abriu mão. Impactada, a jovem levou quatro dedos da mão direita aos lábios. Ficou sabendo que aquele lindo espaço cheio de verde foi do fantasma que ama. — Céus, Varuna! Então, você viveu aqui nessa casa, andou por essas terras e... — ela apertou os olhos e engoliu em seco — esse quarto era seu, não? — perguntou, acreditando que sim. No fundo, depois de fazer a descoberta de que o casaco era dele, cogitou a possibilidade de que o fantasma, quando vivo, passou por aquele lugar, por aquele imóvel e pernoitou naquele quarto. O espectro beijou o rosto da sua linda menina. _ Sim, meu amor, esse quarto é meu. Nessa cama em que hoje deito com você, dormi muitas vezes sozinho. Aqui, nunca houve outra mulher, somente você. É o meu local sagrado, meu regaço de paz - confessou. Não queria que Camila pensasse que aquele colchão tinha sido batizado com o suor e os fluidos corporais de outra fêmea. Camila abriu os olhos devagar e beijou o peitoral do fractal. _ Seus olhos sempre estiveram em mim. Mas por que mudou de ideia quanto a nos expulsar de suas terras? - perguntou a jovem, sentindo o cheiro gostoso que exalava do fantasma. _ Você. No início, eu te achei estranha, feia e muito magrela. Singela demais e, mesmo assim, algo me puxava para você - revelou, e Camila apertou os lábios um contra o outro. Ele não era o primeiro rapaz a falar sobre o quanto ela tinha um jeito esquisito. Quando adolescente, os meninos da escola faziam troça da sua magreza excessiva; sempre foi alvo de piadas e chacotas. Sempre lhe feria os comentários maldosos; porém, aprendeu a conviver com essa dor muda e surda. Aprendeu a carregar essa dor invisível que não existe aos olhos dos demais, mas que estava açoitando o seu corpo por dentro. — E a Tabata, o que achou dela? — indagou, sem erguer o olhar para o seu amado. — Sua irmã tem a beleza que muitas mulheres que pertenceram ao meu meio social tinham; digo, quando eu era vivo — exprimiu, e Camila sentiu-se m*l. Virou de costas para o fantasma. Lágrimas caíram dos seus olhos. Ela sabia que nunca fora bonita, cheia dos predicados que as beldades ostentam com seus corpos esculturais e os rostos de deusas gregas. Não era a personificação da beleza, mas ter a concepção, errônea, deixo claro, de que Varuna pensava assim lhe rasgou o peito. O fantasma não entendeu a razão para a jovem distanciar-se do seu aconchego; gostava de sentir o calor do seu corpo feminino, e isso o fez estranhar tal comportamento. _ O que foi, minha rosa? Por que se afastou de mim? - indagou, tocando nas costas miúdas da menina. Sentiu um vibrar estranho, não gostou. Alçou a fina cintura da pequena e a puxou para si. Camila cobriu o rosto com as mãos. _ Não faça isso, deixe-me olhar para você, meu pedaço de sol. - pediu gentilmente e de modo terno o fantasma. Escondida pelas palmas cheias de digitais, a moça não permitiu. _ Se sou feia, por que está aqui? Por que não escolheu a Tabata para assombrar? - sussurrou tristemente, magoada. Varuna olhou com muito carinho para o seu pedacinho de céu. Mudou de posição, ficou à sua frente e, com muita calma, retirou as pequenas mãos que cobriam a face do seu maior encanto. Enxugou suas lágrimas pacientemente. _ Não disse que te acho feia. Você é linda! Tem uma beleza diferente, crua, pura. Não precisa usar enfeites e maquiagem para construir um rosto bonito, nem de procedimentos estéticos para ter um corpo perfeito. Tudo em ti, minha menina, é pura perfeição. Grato sou por ser o dono de tudo que meus olhos contemplam. - foi sincero, embora na cabeça dura da moça ainda persistisse o que ela interpretou de sua fala: que Tabata era bonita e ela não. — Não minta, você acabou de dizer que a Tabata é bonita e eu não! Ainda comparou a minha irmã às mulheres do seu ex-ciclo social. Eu sei que sou apenas o seu consolo, a garota caipira que... — Varuna colocou dois dedos nos lábios da menina, pedindo silêncio; não queria ouvir mais das palavras trocadas que a jovem vocalizava. _ Eu apenas disse que, quando pequena, você era sim apenas um botão ralo. Só que se transformou na mais linda rosa. Camila, sua beleza é incomparável. Você possui delicadeza e suavidade; seu rosto possui simetria e o contorno parece ter sido lapidado à mão livre. Gosto da cor e expressividade dos seus olhos, do formato dos seus lábios e do nariz. Você é encantadora, enfeitiça sem ter noção disso. Assim como exala uma sensualidade repleta de romantismo sem se dar conta. - Varuna explicou e abraçou a garota. _ Teve muitas namoradas? - indagou ela, sentindo uma pontada de ciúmes; afinal, lindo como ele era, sendo apenas um espírito. Quando encarnado, com certeza arrasava corações por onde passava. _ Mulheres muitas; namoradas foram poucas. Eu gostava de quantidade e não de qualidade; gostava da liberdade de poder ter quem quisesse, sem ter que me preocupar em dar satisfação a alguém. Presava esse meu lado caçador, libertino e nenhum pouco exclusivo - confessou e olhou dentro dos olhos da menina.- Mas foi depois que não mais respirava que descobri que queria pertencer a alguém, que queria que essa pessoa fosse somente minha e eu exclusivamente dela. Seríamos como fiéis, adorando em nossos templos. Eu seria o dela e ela o meu. Não nos soltaríamos, mesmo que o balanço das marés virasse o nosso barco; não nos perderíamos, mesmo que o vento soprasse fortemente nos levando para lados opostos, porque ela seria meu norte e eu seria a sua bússola, e o nosso amor seria a nossa estrela guia. Eu quis isso quando me vi amando você, desejando-te com todo o meu âmago. Entende o que se passa em mim? Entende que você é o meu tudo e que, sem ti, sou menos do que sou agora? - perguntou ele, tomando do doce mel da sua boca.
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