Surtos espectrais.

1841 Words
Por volta das quinze horas, os colegas de turma da menina começaram a chegar; entre eles estava Marcelo. O rapaz foi agregado ao grupo sem nem mesmo Camila saber. Foi um choque para ela ao ver o moço moreno descer do carro junto com os demais. Os olhos da menina não piscaram; contudo, seu coração foi às solas dos pés. Marcelo trazia nas mãos, além de uma sacola plástica com algumas coisas, um lindo buquê de rosas. Depois do passeio frustrante, a relação entre os dois modificou-se muito. Camila não mais dirigia a palavra ao jovem que considerava insolente; ele não conseguia esquecer a garota e descobriu-se apaixonado. Condenou-se diversas vezes por ter sido rude e descortês com a bela moça. Procurou uma forma de conversar com a colega de turma, mas não teve êxito. Decidiu esperar que o tempo se encarregasse de dar-lhe um sinal, e este veio com o telefone de um colega de turma, Gabriel, convidando-o para fazer parte do grupo e informando-o sobre o trabalho e muitas outras matérias que Marcelo tinha perdido. Acontece que o garoto foi acometido por uma forte gripe e não teve forças para ir à escola. O sorriso que ele deu ao ver Camila deixou Mi, Bea, Elaine, Mari e Ivonete trocando olhares cúmplices. Gabriel pegou na mão de Bea e fez a menina parar na metade do caminho; ele queria aproveitar o momento para desfrutar dos lábios carnudos da menina de energia contagiante. — Aaaêêêêêê!!!!! — gritaram as outras meninas em coro. Marcelo deu uma olhadinha por cima do ombro e viu a cena calorosa entre os pombinhos. Teve uma pontada de inveja; almejava fazer o mesmo com Camila, ter os lábios dela juntos aos seus, o gosto dela misturado ao seu, a língua dela enrolada na dele. O que o rapaz iludido não sabia é que a moça com cheiro de mato não tinha mais o olhar de encanto curvado sobre sua pessoa, e sim por outro alguém. Bea e Gabriel seguiram atrás dos demais, juntos, de mãos dadas. Marcelo foi o primeiro a chegar perto da varanda. Correu seus olhos gulosos pelo corpo do alvo de seu desejo. Camila percebeu os olhos compridos do moço, porém fez de conta que nada estava vendo. Preferiu abster-se de comentários; isso poderia dar margem a interpretações erradas por parte dele. — Oi, tudo bem com você? — o rapaz perguntou, parando no primeiro degrau. As palavras saíram tímidas. A menina olhou para o garoto e usou a educação que seus pais lhe deram. Evaristo e Alda sempre instruíram os filhos a tratarem os seus semelhantes como gostariam de ser tratados, para que eles se sentissem bem e acolhidos; afinal, somos todos iguais. _ Oi, sim, Marcelo, e você, como vai? - indagou, com um pequeno sorriso no rosto, que foi morrendo ao ver seu amor surgindo de trás de um tronco de uma árvore. Varuna olhava a cena com certa irritação, e tudo ficou pior quando Marcelo se pôs de joelhos diante de Camila, com o ramalhete em mãos. O alvoroço entre os colegas demis foi tanto que os pais e os irmãos da menina correram para fora e testemunharam o desenrolar do ocorrido. _ Fui um completo i****a no dia do passeio. Aceito qualquer ofensa que queira me fazer, mas aceita ser minha? Quero você, Camila; namora comigo? - a moça foi de pálida para transparente. _ Caaammmiiiillllla!!!!!! - Varuna gritou, irritado. Ninguém mais ouviu, além da moça, que recebeu o grito com um estremecimento no corpo. Para os demais, um vento repentino começou a soprar com tanta força que a terra batia contra a pele dos presentes como se fossem tiras de chicote. _ Vamos, entrem todos! - mandou Evaristo. Marcelo terminou de subir a escada, pegou Camila pelo braço e a arrastou para dentro. Varuna correu desesperado e cheio de raiva. Passou pelos corpos dos colegas da menina e parou na frente da jovem. Mirou o corpo da garota e engoliu em seco; na sua opinião, ela estava vestida para colocar qualquer homem no chão: shorts jeans de cor branca, colado nas coxas e bem curto, um top que nada mais era do que uma faixa de tecido cobrindo os dois montes açucarados que fazem a boca de moleques como Marcelo salivarem. Camila livrou-se das mãos de Marcelo, olhou para o fantasma e ficou desconcertada com toda a situação. _ São suas, minha princesa. _ proferiu Marcelo, ofertando o presente escolhido com muita dedicação para a menina que arrebatou o seu coração. _ Não ouse pegar! _ avisou o espectro, dobrando os punhos das mangas da sua camisa. Parecia mais que ele estava preparando-se para uma briga, um embate corpo a corpo. _ Sinto em rechaçar as flores, Marcelo, mas não posso aceitá-las. _ disse, abrindo um sorriso amarelo na direção do rapaz. Alda achou a atitude da filha um despautério e tomou a frente da situação. Foi a típica entrometida, não deu nem tempo para Evaristo segurar a esposa. Alda, por muitas vezes, era mais escorregadia do que quiabo. _ O que é isso, minha filha? O rapaz lhe trouxe essas flores lindas e você vai fazer essa desfeita? Mas não vai mesmo! _ disse, pegando o bonito embrulho das mãos do rapaz. _ Ela aceita, meu querido! Obrigada, são maravilhosas! Irei colocar num jarro com água e depois coloco no quarto dela. _ falou, cheia de sorrisos. A mãe de Camila saiu da sala com as flores e Marcelo olhava para a jovem moça com olhares de cobrança; ele queria uma resposta. Evaristo percebeu o desconforto da filha, que agia de uma forma estranha. O progenitor notou que Camila dava olhadelas esquisitas para o nada e que seus olhos ficavam arregalados. Pensou que sua menina procurava uma válvula de escape. Nem cogitava, nos seus melhores ou piores sonhos, que sua menina estava vendo um morto enciumado. — Filha, será que posso ter um minuto com você? — perguntou o pai protetor. — Claro, pai! — respondeu a menina, pedindo licença aos demais, e saiu atrás do pai, seguindo o patriarca escada acima. Evaristo passou pela saleta e adentrou o corredor, parou e mirou o rosto da garota que se aproximava pensativa. — Qual é o problema, filha? Você está estranha e desconcertada junto aos seus amigos! Quer falar sobre isso? — indagou o pai, cruzando os braços. Camila sentiu o cheiro do perfume de Varuna e, pelo seu olhar periférico, viu o seu amado surgir no corredor. _ Marcelo espera por uma resposta.- disse observando, indiretamente, o espectro parar de braços cruzados bem ao lado do pai. O olhar da pequena tremeu, vacilou e Evaristo percebeu. _ Olhe para mim, Camila, estou aqui e conversando com você. - disse, estalando os dedos na frente do rosto da filha. _ Desculpa, eu só não sei o que dizer ao garoto. - disse sem pensar muito e Varuna ergueu uma sobrancelha em descontentamento. _ Como não sabe! Tem dúvidas, Camila? Você sabe muito bem que é minha! Somente minha e de ninguém mais!- proferiu o fantasma no calor de sua ira. O senhor Esteves coçou a cabeça e respirou fundo. _ Isso é simples, minha filha, olhe para dentro de você e veja se ele está ai . Procure pelos sinais que indicam que o garoto ganhou o seu coraçãozinho ou não. Não fique com ninguém por pena ou por agradecimento, nenhum homem merece isso e muito menos você. Se não gosta, se não é o que quer para sua vida, diga não. Um não, não mata e nem deixa a pessoa humilhada. Seja sutil, delicada. Explique o porque desse não. Vai doer nele, mas daqui há algum tempo o rapaz verá que foi melhor assim.- isntruiu o pai com todo o seu conhecimento que adquiriu vendo os seus amigos insistirem em relacionamentos fadados ao fracasso. _ Farei isso, pai, muito obrigada!- disse e recebeu um abraço carinhoso do progenitor, do seu herói. Varuna passou por de trás dos dois e fez um menear de cabeça para Camila; um sinal indicando que estava no quarto a sua espera. _ Vamos descer, seus colegas te aguardam.- disse o pai, arrumando os óculos na face. _ Eu preciso pegar alguns materiais para fazer o trabalho. Daqui à pouco eu desço. - deu a desculpa que não era de um todo uma mentira descabida. Ao entrar no quarto, Varuna pegou Camila pelos braços e escorou seu corpo contra a porta, olhou fixamente para o corpo da menina. _ Vestiu-se assim para ele? Sabia que aquele maldito vinha e escondeu isso de mim! Está pretendendo o quê, Camila?- disse, erguendo o olhar injetado de raiva; tinha fogo em suas iris azuis. Camila respirava rápido, hiperventilando. O seu fantasma estava cheio de raiva e isso era mais do que nítido. _ Não sabia da vinda dele e me solta, não gosto desse seu comportamento. - falou a moça com firmesa, empondo-se com total equilíbrio. Varuna soltou Camila e saiu andando pelo quarto, tinha muito ciúmes dentro de si. Sentou-se na cama, abaixou a cabeça e passou as mãos pelos fios. _ Perdão, não consigo lidar com o ciúme que sinto de ti. Ver aquele moleque fazer algo que eu nunca poderei; chegar na frente de todos e pedir para que seja irremediavelmente minha. Falar com seus pais sobre minhas intenções sinceras e honrosas para contigo, acaba comigo.- disse e o seu olhar de tristeza caiu sobre a jovem como uma manto frio, confecionado no puro gelo. Camila aproximou-se do seu amado e abaixou-se em sua frente. Colocou suas pequenas e delicadas mãos em cima das dele. _ Quando meu pai me pediu para que eu olhasse para dentro de mim, fiz isso e vi você. Se estou contigo, não é por pena ou qualquer outra coisa; estou com você por amor. Esse sentimento é especial; eu te escolhi, você me escolheu. Nosso amor é diferente; nunca nenhum amor é igual ao outro; ele tem várias faces, várias formas e complementos. Muitos amam para toda a vida, e eu te amo para todo o sempre - confessou a jovem. Varuna ergueu-se, levando a moça consigo, abraçou-a e beijou seu pedaço de céu. _ Te amo, menina! Te amo insanamente, imensamente! Quero ter muitas outras continuações ao seu lado - disse, cheio de emoção. _ Será assim! Somos um, Varuna, não importa como, nós somos um! - disse Camila, sentindo o perfume gostoso do seu fantasma. Varuna procurou desesperado pelos lábios da sua amada. Eles eram suas asas, o faziam voar pelo céu e ser jogado no calor do inferno, sendo tentado pelos seus desejos masculinos. _ Essa sua roupa, está brincando comigo. Te quero, Camila. - sussurrou baixinho, segurando as laterias da cabeça da jovem donzela. _ Nunca fiz nada disso, nem sei como começa...- revelou a garota mantendo os olhos fechados. Varuna trouxe Camila para si, abraçou mais uma vez sua amada. Sabendo que tinha uma certeza consigo, não poderia perder aquela jovem mulher para ninguém, nem nessa vida e nem em qualquer outra.
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