Assim que Isabel entra em casa, encontra o olhar sombrio do seu pai. Vito não havia gostado nada de saber que Cristiano tinha tocado na sua filha; aquilo não fazia parte do acordo deles. Mas, ao olhar para sua filha, percebia que havia mais naquela situação do que parecia.
Isabel encontra o olhar do pai e sorri enquanto corre até ele, dando-lhe um abraço apertado. Vito suspira, passando a mão pelos cabelos que outrora eram tão loiros quanto os da filha, mas que agora começavam a ficar acinzentados pela idade.
— Na próxima vez, vou com você — diz ele, acariciando os cabelos dela com carinho, o alívio de vê-la bem inundando o seu peito.
— Nem pensar, papai! Já basta os seus soldados entrando comigo na loja de lingerie. Precisamos falar sobre isso — Vito apenas bufa; ele não abriria mão da segurança dela e não se importava que os seus soldados tivessem que entrar em uma loja de lingerie para isso.
— Fora de questão, a sua segurança é minha prioridade — responde ele, afastando-se dela e olhando nos seus olhos azuis com a mesma intensidade que ela o encarava.
— Não quero que eles vejam as minhas peças íntimas — insiste ela.
— Eles não vão olhar. O objetivo deles é sua segurança, não ver o que você compra — diz Vito. — Mas isso não é importante no momento. Quero saber o que aquele i****a fez com você.
Isabel se senta no sofá e olha para seu pai com um sorriso de canto. Ele arqueia a sobrancelha, curioso com aquele comportamento dela.
— Ele não fez nada. Os seus soldados entraram na loja e me tiraram de lá, mas antes eu consegui pegar isso — diz ela, pegando o celular de Cristiano da sua bolsa e mostrando ao pai.
Os olhos de Vito se arregalam ao olhar entre o celular nas mãos da filha e o sorriso que ela ostentava por sua travessura. Vito vai até ela e pega o aparelho de suas mãos, olhando novamente, pasmo, para ela.
— Como você pegou isso? — pergunta ele.
— Truques femininos, papai. Ninguém nunca desconfia de uma bela mulher — diz ela, piscando para ele.
Ao ouvir aquelas palavras, Vito não se contém e começa a rir. A sua filha realmente havia puxado o seu sangue.
— Não devia ter feito isso, podia ser perigoso. Mas já que fez, não custa nada examinarmos o aparelho.
— Espero que encontre algo de útil nele — Isabel queria ajudar e, por mais que aquilo parecesse pouco, já era alguma coisa.
— Obrigado, querida. Mas não quero que se arrisque novamente — diz ele, dando um beijo na testa dela. — Marcamos o seu casamento.
Aquelas palavras foram como um soco no estômago de Isabel. Ela olha para o pai com os olhos brilhando em desespero. O seu coração sangrava apenas em pensar em subir ao altar com alguém que não amasse, e naquele momento tudo o que lhe vinha à cabeça eram os olhos castanhos de um certo soldado que sempre a olhava com tanto carinho que a fazia suspirar.
Ela havia sonhado com o dia em que se casaria, com o vestido que usaria e com a farra que faria com as mulheres da Fênix em sua despedida de solteira, assim como as outras. Ela havia sonhado em como estaria emocionada ao ver o seu amor esperando por ela no altar. Tantas expectativas que, agora, com aquelas palavras, iam todas por água abaixo de uma só vez.
— Papai... — começa ela, mas Vito levanta a mão, interrompendo-a antes que dissesse algo.
— Sei que o ama. Não conversamos sobre isso, mas vejo nos seus olhos, meu amor, que aquele maldito soldado está no seu coração — as palavras de Vito eram ríspidas, e ele não mudaria nada do que tinha dito. Amava as filhas e sabia que seria difícil entregá-las a qualquer um, independente de quem fosse.
— Não sei quando comecei a amá-lo, papai. Só me lembro das suas palavras de carinho e da forma como ele me olhava, sempre mantendo a distância — diz ela de forma sonhadora.
— Homem esperto — diz Vito.
— Sabe que não serei sua garotinha para sempre, papai — diz ela, arqueando a sobrancelha.
— Para mim, você sempre será minha garotinha. Minha filha amada, que jamais sairá debaixo da minha proteção — diz ele, puxando-a para si e envolvendo os seus braços sobre os ombros dela.
— Ao que parece, Don Vito está amolecendo — diz ela, rindo.
— Apenas com você e a sua irmã. E, é claro, meus netos — diz ele, rindo.
Isabel gostava daquilo, de como as conversas com o seu pai, apesar de tensas, terminavam bem. Ela amava a forma como ele demonstrava o seu cuidado e amor por ela sem se preocupar com palavras ou gestos. Vito poderia ser temido por todos na máfia, mas naquela mansão, ele era apenas Vito, o pai que Isabel amava com todas as forças do seu coração.
— Não quero me casar com Cristiano, pai — diz ela.
— Apenas confie em mim, querida — diz ele, afastando-se e olhando nos olhos dela. — Seu pai já a decepcionou alguma vez?
Isabel olha para Vito, querendo refutar o que ele dizia, mas não encontra nada. O seu pai sempre fora um homem honrado e cumpria à risca as promessas que fazia a ela e à sua irmã. No fundo, não havia motivos para temer, mas seu coração t**o não compreendia aquilo.
— Tudo bem, papai. Faça como desejar — diz ela, finalmente olhando nos seus olhos. Confiaria no seu pai, mesmo que o seu peito se apertasse apenas por pensar em subir ao altar com Cristiano.
— Obrigado pela confiança, querida. Prometo que não a decepcionarei — diz ele, pegando as suas mãos e dando um beijo nelas.
Vito sempre lamentaria a felicidade que ele não teve, mas jamais negaria a da sua filha. Ele cuidaria para que tudo saísse segundo a vontade do coração da sua pequena.