O peso do título de Don ainda pesava sobre os ombros de Max como uma armadura recém-forjada, rígida e desconfortável. Ele sabia que, para manter a ordem e garantir a sua liderança, precisava conquistar cada homem sob o seu comando. Mas a divisão entre os seus soldados e os guerreiros de Kenai criava um abismo difícil de atravessar. O ressentimento era palpável, e Max precisava agir antes que se transformasse em algo mais perigoso.
Kenai, sempre atento, percebia o descontentamento dos homens. Os soldados que serviram a Hector por anos viam a ascensão dos mestiços como uma afronta, um sinal de que estavam sendo substituídos. Alguns murmuravam que Max os traía ao confiar tanto em um forasteiro. O próprio Kenai, ciente do desconforto, tentava provar o seu valor, mas sabia que para muitos, a sua presença ainda era indesejada.
Durante aquela semana eles haviam percebido alguns olhares desconfortáveis por um certo grupo de soldados, aqueles que eram mais próximos do antigo Don, e que agora esperavam ser tratados da mesma forma por Max, mas ele se esqueciam que Max não se deixava levar pelas aparências e os soldados para estarem ao seu lado precisavam mostrar a sua força e lealdade.
Naquela noite de luar prateado, Max reuniu os homens no pátio de treinamento. Precisava resolver a situação antes que ela fugisse do controle. Ele não abriria mão daqueles que eram leais a ele e deixaria claro aqueles que o questionavam o que aconteceriam se eles insistissem naquilo.
— Sei que alguns de vocês se sentem descartados — começou, a sua voz firme cortando o ar frio. — Sei que há dúvidas sobre a minha liderança e sobre os guerreiros de Kenai. Mas nas últimas semanas eles foram quem mais trabalhou aqui dentro, sem questionar ou reclamar, apenas fizeram o que eu mandei, diferente de algum de vocês que se recusaram a cumprir com os seus deveres.
Um dos soldados, um homem corpulento chamado Rocco, deu um passo à frente. Os seus olhos eram duros como pedra.
— E como podemos confiar neles, Don? Foram estranhos por toda a vida e, agora, são nossos irmãos de batalha? Não sabemos nada sobre eles!
Kenai cruzou os braços e encarou Rocco. Ele entendia em parte aquela atitude já que o pessoal de Kenai sempre lidou com assuntos fora da Itália, mas agora que Max tinha assumido ele via o potencial deles e não desejava abrir mão daquilo, e ele não deixaria o seu Don na mão por causa de fofocas de outros soldados.
— O que mais você precisa saber além de que estamos aqui, lutando ao seu lado? — retrucou, sem levantar a voz, mas com autoridade. — Durante o governo de Hector sempre fomos leais a ele, e a minha família jamais questionou a autoridade dele quando escolhiam um de vocês para um cargo importante, penas aceitávamos. Por que não podem fazer o mesmo agora?
Max interveio antes que o clima esquentasse. Ele não desejava uma luta entre os seus soldados, precisava que eles lutassem unidos.
— Confiança se constrói no campo de batalha. Se há dúvidas, então vamos resolvê-las agora. Amanhã, teremos um torneio. Homens contra homens, guerreiros contra guerreiros. Se querem provar o seu valor, que o façam diante de todos.
A decisão foi recebida com murmúrios. Alguns pareciam animados, outros hesitantes. Mas ninguém contestou. Era um desafio justo.
Na manhã seguinte, o campo de treino fervilhava com a expectativa do torneio. O sol iluminava os rostos determinados dos combatentes. Kenai e os seus guerreiros enfrentariam os homens de Max em lutas de habilidade e força. Não era uma questão de vencer ou perder, mas de respeito.
Aquilo fazia Max se lembrar de Ricardo que sempre levava as pessoas para o tatame quando tinham alguma divergência entre eles, e naquele momento aquela era a melhor forma de evitar uma guerra entre eles.
Os primeiros combates foram acirrados. Cada lado mostrava a sua destreza, sem misericórdia, mas com honra. Kenai demonstrou a sua perícia com lâminas, derrotando um dos veteranos sem esforço excessivo. Outros soldados mestiços seguiram o seu exemplo, provando que não estavam ali para tomar o lugar de ninguém, mas para lutar ao lado deles.
Quando a última luta terminou, um silêncio respeitoso pairou no ar. Não havia mais olhares de desprezo, apenas o reconhecimento de que todos ali eram guerreiros, independentemente das suas origens. Os soldados italianos estavam impressionados com as habilidades dos outros e principalmente com o respeito que eles demonstravam com os seus adversários após cada luta.
Max subiu em uma caixa de madeira para que todos o vissem e ergueu a voz:
— Agora vocês se conhecem melhor. Vêem que não há fraqueza entre nós, apenas diferentes formas de lutar. Vamos usar isso a nosso favor e não contra nós.
Rocco, ainda suando da luta, assentiu lentamente.
— Talvez eu tenha julgado cedo demais, Don. Podemos ter as nossas diferenças, mas todos queremos a mesma coisa: uma vida melhor para as nossas famílias.
Um coro de concordância ecoou. O primeiro passo para a união havia sido dado.
À noite, enquanto bebiam e comemoravam a nova aliança, Kenai se aproximou de Max.
— Você soube como agir. Transformou o conflito em algo produtivo. — Diz ele enquanto pegava uma cerveja e se sentava ao lado de Max e Leonardo
Max suspirou, sentindo o peso da responsabilidade. Ele sabia que aquelas pessoas precisavam dele e da sua liderança, assim como ele precisava delas para obter os seus objetivos.
— Ainda há muito a fazer. Mas agora temos um exército de verdade.
Kenai assentiu.
— E qual é o próximo passo?
Max apertou o copo entre os dedos. O seu coração ainda pertencia à Isabel, e a sua mente estava focada no seu objetivo de mostrar a Vito que era capaz de cuidar de Isabel, ele havia pedido uma prova e ele daria a ele.
— Pela cara do Don, acho que tem a ver com Don Vito. — Diz Leonardo rindo.
— A amo, e farei tudo o que puder para te-la ao meu lado. — Responde de forma sincera.