Vito observava Isabel saborear o bolinho com um sorriso tranquilo no rosto. Como se aquela conversa sobre casamento não tivesse peso algum para ela. Mas para ele… para ele era como carregar uma tonelada de preocupações nos ombros.
Ele sempre soube que esse dia chegaria. Desde que Isabel tinha começado a fazer parte da sua vida. Ele via os olhares gananciosos dos chefes de outras famílias mafiosas, analisando-a como uma peça valiosa no tabuleiro. Eles não a enxergavam como ele enxergava: sua menina, seu anjo, sua razão de viver. Para eles, ela era apenas uma oportunidade de consolidar poder.
Vito apertou os punhos sob a mesa.
— Você nunca mencionou que queria se casar — disse ele, tentando manter a voz calma, mas sentindo o seu coração martelar no peito.
Isabel deu de ombros. Ela nunca tinha comentado por que antes não desejava, mas depois de conhecer Max nos eventos da Fênix, aquilo tinha começado a mudar para ela.
— Você também nunca perguntou, papai. — Responde ela não querendo que o seu pai pensasse de mais sobre aquele assunto.
A resposta foi direta, e aquilo o incomodou ainda mais. Ele realmente nunca tinha perguntado. Sempre assumiu que Isabel não queria casar, ou que ao menos esperaria mais tempo. Mas agora, com ela admitindo aquilo, um medo profundo começou a crescer dentro dele.
— E você tem alguém em mente? — a pergunta saiu antes que ele pudesse impedir. O mero pensamento de alguém se aproximando da sua filha pelas suas costas fazia Vito querer matar o desgraçado que teve tal ousadia diante dele.
Isabel arqueou uma sobrancelha, divertida. O seu pai não estava tão errado assim, mas ela não podia dizer nada a ele, não enquanto não conversasse com Max primeiro. Isabel queria saber o que ele sentia por ela, então poderia confrontar o seu pai com a certeza dos sentimentos dele por ela.
— Está tentando descobrir se já tem um pretendente em meu coração?
Vito sentiu seu maxilar travar. Só a possibilidade da sua filha estar apaixonada por alguém fazia o seu sangue ferver. Ele havia tentado mudar aquele lado possessivo dele, mas a medida que as pessoas o paravam para lhe dizer o quão bela era sua filha o seu ciumes apenas tinha crescido, e o desejo de arrancar a cabeça daqueles homens também.
— Isabel… — sua voz saiu mais baixa, carregada de um tom de aviso.
Ela riu, dando mais uma mordida no bolinho antes de responder. Ela podia ver o quanto seu pai se esforçava para ser gentil ao conversar com ela.
— Não, papai. Ainda não me apaixonei por ninguém — disse, e Vito sentiu os músculos do seu corpo relaxarem um pouco. — Mas um dia pode acontecer.
Vito desviou o olhar, encarando a parede da cozinha. Ele queria acreditar que, se esse dia chegasse, seria um homem bom. Mas ele conhecia o mundo em que viviam. Sabia que os homens ao seu redor não passavam de lobos disfarçados, esperando uma oportunidade para usar Isabel em seus próprios jogos de poder.
Ele não permitiria isso. Não permitiria que a sua filha fosse usada como um trapo velho e depois largada aos cantos enquanto o marido se divertia em bordéis pela cidade. Não, Vito faria a pessoa que se casasse com a sua filha entender isso, ela seria a única na vida do marido, e aquele que a fizesse chorar pagaria com juros por cada lágrima derramada.
— Nenhum desses bastardos te merece — murmurou, ainda perdido nos seus pensamentos. A sua filha não precisava saber o que ele pensava, mas em parte ele sabia que ela percebia algo sempre que ele ficava daquela forma.
Isabel suspirou. Aquela nunca seria uma conversa fácil com o seu pai, Era de Vito Romano que estavam falando, e Don Vito não abaixava a cabeça para ninguém.
— Você precisa confiar mais em mim, papai. Eu sei que sou sua garotinha, mas também sei me proteger.
Vito balançou a cabeça. Ele não desejava que ela se protegesse, era para isso que ele estava ali, era sua responsabilidade garantir que a sua filha estaria segura todos os dias, e isso não era apenas em sua presença. Havia sido difícil para Vito quando soube que era pai, e que uma das suas filhas gémeas já estava casada e gravida, ele pensou que teria um treco, mas com o passar dos tempos ele percebeu que Estela estava segura e bem, e que o marido a amava mais que a própria vida, o que tinha o ajudado a se acalmar, mas com Isabel era diferente, ele muitas vezes se pegava sem saber como agir.
— Você não entende, Isabel. Não se trata de confiar em você… Se trata de não confiar neles.
Ela segurou a mão do pai sobre a mesa, apertando-a com carinho.
— Eu sei — disse ela suavemente. — Mas você não pode me proteger para sempre.
Vito sentiu um aperto no peito. Essas palavras lhe atingiram como uma lâmina. Ele sabia que era verdade. Sabia que um dia teria que soltá-la. Mas ele não estava pronto para isso. E talvez nunca estivesse.
— Enquanto eu viver Isabel sempre vou te proteger, não vou me importar se já estiver casada com filhos e netos, será sempre a minha menininha e terá a minha proteção mesmo que não precise. — Diz ele de forma tranquila. Os seus olhos refletindo todo o amor que ele sentia por sua filha.
— Vai me fazer chorar papai. — Responde Isabel indo até ele e lhe abraçando com força.
— Não quero que chore, o meu objetivo é fazê-la feliz todos os dias querida. Você já passou por tanto que quero apenas te ver feliz. — Isabel podia ouvir como a voz do seu pai estava embargada pela emoção daquele momento. Aquela conversa estava sendo libertadora e Isabel estava percebendo qual era o real medo do seu pai com tudo aquilo.
— Me prometa que não vai matar o homem por quem eu me apaixonar papai. — Pede ela o soltando para olhar em seus olhos.
— Não acha que está pedindo de mais? — Pergunta ele com a sobrancelha arqueada.
— Não, estou sendo justa. — Responde ela cruzando os braços.
— Me deixe ao menos o provar querida, não vou permitir que se case com um banana que não consegue te proteger. — Isabel examina o rosto do seu pai com atenção, e percebe que aquilo era o máximo que teria dele naquele momento.
— Combinado Don Vito. — Diz ela sorrindo enquanto estendia o dedo mínimo para que ele selasse a promessa com o seu.
— Temos um acordo querida. — Responde ele enlaçando o seu dedo ao dela. O que Isabel não sabia era a forma que o seu pai provaria o seu futuro marido, e talvez aquilo fosse até mesmo melhor.