Capítulo 1
Isabel estava sentada na sala, em frente ao piano. A instrutora tentava chamar a sua atenção para a partitura à sua frente, mas seus pensamentos estavam em outro lugar — mais especificamente, em um certo homem que carregava uma tatuagem de fênix.
Ela não sabia quando o seu coração começou a vacilar em direção a ele, mas já não conseguia mais ignorar o sentimento que crescia dentro de si. Imaginava-se passando a mão por seus cabelos enquanto mordia aqueles lábios grossos. Apenas pensar nisso a fazia suspirar, e ela agradecia aos céus por seu pai não estar ali naquele momento. Do contrário, estaria perdida tentando explicar a razão da sua falta de concentração.
— Senhorita Isabel? Senhorita Isabel? — chamou novamente a mulher, fazendo-a encará-la.
— Me desculpe, Mary, estava distraída. — respondeu ela, corando. Diante do olhar chateado da mulher.
— Você tem estado assim nas últimas aulas também. Precisa se concentrar. — repreendeu a mulher.
Mary era uma senhora de uns cinquenta anos que havia ensinado etiqueta a outras filhas de Dons. Por isso, o seu pai achou interessante contratá-la para ensinar a Isabel as regras da máfia, já que ela não as conhecia. No início, tinha sido útil, mas agora aquelas lições tediosas consumiam grande parte do seu dia e a deixavam entediada.
— Eu realmente não consigo continuar hoje, Mary. Você pode ir, depois explico ao papai o que houve. — disse Isabel, tentando se livrar da mulher.
— Lamento, senhorita, mas não quero me indispor com Don Vito. Ele foi claro ao dizer que não deveria faltar às lições.
Era nessas horas que Isabel amaldiçoava o nome do pai. Todos temiam Don Vito, e ninguém a ajudava nas suas pequenas rebeldias.
Vito Romano era um homem que ninguém desejava enfrentar. Não hesitava em fazer o que fosse necessário, e, quando decidia algo, poucos ousavam contestá-lo. Todos evitavam se colocar no seu caminho, o que era péssimo para Isabel, já que nem mesmo a sua professora aceitava dispensá-la sem uma ordem expressa dele.
Ela não podia culpá-lo por sua proteção exagerada. Depois da maneira como descobriu que tinha filhas, Vito tornou-se ainda mais cuidadoso, e todos sabiam que os seus olhos estavam sempre atentos às meninas. No momento, a preocupação dele era especialmente com Isabel, a única solteira da casa.
Suspirando, Isabel pegou o celular sobre a mesa. Encontrou o número do pai na agenda e discou. Não foi nenhuma surpresa quando ele atendeu no segundo toque. Vito tinha um toque especial para as filhas e raramente não atendia. Quando isso acontecia, sempre havia alguém para informá-las do motivo antes que ele retornasse a ligação.
— Alô? Está tudo bem, minha princesa? — perguntou ele, com a voz preocupada.
— Oi, papai. Estou bem, mas não consigo me concentrar na aula. Acha que poderia dispensar a Mary hoje? — perguntou ela. Isabel ouviu o suspiro de Vito do outro lado da linha, ele não gostava quando ela dispensava a professora.
— Sabe que essas aulas são importantes para você, querida.
— Eu sei, papai, mas hoje realmente não consigo. Queria apenas poder ler um livro na biblioteca até você retornar.
— Tudo bem, Isabel. Mas, quando eu chegar, vamos conversar sobre isso.
— Obrigada, papai! Te amo. — respondeu ela, animada.
— Também te amo, querida. Fique bem. — disse ele, desligando.
— Está tudo certo, Mary. Você pode ir. — disse Isabel, sorrindo, ao menos ela teria um tempo para organizar os seus pensamentos até o seu pai chagar.
— Apenas a senhorita consegue essa façanha com Don Vito. — comentou a mulher, balançando a cabeça enquanto recolhia as suas coisas.
— Isso é porque ele me ama, Mary. — disse Isabel, levantando-se animada. Foi até a senhora e lhe deu um beijo na bochecha. — Até mais.
Sem esperar resposta, Isabel correu para o quarto. Assim que fechou a porta, pegou o telefone e ligou para Estela. Precisava saber como estavam as coisas no complexo.
— Já está com saudades? — perguntou Estela, ao atender a videochamada.
— Sempre, Estela. Odeio ficar longe de você.
— De mim ou de um certo soldado? — provocou ela, arqueando a sobrancelha.
— Dos dois. — respondeu Isabel, rindo.
— Você precisa conversar com ele, Isabel. — disse Estela, balançando a cabeça. — Ele precisa saber.
— Você sabe tão bem quanto eu que papai jamais concordaria com isso. Ele é orgulhoso demais para permitir que eu me case com um soldado, Estela.
Elas já tinham tido aquela conversa várias vezes e sempre chegavam ao mesmo impasse: Don Vito Romano.
— Ao menos fale com ele. Sempre vejo esses olhares de vocês, mas nunca nem ao menos conversaram para ver se é recíproco.
Isabel nunca teve coragem de conversar com Max. Não queria que a atenção do seu pai recaísse sobre ele. Sempre que o via, limitava-se a cumprimentá-lo e sorrir, mas percebia os olhares atentos que ele lhe lançava, observando cada um dos seus passos.
— Vou falar com ele na próxima vez que for aí. Se ele realmente sentir algo por mim, então conversarei com o papai sobre isso. — disse ela, decidida.
— Papai pode ter aquela cara brava, Isabel, mas ele nos ama. Jamais desejaria a sua infelicidade. Sei que ele aceitaria qualquer um, desde que você estivesse feliz.
Isabel queria acreditar naquilo, mas já tinha visto o pai em ação algumas vezes e entendia perfeitamente por que as pessoas o temiam tanto.
— Sei disso, mas não quero que ele fique bravo comigo, Estela. Não quero chateá-lo.
— Eu sei. Mas ele não ficaria bravo por muito tempo. Don Vito não consegue guardar mágoa das filhas. — disse Estela, rindo.
— Isso é verdade. Obrigada pela conversa. Em breve, estarei aí.
— Vou te esperar, irmã. Te amo.
— Também te amo, minha metade. — disse Isabel, jogando um beijo para Estela antes de desligar.
Ela suspirou. O destino estava lançado. Se Max dissesse que a amava, ela enfrentaria o pai por ele, mesmo que isso pudesse deixar Don Vito furioso.