Fênix V - Max

Capítulo 38

A mulher estava encolhida no banco do carro, não se atrevendo a olhar para o seu Don. Max era tolerante em muitas coisas, mas estava descobrindo que, para manter as coisas em ordem, teria que ser mais inflexível. O percurso até o bordel não foi longo e, em pouco tempo, eles pararam em frente a uma construção antiga no centro. Max olhava para o prédio com desgosto; estava um pouco velho e descuidado, mostrando o nível de preocupação que o antigo Don tinha pelo lugar.

Assim que os seguranças veem Max e os outros chegando, correm até eles para recebê-los.

— Bem-vindo, Don — dizem, enquanto abrem a porta.

— Quem é o responsável por este lugar? — pergunta Max, examinando o local com atenção.

— Sou eu, Don — diz um homem se aproximando. — Me chamo Ângelo.

— Bem, Ângelo, me mostre este lugar, sem esquecer um único cômodo — diz Max com olhos sombrios. Ângelo treme diante do seu Don antes de o levar pelos corredores.

Max examina cada espaço com atenção, gostando menos do que via a cada porta aberta. O que mais o chocou foi o local onde as mulheres que trabalhavam ficavam: era sujo e com poucos móveis; algumas dormiam em colchões no chão, o que o deixava com mais raiva ainda.

— Todas elas estão aqui porque querem? — pergunta ele, examinando as mulheres à sua frente.

— A maioria está aqui por dívidas, Don, ou porque não tem família ou outro lugar para ir — diz Ângelo.

— Entendo — diz Max.

— Posso falar, Don? — pede uma das mulheres, olhando para baixo.

— Fale — responde ele.

— Temos ouvido muitas coisas a seu respeito, e dizem que você é justo — fala ela, sem olhar para ele.

— Não sou um santo, mas faço o que posso — diz ele, dando de ombros.

— Queria ver se o senhor poderia diminuir a taxa que nos cobra — pede a mulher. Max podia ver como ela se encolhia, temendo a resposta dele.

— Explique, Ângelo — pede Max.

— Cobramos uma taxa por moradia e segurança, Don, assim como pelo uso das instalações.

— Quanto?

— Setenta por cento — diz Ângelo, suando. Max para e encara o homem à sua frente com olhos mortais. Daquela forma, as mulheres jamais conseguiriam pagar a dívida com o bordel.

— Qual o seu nome? — pergunta Max à mulher que havia falado com ele.

— Rose, Don — diz ela.

— Bem, Rose, como eu estou assumindo este lugar, tudo vai começar do zero, o que significa que nenhuma de vocês me deve nada. — A mulher encara Max surpresa, os seus olhos brilhando em descrença com o que ouvia. — Tenho planos para esse lugar. Vou transformá-lo em uma boate, e vocês poderão continuar com os seus serviços. Vamos mudar tudo aqui, e vocês terão lugares decentes para morar, assim como assistência médica a cada período de tempo, isso é, se quiserem continuar trabalhando aqui.

Max podia ver a surpresa nos olhos delas. Algumas olhavam umas para as outras com apreensão, sem saber se aquilo era mesmo verdade.

— Quer dizer que, se quisermos ir embora, poderemos? — pergunta outra.

— Se não quiser mais trabalhar para mim, sim, você pode ir. Nada te acontecerá, desde que não comente nada sobre a nossa organização — diz ele, olhando sério para ela. — Mas, se quiser ficar, te garanto que as coisas vão mudar. Teremos novas regras e uma qualidade melhor de trabalho para vocês.

— Como podemos acreditar nisso? O outro dizia a mesma coisa — diz outra mulher.

— Eu não sou mentiroso, mas garanto a vocês que, no máximo, semana que vem, alguém virá examinar esse lugar para criar o novo projeto — diz ele e se vira para Leonardo. — Temos alguém para isso, Leonardo?

— Sim, Don. Temos um bom pessoal que pode lidar com isso — responde ele animado. Leonardo sempre lamentou pelas condições em que aquelas mulheres viviam. Ele não se importava com o que elas faziam para viver, mas acreditava que deviam ter um lugar digno de moradia e trabalho.

— Ótimo. Mande ele ao meu escritório para que possamos acertar tudo. Quero que o último andar seja reformado para que elas possam morar nos apartamentos de lá.

— Está falando sério mesmo? — pergunta Rose.

— Sim, Rose. Se vão trabalhar para mim, terão um lugar melhor do que esse para o fazer, e essa taxa será diminuída também.

— Para quanto, Don? — pergunta uma das mulheres mais ao fundo.

— Estava pensando em trinta por cento. A moradia de vocês não será cobrada, apenas as mercadorias que adquirirem aqui dentro. — Ele estava deixando claro que qualquer substância que consumissem seria cobrada.

— É justo — diz Rose. — Eu fico com essas condições, mas, se semana que vem nada acontecer, eu vou embora, já que você perdoou as nossas dívidas.

— Não se preocupe. Eu cumpro com as minhas palavras. Volto na semana que vem. Junto com melhores condições, também virão regras novas. A principal delas é: nada de favores sexuais por mercadorias. Se algum dos soldados quiser algo, deve pagar com o dinheiro dele e ser fora do horário de trabalho.

— Eu não quero mais usar essas coisas — diz a mulher que estava atrás de Max. Ele a olha e vê o quanto ela estava magra e malcuidada.

— Posso cuidar disso assim que a reforma terminar. Mas, se vai trabalhar aqui, deve saber que sempre verá isso por perto. — Ele não desejava criar uma bela ilusão na cabeça delas. Se quisessem abandonar o vício, ele encontraria alguém para ajudá-las, mas, trabalhando na boate, sempre veriam pessoas usando drogas.

— Sabemos, mas ainda queremos tentar, Don — diz ela.

— Tudo bem. Assim que tudo estiver pronto, aviso vocês — responde Max. — Lembrem-se de que não estou fazendo isso apenas pelo bem de vocês. O nosso objetivo é lucro, e, à medida que o lucro subir, o de vocês também subirá. Mas há outro motivo para melhorar esse lugar, e vocês são a peça-chave para isso.

Elas encaram Max com curiosidade, sem entender o que ele estava dizendo.

— Como assim, Don? — pergunta uma delas.

— Vocês serão meus olhos e ouvidos nessa parte da cidade, e espero poder contar com a lealdade de vocês — explica ele.

— Se cumprir com o que nos prometeu, não terá que se preocupar com isso — diz Rose.

— Então temos um trato — diz ele, estendendo a mão para ela. Ela olha para as outras e vê que elas acenam em concordância.

— Sim, temos um trato — diz ela, apertando a mão dele e sorrindo.