Quando Isabel ligou, Vito tinha a sua mão sobre a garganta de um homem, algo que a sua amada filha não precisava ficar sabendo, é claro. Ele tentava ao máximo cumprir os seus deveres de pai e, para suas filhas, ele não tinha horário. Sempre que elas desejavam conversar com ele, conseguiam.
O homem olhava com pavor para Don Vito, duvidando que o homem que falava ao telefone fosse realmente o mesmo demônio que o tinha nas suas mãos. O infeliz teve o azar de entrar no caminho de Don Vito, e, como todos sabiam, aquilo era algo que ele não admitia.
— Agora sim podemos continuar — diz Vito, entregando o seu telefone a um dos seus soldados. — O que dizia mesmo?
O homem tremia diante daqueles olhos que o assombravam com tanto ódio. Ele desejava apenas sumir daquele lugar, mas sabia que nada o livraria das mãos de Vito Romano.
— Eu... eu lamento, Don Vito — diz o homem, jogando-se aos pés de Vito em desespero.
— Eu sei que lamenta, e vai lamentar ainda mais quando eu acabar com a sua vida miserável — diz ele, dando um chute no peito do homem.
Em segundos, o lugar se enche dos gritos de agonia do homem no chão. Vito tinha um sorriso no rosto enquanto arrancava o couro do pobre miserável com uma das suas facas. Ele não se arrependia daquilo, estava apenas protegendo a menina dos seus olhos, e tinha descoberto que a ideia de o pressionarem por uma aliança de casamento tinha partido justamente daquela pessoa, então, é claro que ele não teria misericórdia.
Vito lutava todos os dias para que a sua filha desfrutasse mais da sua liberdade, e, por Isabel, ele estava praticamente declarando guerra às outras máfias ao recusar dia após dia os pedidos de aliança que chegavam à sua mesa. Às vezes, Vito desejava que a sua filha se apaixonasse por uma boa pessoa, assim como Estela foi com Ricardo, que a protegia de tudo. Mas ele não teve essa sorte, e a cada nova batalha que enfrentava por Isabel, desejava no seu coração que o destino não fosse c***l com a sua filha. Ela já tinha passado por muito, e ele não desejava ver o seu anjo sofrer ainda mais.
Com o serviço feito, Vito entra no carro e parte até uma cafeteria no centro. Ele iria levar alguns dos bolinhos de baunilha que Isabel gostava — era a forma dele de lembrá-la de que sempre cuidaria dela. Assim que chega em casa, deixa a embalagem na cozinha e sobe para tomar um banho. Recusava-se a estar com a sua filha antes de estar limpo, não desejava contaminá-la com as coisas em que se envolvia. Não a sua menina pura e gentil.
De banho tomado, Vito caminha em direção ao quarto de Isabel, mas, quando abre a porta, não a encontra. Ele já sabia onde a sua filha deveria estar. Vito havia construído uma biblioteca na mansão para Isabel após descobrir que ela amava ler, e era lá que a sua filha passava a maior parte do seu tempo livre.
Assim que entra na biblioteca, a encontra dormindo com um livro nos braços. Um sorriso curva os seus lábios, rugas se formando no canto dos seus olhos ao ver a sua menina dormindo no pequeno sofá. Ele vai até ela e pega o livro que ela estava lendo, colocando-o de lado.
— Isabel, Isabel querida — chama ele com a voz suave.
No momento em que Isabel o vê, um sorriso curva os seus lábios enquanto ela se levanta e o abraça.
— Oi, papai — diz com a voz sonolenta.
— Devia ter ido se deitar se estava cansada — diz ele.
— Só queria ler um pouco, não percebi que tinha cochilado — diz ela, sorrindo.
— Venha, eu trouxe o seu bolinho favorito — diz ele, se levantando e estendendo a mão para ela.
— Oba! — diz Isabel, pegando a mão dele e o puxando para fora.
Vito amava aquilo, a forma como sua filha sempre o tratava com tanto amor e carinho. Isabel era seu sol radiante, e a vida do mafioso tinha ganhado mais luz e cor com a presença dela. Eles seguem em direção à cozinha, onde a caixa que Vito tinha comprado estava sobre a mesa. Isabel abre a caixa e solta um pequeno gritinho, fazendo-o rir ao ver o seu conteúdo.
— Amo esses bolinhos, papai! — diz ela, dando um beijo no rosto de Vito antes de pegar um e pôr na boca.
— É por isso que trago, sei o quanto gosta deles — responde ele, sentando-se em um banquinho na bancada. — Isabel, preciso te dizer algo.
Isabel se vira e encontra os olhos do seu pai fixos nela. Ela conhecia bem aquele olhar e a forma como seus ombros estavam curvados. Eles conviviam há tempo suficiente para que Isabel percebesse quando o seu pai estava desconfortável.
— Me deixe adivinhar, papai: a história de casamento de novo — diz ela enquanto mordia o seu bolinho, sem se preocupar.
— Sim, querida. Estou tentando ganhar tempo, mas não sei se vou conseguir — diz ele com sinceridade.
— Não quer que eu case, papai? — pergunta ela com um sorriso de canto.
— Não! Nenhum desses homens merece a minha menina, eles não são dignos de você — diz ele, com olhos ferozes encarando a sua filha.
— Oh! Você fica tão fofo quando fala essas coisas — diz ela, apertando a sua bochecha.
Vito suspira. Apenas Isabel conseguia domá-lo daquela forma.
— Estou falando sério, querida — diz ele de forma mais suave.
— Eu sei, mas você nunca parou para perguntar se eu desejava me casar, papai — responde ela, com a sobrancelha arqueada.
As palavras de Isabel pegam Vito de surpresa. Ele realmente nunca tinha perguntado aquilo à filha, apenas tinha presumido que ela desejava estar só por mais tempo. E a segunda coisa que percebeu foi que a sua garotinha desejava se casar. Aquilo já foi o suficiente para que o seu ciúme se acendesse. Ele jamais entregaria o seu presente precioso aos homens que conhecia. Eles não mereciam a sua filha.
Aquilo estava fora de questão.