O corpo da mulher está suado, não exausto, longe disso, mas fez esforço o suficiente para sentir seus poros transbordarem suor por cada pedaço de pele.
- Um... – Ela desce e sobe ao começar a contar. – Dois... – Mais uma vez. E assim vai até estar contando o cinquenta.
- Man, canchou.
A mulher sorri ao paralisar os abdominais e olhar para o filho que está sentado em suas pernas. Ele segura a chupeta que tirou para falar com a mãe.
- Mas já, garotão? A mamãe aqui está fazendo todo o esforço.
- Fome, man.
Marissol sorri e senta, pegando o filho no colo e indo para a cozinha, onde o coloca na cadeira de alimentação e vai buscar sua mamadeira que estava esfriando. Pedro Henrique pega e começa a sugar ferozmente, fazendo a mãe sorri. A mulher continua observando o filho comer, ela pode ter passado por muita coisa em sua vida, mas com certeza ver o sorriso do menino a faz continuar lutando a cada dia que passa.
Marissol Queiróz é uma mulher de trinta e dois anos, pele morena, cabelos castanhos assim como seus olhos.
Os fios ondulados longos a deixam complemente sexy, o que a ajudou muito. A mulher teve o pequeno Pedro Henrique Queiróz logo depois que se separou da ex esposa, e apesar de tudo que aconteceu ela resolveu levar a gestação adiante. Só não contava com as dificuldades que era cuidar de um bebê sem dinheiro, trabalho, nenhum estudo e sem nenhum familiar.
Por algum tempo pensou em procurar ajuda da outra mãe do bebê, mas a verdade é que não queria vê-la, mesmo sofrendo e apresentando muitas dificuldades na gravidez, conseguiu ter seu filho. Agora com quatro anos, o garotinho é seu maior motivo para viver.
Passou os dois primeiros anos depois da separação vivendo em um quartinho de uma lanchonete onde trabalhou por um tempo. Um dia viu sua ex mulher entrar lá com seu motorista, perguntando para os demais funcionários se a conheciam, mostrando-lhes uma foto, mas a pedido de Marissol, todos negaram. E a observou indo embora, isso foi no quinto mês da gestação, depois do ocorrido nunca mais ouviu falar da mulher, a não ser pelas notícias na TV.
- Man, minou.
A mulher sorri e pega o objeto colocando na pia, em seguida pega o filho no colo. Ainda suada vai para o quarto, onde o senta na cama e entrega seu celular ao garoto que começa a assistir à “Galinha Pintadinha”. Ela vai até seu guarda-roupa e se põe a escolher a roupa que irá usar naquele dia de trabalho. Tem uma grande parte do armário só para aquele tipo de roupa, muito diferente do que ela usa no dia a dia. Encara um vestido vermelho e sorri, sabendo que aquele será perfeito. Pega o cabide com a peça de roupa e o perdura na porta do guarda-roupa. Depois se volta de novo para o filho que sorria com o desenho.
- Garotão, hora do banho.
O menino faz uma careta, mas coloca o celular de lado e levanta os braços para sua mãe tirar a camisa e depois a cueca que ele usa. Como sempre ele coloca a mão na frente da sua parte íntima, fazendo Marissol sorrir.
- Bebê, não precisa ter vergonha da mamãe.
- Mas tem.
A mulher revira os olhos, mas não diz nada. O pega no colo e vai para o banheiro, com todo o carinho e paciência do mundo, pois sabe que sairá do banheiro completamente molhada. Cerca de quarenta minutos depois, Pedro Henrique está cheiroso, trocado e pronto para dormir. O menino tira mais uma vez a chupeta que está em sua boca e fala com a mãe.
- Musca.
A mulher sorri e pega a caixinha de música que comprou. Seu filho está tão acostumado a dormir ouvindo a suave das músicas, que ela se viu obrigada a comprar uma e colocar no quarto do menino. Pedro se aconchega no berço com o urso de pelúcia do desenho animado Kong Fu Panda e ressona ao encarar a mãe passar as mãos em seus cabelos negros.
A pele do menino é uma mistura entre a morena dela e a n***a da outra mãe. Tem certeza que Raquel iria adorar conhecer o filho, mas ao mesmo tempo em que pensa nisso, também sente raiva, pois ela só não o conhece por sua própria escolha, por acreditar em outras pessoas ao acreditar na própria esposa, então que se dane o que a ex mulher pensaria, ela não deseja ouvir falar nunca mais o nome Raquel Aguiar, nem que para isso ela tenha que arrancar o seu coração que insiste em lhe dizer que isso nunca vai acontecer. Cerca de quinze minutos depois ela escuta a campainha tocar, já imaginando quem seja. Marissol se aproxima do rosto do filho e beija sua testa.
- Boa noite, meu amor.
Com isso acende a luz baixa do quarto e vai para a sala, abre a porta e uma sorridente Rafaela está parada na entrada do apartamento.
- Oi.
- Entra.
Marissol a deixa entrar, e antes mesmo da porta ser fechada, a mulher avança contra seus lábios. Rafaela é uma garota de vinte e três anos que têm a pele clara, olhos amarelos e os cachos vermelhos mais lindos que Marissol já viu. Suas mãos vão para os fios da nuca da morena e seguram firme, apesar de mais nova, a ruiva é mais alta e mais forte, privilégios da juventude.
- Garota, você é doida. Se sua mãe nos ver ela me mata.
Rafaela sorri, pois ela acha até fofo o medo de Marissol em sua mãe descobrir o “caso” que elas têm.
- Então você não deveria abrir a porta vestida assim. Toda suada. – A ruiva passa a mão pela barriga da mais velha, o que a faz sorrir. – Tão sexy.
- Ah, sim, muito sexy. – Marissol dá um beijo e se afasta. – Eu preciso tomar banho, não posso chegar atrasada hoje.
- Claro, porque aqueles caras velhos, fedorentos e que gozam rápido não podem ficar esperando. - Marissol revira os olhos, se afastando mais ainda da menor.
- Primeiro, isso está parecendo uma crise de ciúmes, pode ser até fofo, mas não vai passar disso. Segundo, você sabe que eu não faço com eles, parei de fazer na primeira semana que tentei.
Rafaela gargalha, pois com certeza não consegue imaginar Marissol tendo qualquer tipo de contato com homens.
- Eu não estou tendo uma crise de ciúmes. Eu sei o que temos, nosso s**o é maravilhoso, não se preocupe, estou conhecendo alguém, mas antes que se torne sério quero continuar me aproveitando de você.
Por isso Marissol continua transando com aquela garota, pois ela lhe dá exatamente o que ela precisa, s**o e sorrisos, gosta da forma que Rafaela e ela se dão bem. Como elas conseguem assistir a uma comédia romântica e soltar comentários idiotas, da forma que a ruiva faz seu filho sorrir, no fim, elas têm uma verdadeira amizade.
- Tudo bem, Rafa, mas eu realmente tenho que ir.
- Certo, vai lá fazer aquelas mulheres ficarem de quatro para você. – A garota se aproxima e lhe beija novamente.
- Literalmente, baby, literalmente.
Marissol diz e sai caminhando para o quarto, seu rebolado faz a jovem morder o lábio inferior com força.
- Essa mulher ainda me mata.
Com isso Rafaela se encaminha para o sofá onde liga a tevê e se concentra no filme de terror que está passando. Marissol toma seu banho demorado. Depois passa seu creme na pele, a deixando macia. Pega o vestido e coloca na bolsa, assim como seu perfume costumeiro de odor de rosas. Veste uma calça moletom e uma camiseta, deixa o cabelo solto, o batom vermelho está nos lábios, a maquiagem forte, assim como a cliente da noite gosta. Satisfeita como resultado vai para a sala.
- Indo?
- Sim, Rafa.
A garota levanta e vai até a mais velha, beijando seus lábios lentamente, pois não quer borrar seu batom.
- Boa sorte.
- Não preciso disso. – O sorriso confiante de Marissol faz a garota a admirar mais. – Cuide do meu filho corretamente, se ele acordar...
- É só ligar a música. Eu já sei, Mar, cuido daquele garotão há dois anos.
É verdade, mas Marissol não consegue deixar de se preocupar toda vez que o deixa à noite. Ela trabalha de quarta-feira ao domingo, das nove da noite, às cinco da manhã. Tem que se esforçar para aguentar tudo e ainda ter animação para brincar com o filho durante o dia.
- Apenas me ligue caso aconteça alguma coisa.
- Pode deixar gostosona.
Rafaela dá um t**a na b***a da mais velha assim que ela passa por ela e sai do apartamento. Mais uma semana de trabalho se inicia para Marissol Queiroz. A mulher se encaminha para o elevador, muito diferente dos lugares que já viveu antes, sujos, em bairros do subúrbio de Fortaleza, passou por muita coisa antes de conseguir estar naquele prédio no centro da cidade.
Podem julgá-la, mas se ela tem o que tem e pode dar uma vida confortável ao filho é graças ao seu trabalho, pode ser considerado errado por algumas pessoas, mas ela não liga, porque quem critica não sabe o que ela teve que passar na vida. Quando chega ao clube onde trabalha é recebida pelo sorriso da sua chefa, Rosa Maria, de quarenta e cinco anos, loira e de olhar sedutor.
- Rápido, sua cliente está esperando, você sabe como ela é quando você se atrasa.
- Oh, eu sei, eu adoro me atrasar.
A mulher loira revira os olhos. Com o tempo ela percebeu que aquele trabalho não é tão r**m, Marissol gosta de ser desejada, cobiçada, é tão boa no que faz que pode se dar ao luxo de recusar alguns trabalhos.
- Você é uma filha da p**a mesmo.
- Só quando me pedem, querida, só quando me pedem.
Marissol grita antes de entrar no vestuário para se trocar. Retira o vestido da bolsa e depois tira sua roupa do corpo, agora arrumando a lingerie vermelha, depois coloca o vestido vermelho e mexe no cabelo, retocando o batom.
- Vamos lá. – Marissol diz e depois fecha os olhos. – Eu preciso, eu preciso, eu preciso.
Ela repete as palavras todas as vezes antes de iniciar seu trabalho. Sorri e sai do vestuário, agora entrando no corredor que passou a frequentar há dois anos e meio. Quando entra, encontra a mulher loira com um vestido preto, bebendo seu uísque e sorri ao virar o corpo e encontrar Marissol lhe encarando com o olhar hipnotizante que ela tanto adora.
- Você está atrasada.
- Eu sei.
- Ótimo, porque eu adoro quando você se atrasa.
A mulher se aproxima, é apenas o início.