A dor lancinante rasgava a perna de Cristiano enquanto o médico pressionava a pinça contra a carne, tentando extrair a bala alojada. O suor escorria por sua testa, seus punhos cerrados, e a sua voz ecoava pelo salão da mansão. O ódio que dominava o seu peito não tinha limites, e sempre que se lembrava da forma que Max o havia olhado antes de levar Isabel, a sua raiva apenas aumentava ainda mais.
— Maldito seja, Max! Eu vou acabar contigo! — gritou entre dentes, a sua expressão uma mistura de raiva e agonia. — Ele vai pagar caro! Eu vou trazer Isabel de volta, nem que tenha que matar cada desgraçado no caminho!
Saulo, estava de pé ao lado da poltrona onde Cristiano se contorcia. Os seus olhos escuros estavam carregados de fúria e uma determinação que há tempos não se via. O nome Malagutti havia voltado à tona, e com ele, um pressentimento de que o fim estava próximo. O fato de que Don Yuri Ivanov estava ligado a Malagutti trazia os seus piores pesadelos a tona, ele já não tinha forças para lutar contra Malagutti, se Don Yuri se envolvesse seria impossível.
— Eles se aliaram à máfia russa... — murmurou, cerrando os punhos. — Isso só pode significar uma coisa. Estão preparados para nos destruir de vez.
O médico retirou a bala, jogando-a num pequeno recipiente metálico, mas Cristiano sequer prestou atenção. Seu mundo se resumia à vingança. A dor estava esquecido enquanto o seu coração se agitava com o desejo crescente por vingança. Ele podia ver o desespero nos olhos do seu pai e o achava fraco por se deixar comprar com apenas uma ameaça.
— O fim? — Cristiano ergueu os olhos para o pai, o olhar faiscando em desafio. — O fim é para quem aceita perder! Eu não vou aceitar isso, pai! Não depois do que aquele bastardo fez! No dia do meu casamento, na frente de todos! Eu vou arrancar essa vitória das mãos dele! — a sua voz era um rugido cheio de promessas sangrentas.
Saulo o observou por alguns segundos, vendo no filho a mesma fúria que um dia o movera. Mas ao contrário dele, Cristiano ainda tinha forças para continuar. Soltou um suspiro longo e cruzou os braços. Ele mais que ninguém sabia que aquela batalha estava perdida antes mesmo de começar, a suas alianças estavam fracas e agora que as máfias mais poderosas que existiam estavam unidas a favor de Don Max, ele não seria suicida para comprar aquela briga.
— Qual é o plano? — perguntou, não adiantava que Saulo soubesse que aquilo era besteira, ele ainda apoiaria o seu filho.
Cristiano sorriu, um sorriso c***l e carregado de rancor. Os seus olhos ardiam como brasa, e, apesar da dor em sua perna, a sua mente já trabalhava na retaliação.
— Se Max quer guerra, ele vai ter guerra. Mas dessa vez, vamos atacar os seus negócios, ele ficara sem condições de manter os seus homens. E quando ele estiver vulnerável, eu vou arrancar Isabel dos seus braços e fazê-lo assistir enquanto tudo o que construiu desmorona.
Saulo assentiu lentamente, o orgulho transparecendo em meio à raiva. Ele sabia que o seu filho era engenhoso e tinha capacidade de derrotar Max, mas ainda não era sego para o que o cercava e aquilo o preocupava terrivelmente.
— Se lembre que ele esta bem amparado Cristiano, se você passar dos limites o s outros vão perceber e aí será nosso fim. — Diz ele com a sobrancelha arqueada.
— Você já foi mais corajoso papai. Eu não me importo com os seus aliados, caso não tenha percebido se Malagutti entrar no jogo nos já perdemos de qualquer forma, aquele homem nunca descansará enquanto não se vingar de nós. — Cristiano se lembrava com exatidão o ódio que Malagutti nutria por eles, e depois do que eles tinham feito ele entendia, mas no jogo valia tudo e eles apenas fizeram o que era necessário para ganhar mais poder.
— Isso é algo que precisamos fazer com cuidado. — Insiste Saulo.
— Não importa se o fizermos as escondidas ao nas vistas, eles saberão que fomos nós. — Responde Cristiano.
Cristiano tinha a certeza que não importava o que fizesse o seu pescoço sempre estaria a prémio, então a sua melhor opção de jogo era sequestrar Isabel e usar as suas contas no exterior para sair do país, seria fácil recomeçar em outro lugar com o dinheiro que tinha, e com Isabel ao seu lado, ele não se importava para onde iria.
— Devia desistir dela Cristiano. — Diz Saulo.
Cristiano se vira para o pai com os olhos vermelhos de fúria, os seus punhos cerrados enquanto a sua respiração se agitava apenas por ouvir aquelas palavras da boca dele. O seu pai não entendia, ele nunca saberia o que era amar alguém com tanta força que se sentia que o seu coração pudesse se partir ao meio, não ele não abriria mão de Isabel.
— Nunca! Morro se for preciso, mas ela será minha! - diz ele dando um soco no braço da poltrona em que estava.
Saulo via aquilo com preocupação, antes ele pensava que aquela paixão do seu filho por Isabel era apenas coisas de homem atrás de uma nova conquista, mas agora ele estava começando a ver aquilo de forma diferente. O seu filho mudava sempre que o assunto era a filha de Don Vito, algo que não o agradava em nada.
— Cuidado como fala garoto! Se esqueceu de quem manda aqui?! — Diz Saulo se alterando. Ele não iria permitir que o seu filho lhe faltasse com o respeito daquela forma, ele ainda era o Don da máfia da sua família e o seu filho lhe devia respeito.
Os olhos de Cristiano ficam sombrios por alguns segundos antes que ele os desviassem do seu pai, ele odiava ser lembrado da sua posição dentro da máfia, mas seu pai sempre fazia questão de o lembrar.
— Me perdoe, meu pai. — Diz com uma voz suave, um brilho diferente iluminando os seus olhos. Se tudo corresse como o plano ele não precisaria lidar com o seu pai por muito tempo.