Amelia se sentia tão estranha e deslocada em um ambiente com pessoas diferentes de seu ciclo social, ricas e que ela sabia que eram criminosos, de alguma forma, mas eram pessoas legais, principalmente os pais de Caroline. Quanto a Chase Albretch, ela não sabia o que dizer. Ele era incrivelmente i********e e misterioso, e apesar de saber um de seus maiores segredos, parecia haver mais sujeira em baixo do tapete.
— Você faz faculdade do que? — Elena Albretch, mãe de Caroline, perguntou.
— Eu estou no último semestre de direito, quase me formando.
— Está namorando, casada, viúva...? — Jay questionou.
— Pai! — Caroline chamou.
— Tudo bem. — Amelia sorriu. — Eu sou solteira.
— Como pode esses jovens solteiros hoje em dia — Jay comentou a eles em tom de brincadeira. — Nessa idade eu namorava cinco garotas por mês.
— Eu estou me concentrando na faculdade no momento.
— Você se lembra de quando estava na faculdade, Chase? — Jay perguntou a ele. — Vivia dando trabalho ao nosso pai. É claro que dava trabalho, era o filho mais novo e o protegido da nossa mãe.
Chase sorriu balançando a cabeça negativamente, então Amelia olhou para ele e naquele momento descobriu que Jay falava a verdade.
— Vamos comer! — Caroline anunciou com um sorriso, mudando de assunto.
Algumas taças de champanhe a mais e Amelia nem fez cara feia ao colocar na boca um pedaço de foie gras. Ela odiava pratos franceses, a não ser os doces, e o prato a sua frente continha o fígado de pato que foi forçado para se alimentar.
— Gostou do cardápio, Amelia?
— É bom, muito gostoso. — Ela forçou um sorriso, deixando os talheres sobre o prato. — Eu preciso ir ao banheiro, com licença.
Amelia nem sabia onde ficava o banheiro, apenas saiu as pressas antes que vomitasse na frente de todos e quase tropeçou ao subir as escadas, se jogando no primeiro banheiro que viu com a porta aberta. Ela despejou tudo o que havia comido, sua garganta até ardia com o ácido do vômito.
— Nossa, foi um estrago e tanto — alguém falou atrás dela.
Amelia limpou a boca com a palma da mão e virou a cabeça para ver Chase parado com as mãos no bolso e o cenho franzido.
— O que veio fazer? — Ela perguntou, fechando os olhos por alguns segundos.
— Vim ver se estava bem. Ninguém reparou, mas eu vi como saiu apressada da mesa. Me pergunto se foi o champanhe ou a comida.
— A comida — ela revelou. — Eu odeio foie gras.
— Por quê? É um dos pratos mais caros e apreciados da França.
— Para você ver como valor não garante qualidade. — Ela se levantou e lavou as mãos. — Não me agrada a ideia de que torturaram um pato para engordar a força.
Chase ficou em silêncio e encarou ela, compreendo sua explicação.
— Não precisa comer, se não quiser.
— Não quero que pensem que estou fazendo desfeita, é a primeira vez que venho aqui. — Ela colocou as mãos na cintura. — Na verdade, acho que já vou para casa, estou cansada.
— Tudo bem, eu levo você.
— Não precisa ir, eu chamo um taxi.
— Eu queria mesmo ir embora, isso é uma desculpa para sair daqui.
Amelia concordou sem protestar mais. Pelo menos, ela não teria que gastar dinheiro com táxi. O lado r**m era que teria que estar no mesmo ambiente que seu chefe traficante fora do expediente de trabalho.
Os dois voltaram para a sala de jantar e todos os olhares se voltaram para eles.
— O que vocês estavam fazendo? — Caroline questionou.
— Parece que além de secretária, sua amiga é algo a mais do meu irmãozinho — Jay falou para a filha com uma risada.
— Ah, meu Deus, sr. Albretch — Amelia passou a mão pelo cabelo com constrangimento —, eu acabei de encontrá-lo descendo as escadas. Não é nada disso.
— Vocês demoraram bastante.
— Eu ajudei ela achar o banheiro.
— Eu passei m*l — Amelia falou junto com Chase.
— Não achou o banheiro ou passou m*l? — Caroline ergueu as sobrancelhas.
— Os dois — ela respondeu. — Na verdade, já estou indo para casa, Care.
— Eu vou dormir aqui com meus pais, tudo bem?
— Claro. Vejo você amanhã, então.
— Eu também vou — Chase anunciou. — Até mais, família.
— Espera — Jay parou ele —, vão sair juntos?
— Eu já sou bem grandinho, irmão. — Chase suspirou. — Estou indo, até mais.
— Muito obrigada — Amelia agradeceu, acenando para eles com um sorriso.
Chase se questionou, ao revirar os olhos e soltar um suspiro tedioso, como ela conseguia ser tão amável e fingir um sorriso para eles. Não que ele não gostasse de sua família, ele gostava muito, porém preferia manter distância e esses jantares que seu irmão dava a cada semana para manter o status de clã Albretch unido eram as piores coisas. Toda semana eram as mesmas coisas: perguntas inconvenientes, fotos para a mídia como se estivessem em um episódio de Keeping Up With The Kardashians e comidas estranhas. Como Amelia mesma disse, foie gras e a forma como era feito era terrível. Textura terrível, cor terrível e gosto terrível. Mas isso era a sua opinião, esse prato já fez muitos restaurantes garantirem cinco estrelas Michelin.
Ele entrou no carro e colocou o cinto, então esperou Amelia e deu partida quando ela fez o mesmo. Ela parecia tensa, como se ele fosse sequestrá-la e jogá-la em um porão trancado. Ele tinha recursos para isso, mas não.
— Você está tensa — ele comentou, mantendo os olhos na estrada.
— Eu? — Ela olhou para ele com voz exasperada. — Não, é só o jantar que não me fez bem.
Não era verdade. A verdade era que Chase Albretch não lhe agradava, tráfico não lhe agradava, estar no meio de um esquema criminoso e mentir para todos também não. O pior era que ela não poderia sair agora que já estava dentro.
Aquilo parecia o clichê de um filme muitos r**m. Era como se Chase Albretch fosse Christian Grey, até a forma como pensava o cabelo, porém era óbvio que Chase era uma cópia m*l feita dele. O carro importado, o relógio caro — que mesmo sem entender nada de relógios — sabia que valia mais que um carro de classe média.
— Vai participar dos jantares semanais? — Ele perguntou, mudando de assunto.
— Eu acho que não — ela respondeu, dando de ombros. — Eu nem sou da família e vocês são tão chiques.
— Se você ficasse conosco por duas semanas veria que somos como qualquer outra família que briga sem motivos. — Ele olhou para ela com o canto do olho. — O Jay, com certeza, é a Kim Kardashian, tão diva e exibida.
Ela soltou uma risada.
— E você, quem é?
— A Kylie Jenner.
Os dois caíram na gargalhada com aquilo e Amelia colocou a mão no ombro dele, tentando se recompor.
— A Caroline seria a Kendall — ela comentou —, e eu a Malika, a amiga que não é da família mas é quase isso. Ironicamente, ela trabalhava na Dash, e eu trabalho para você.
Chase Albretch, afinal, não era tão horrível como ela imaginava. Pelo menos agora que estava rindo com ela.
Ele parou o carro em frente ao prédio de Amelia e Caroline. Não era dos melhores, mas pelo menos era aconchegante.
— Duvido que isso vá durar — Chase se aproximou e falou próximo ao rosto dela.
— O quê? — Ela encarou ele.
— Seu emprego. No final, você vai ser como todas as outras que não aguentaram a pressão e saíram correndo.
— Eu aguento qualquer coisa.
Os olhares deles eram fixos, desafiando um ao outro.
— Quero você amanhã cedo no meu escritório com roupas leves.
— Até amanhã — ela disse ao abrir a porta. — E obrigado pela carona.
— Você me paga depois — ele falou. — E esse vestido ficou bom mesmo em você, deveria ficar com ele.
— Tchau, sr. Albretch! — Ela fechou a porta.
Chase saiu com o carro, acenando com a cabeça, então Amelia colocou as mãos sobre o rosto e balançou a cabeça negativamente. Ela não sabia porquê mas tudo o que ela dizia na frente de Chase a fazia parecer uma completa i****a.