1-Contato visual

1601 Words
Cassie Diaz Passo um batom nos meus lábios, deslizando levemente e deixo o tom de vinho desenhar bem cada curva. Adoro essa cor. Mostra sensualidadë, poder e luxúria pura. Ela se destaca na minha pele alva e quando solto os cabelos, noto como tudo está do jeito que quero. Estou linda e muito bem-produzida. Os meus cabelos loiros e longos em ondas, deixam o meu visual ainda mais ousado. O espelho jamais mente pra mim. Ele me devolve o reflexo de uma mulher que aprendeu a ser perfeita: cabelo no lugar, maquiagem impecável, olhar afiado. Respiro fundo, apoiando as mãos na penteadeira repleta de perfumes caros e joias que não me pertencem. A música da casa vibra lá embaixo, o som grave atravessa as paredes e faz o meu coração acompanhar o ritmo. Mais uma noite. Mais um show. Mais um papel para interpretar. Hoje é uma noite daquelas que não dormirei por nada. A festa de hoje não tem hora para acabar e a madame Liora não poupou dinheiro para deixar essa noite marcada na história da casa. Tem as melhores bebidas, charutos, melhores dançarinas, luzes sensuais, o salão foi aumentado e terá de tudo do melhor para os clientes. Homens ricos, que não tem pena de gastar e adoram mostrar o poder que eles têm. É um jogo de disputa sem fim. Egos enormes! Eu pego o colar de pérolas na mesa, passo os dedos por ele, sentindo o frio do metal contra a pele quente. Abro a gaveta e pego a pequena garrafa de perfume que Liora me deu anos atrás. Um aroma de baunilha e jasmim preenche o ar. “Um cheiro que vicia”, ela sempre diz. E tem razão. Os homens sempre voltam por causa dele. Aqui em frente ao espelho, eu dou meia volta e vejo o caimento da minha minissaia. Costas nuas, o decote bem avantajado e suspiro enquanto borrifo o meu perfume mais uma vez. Esse sim, completa tudo. Admito: eu sou uma mulher linda. Eu aprendi a ver isso claramente. Eu amo tudo em mim e cuido bem do que tenho. A minha beleza é a minha arma atual e a vejo como prioridade. — Está pronta? — Madame Liora aparece. — Uau! Vai haver disputa por você hoje. Está divina! — Obrigada! Bom, hoje é uma noite importante e imagino que a senhora queira tudo impecável! Ela sorrir satisfeita pra mim. — Você está perfeita, querida. — Ela chega mais perto e toca o meu queixo, levantando o meu rosto. — Sei que posso contar com você! É a única de todas que se destaca... por isso é a preferida. E não falo deles, falo de mim também. — Você me deu tudo e eu só quero retribuir. — Você já faz isso, minha filha! — Ela deposita um beijo nos meus cabelos. — Você sempre me surpreende... vamos? Eu aceno e saímos juntas. Madame Liora é a única referência de afeto que tenho. Posso até dizer que ela é uma mãe pra mim. Ela me ensinou muito e lembro como foi aterrorizante no começo e, tive pânico de tudo. Mas, aprendi. E não aprendi apenas a dominar na cama. Ela me deu estudos. Ela mesma me dava aulas e me deu professores exemplares para estudar durante o dia. Não sou apenas um corpo na cama. Eu sei das coisas. Com ela, jamais passei fome, desamparo ou tive indiferenças. Eu era a única garota da casa e fui tratada como tal. Ela cuidou de mim com os braços abertos. Os primeiros anos foram de visão. Tudo eu via para prender aos poucos e ela teve muita paciência para me ensinar o que sei hoje. Ela me viu chorar demais, ouviu meus questionamentos e os meus medos. Jamais me julgou! Jamais me machucou e aos poucos, me fez ver como o mundo é de verdade. Demorou, mas eu aprendi do jeito certo e hoje eu sei como conduzir. Completei meus estudos, conquistei a confiança dela e de muitas mulheres e, a madame Liora sempre exigiu respeito comigo. Qualquer olhar torto sobre mim feito por outras mulheres, ocorria punições. Muitas ficaram inconformada de eu, uma garota estar no meio delas. Mas, eu só fui apresentada aos homens depois dos meus dezoito anos. Quando me senti um pouco mais pronta e com força para encarar de vez. Antes disso, Liora me ensinou sobre os homens. Os olhares, como as conversas ocorrem, como eles tocam e o que eles sempre querem. Homens gostam do que não se tem na sua rotina. Algo novo, algo que os faça se sentir poderosos e um caçador. Eles querem se sentir desejados. Gostam de conquistar e gostam mais ainda quando são correspondidos à altura. Eles gostam de mulheres dispostas a lhe satisfazer e eu nunca falhei no meu trabalho. Mas lembro bem da minha primeira vez. Jamais vou esquecer. E o que nunca mais vou esquecer também é que tudo foi por causa dele. O meu progenitor. Ele que me colocou aqui sem nem me explicar nada! — Olha esse salão... — Liora comenta. Tudo ficando lotado. — Você não faz ideia de como eu estou realizada com isso tudo. — É um sonho! — Comento. — Vai atrair mais clientes agora e poderá receber todos eles sem exceção. — Com isso, terei que procurar mais mulheres para a casa. — Ela suspira. — Por sorte, o que não falta são mulheres para trabalhar. Isso é verdade! Nesses anos aqui, eu vi muitas saírem e o dobro entrar. São mulheres bonitas, ousadas e que já estão acostumadas a esse trabalho. Algumas são até casadas. Outras são mães solteiras e elas dão conta de tudo. Sempre tem mulheres que chegam procurando trabalho e para haver uma segurança, Liora sempre faz um contrato e estipula um tempo para ela não ficar no prejuízo. E claro, exames sempre são feitos com frequencia.. De ambos os lados! Há regras para os frequentadores também. Liora sabe cuidar desse lugar como ninguém. Aprendi muito com ela até nisso! Vejo homens impecáveis já com seus uísques, charutos e um olhar predador. O primeiro grupo de mulheres já se apresenta ali e a música ousada e sensüal já ecoa pelo salão. As luzes quentes deixam o ambiente mais excitante e eu já começo a me preparar. Irei dançar hoje. E eu amo dançar! Foi mais uma coisa que a Liora me deu de aprendizado. Uma putä sempre precisa saber o que fazer com o corpo em qualquer situação. Luzes vermelhas e douradas dançam nas paredes, corpos se movem ao ritmo da música, risos e taças se misturam como uma melodia decadente. A casa está cheia. Sempre está. As pessoas olham pra mim como se eu fosse uma miragem. Eu aprendi a caminhar devagar, a sorrir de leve, a fazer cada gesto parecer um convite. Eles não percebem que, por dentro, eu só penso em números. Quanto aquele empresário vai gastar? Quanto aquele político vai oferecer? Quanto vale uma noite da minha vida? Subo no palco e sinto o calor das luzes me tocar. O mundo desaparece. A Cassie que dança não é humana, é uma ilusão. A mulher que todos desejam, mas ninguém realmente conhece. A música começa, lenta e profunda. Eu fecho os olhos e deixo o corpo se mover. Eles me observam, me seguem, me compram com o olhar. E eu deixo porque aqui, dentro dessas paredes, o poder é meu. Quando a última nota morre, o salão inteiro parece prender o fôlego. Aplausos. Eu sorrio. Finjo gostar. Mas é quando desço do palco que o verdadeiro jogo começa. Madame Liora me espera no corredor, elegante como sempre, com aquele olhar que enxerga tudo. — Brilhante, minha querida. Como sempre faz. — Ela me entrega uma taça de champanhe. — Temos convidados especiais hoje. Um deles é... interessante. — Interessante ou perigoso? — pergunto, bebendo um gole. — Às vezes, as duas coisas são a mesma. Sigo o olhar dela até a área reservada do salão. Homens de terno, seguranças discretos, conversas sussurradas. No centro, um deles. Alto. Ombros largos. O tipo de presença que muda o ar do lugar. Ele não sorri, não fala. Apenas observa e quando os olhos dele encontram os meus, algo dentro de mim se contrai. Ele é firme, maxilar trincado e um olhar de matär. É só por um segundo, mas é o suficiente. Eu nunca o vi por aqui. Desvio o olhar, tentando disfarçar o impacto. — Quem é ele? — Pergunto, quase num sussurro. — Rocco Narcici. — Responde Madame Liora, com um sorriso que eu não entendo. — O homem que transforma tudo o que toca em fortuna. E que, dizem, destrói tudo o que ama. Meu coração bate um pouco mais rápido. — E o que ele está fazendo aqui? — Procurando distração. Foi convidado por um dos colegas e veio conhecer. — Ela me encara. — E talvez, Cassie, hoje a distração seja você. Fico em silêncio. Por um instante, sinto o velho medo de quando tudo começou. Mas aprendi uma coisa: o medo, quando usado direito, pode ser uma arma poderosa. Ajeito o cabelo, bebo o resto do champanhe e deixo um sorriso surgir no canto da boca. — Então, que ele venha! — Boa menina. — Diz Madame, satisfeita. — Mostre a ele por que você é a joia mais cara da casa. Enquanto caminho de volta para o salão, as luzes me envolvem de novo. Os olhares me seguem. As mãos se estendem. Mas, desta vez, algo dentro de mim está diferente. Vamos ver se essa noite será diferente!
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