PRÓLOGO -O início de tudo
Cassie Diaz
Eu lembro do cheiro da chuva naquela noite.
Era forte, pesado, como se o céu estivesse tentando lavar a sujeira do mundo. Mas, por mais que chovesse, nada poderia limpar o que estava prestes a acontecer.
Meu pai caminhava ao meu lado sem dizer uma palavra. O som das botas dele contra a lama encharcada era a única coisa que eu conseguia ouvir. Cada passo parecia um adeus. Eu segurava firme a barra da minha blusa, uma pequena sacola com coisas minhas e umas das minhas mãos estavam fechadas com força. Eu estava tentando entender por que estávamos ali, naquele bairro estranho, cheio de luzes vermelhas e vozes abafadas pelas paredes.
Estávamos já longe de casa. Andamos tanto que os meus pés doíam demais. Mas o silêncio era o pior. Meu pai não falava nada de nada e muito menos me olhava.
Eu tinha quatorze anos. Estava tão confusa e tão perdida por estar ali sem explicação alguma. Os lugares que eu via eram estranhos. Só tinham adultos e nos lugares mais escuros e estranhos.
Não sabia muito sobre o mundo, só o que a vida difícil me ensinou. Sabia que fome doía, que frio machucava e que o silêncio do meu pai sempre vinha antes de algo rüim.
Mas naquela noite... havia algo diferente. Um peso no ar. Um vazio dentro dele que me fez ter medo antes mesmo de entender por quê.
— Pai... — Chamei baixinho, tentando acompanhar os seus passos longos.
Ele não respondeu.
— Pai, onde a gente está indo?
— Só anda, Cassie. — A voz dele era seca, sem vida.
O coração apertou no meu peitö. Eu tentei acreditar que era só mais uma das idas dele aos bares, que ele precisava de mim para carregar alguma coisa, ou que estávamos indo visitar alguém. Mas a cada esquina, as luzes ficavam mais fortes, e as mulheres que passavam por mim usavam roupas que eu nunca tinha visto antes.
Eu senti algo rüim. Um aperto no peitö que era esmagador e o ar era tão pesado.
Elas riam alto. Algumas estavam apoiadas em homens que as tocavam sem vergonha. Era uma cena tão forte pra mim. Eu baixei os olhos, envergonhada, sem entender direito o que via. Como saberia? Eu só ficava em casa e não sabia das coisas.
Até que paramos diante de uma grande porta dourada, iluminada por letreiros piscando. “La Nuit Rouge.”
O nome, eu nunca tinha ouvido antes, mas algo nele me fez querer correr. O lugar era realmente fora da minha realidade e eu era a única criança ali. Sim, ainda era criança com quatroze anos.
Meu pai respirou fundo, ajeitou a gola da camisa gasta e olhou para mim por um instante. Foi rápido, mas eu vi, nos olhos dele, o arrependimento já morava ali.
— Você vai ficar bem. Não precisa ficar com medo... — Disse, evitando o meu olhar.
— O quê?
— Eles vão cuidar de você. Eu... — Ele engoliu seco. — Eu não posso mais. Não dá... tudo piorou de vez.
A frase me acertou como um soco.
— Como assim? Pai, o que você quer dizer com isso?
— Eu tentei, Cassie. Eu juro que tentei. Mas não dá mais. Eu não consigo te dar nada. Nem comida que é o básico, nem casa, nem futuro. — Ele olhou para a porta. — Aqui... aqui você vai ter tudo isso. Vão te dar o que precisa e mais.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu. Uma mulher alta, vestida em seda preta, apareceu. O perfume dela dominou o ar, doce e forte. Ela sorriu. Um sorriso que eu ainda não sabia se era gentil ou perigoso.
— Você é o senhor Turner? — Perguntou ela.
Meu pai assentiu, hesitante.
— E essa é a menina que falou?
Ele olhou pra mim por um breve segundo.
— É. Essa é minha filha. Cassie.
A mulher me observou de cima a baixo, como se me medisse.
— É jovem demais. Muito nova... mas é linda!
— Eu sei. — Disse ele, quase num sussurro. — Mas é o que tenho pra oferecer.
Meu corpo inteiro gelou.
Oferecer?
Eu não entendi.
Ou talvez, no fundo, eu já soubesse e só não quisesse acreditar.
— O senhor sabe as condições. — Disse a mulher, cruzando os braços. — Não devolvemos ninguém.
Meu pai baixou a cabeça.
— Eu sei.
Eu dei um passo à frente, sentindo as lágrimas queimarem nos olhos.
— Pai, o que está acontecendo?
Ele se agachou na minha frente. Pela primeira vez em meses, me olhou de verdade. E eu vi lágrimas nele também.
— Me perdoa, Cassie. Eu não tenho escolha.
Tentei segurar a sua mão, mas ele se afastou e só vi o momento da mulher lhe dar um pacote fechado.
A mulher me tocou no ombro, com uma força suave, mas firme.
— Venha, querida. Eu sou Madame Liora. Vai ficar tudo bem. — Ela sorriu mais. — Terá tudo aqui!
Eu não queria ir.
Gritei o nome do meu pai, mas ele já se virava.
Cada passo que ele dava pra longe era como uma porta se fechando dentro de mim.
— PAI! — Gritei, com a garganta ardendo. — NÃO ME DEIXA AQUI!
Mas ele não olhou pra trás. Nem uma vez.
Madame Liora me puxou pra dentro, e a porta se fechou com um estalo que ecoou como sentença.
O barulho das risadas, da música e das taças se misturou ao meu choro silencioso. As luzes eram fortes demais. O chão cheirava a perfume e álcool.
Eu senti medo.
Um medo que nunca mais me deixou completamente.
— Pare de chorar, pequena! — Disse a mulher, me guiando por um corredor decorado com cortinas vermelhas. — Aqui você vai aprender a ser forte. A sobreviver. Ninguém vai te machucar se souber usar o que tem.
— E-eu quero ir embora...
Ela parou, se virou pra mim e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Todos dizem isso no primeiro dia. Depois, aprendem que o mundo lá fora é muito mais crüel que aqui dentro. Você é linda e eu vou ensinar o que precisa.
Eu não entendi.
Não naquela noite.
Mas quando o relógio marcou meia-noite e eu olhei pela janela do quarto pequeno onde me colocaram, percebi uma coisa: meu pai não voltaria. Nunca mais. Eu estava sozinha, num mundo que nunca tinha visto. Já tinha perdido a minha mãe e depois fui abandonada pelo meu pai.
Não sobrou ninguém comigo.
E foi ali, entre os ecos da música e o som distante da chuva, que a Cassie de quatorze anos morreu. No lugar dela, nasceu alguém que precisaria aprender a sorrir mesmo quando quisesse gritar. Uma Cassie que precisaria fingir, aprender a gostar da nova vida mesmo sem saber e sem ter controle.
Alguém que transformaria a dor em poder.
Não tinha mais nenhuma outra saída!
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{NOTAS DO AUTOR}
Olá, leitores! Sejam bem-vindos ao meu novo romance. Fico feliz que estejam aqui e espero que prossigam com a leitura por completo. Já escrevo há quase quatro anos aqui nessa plataforma e amo escrever. Se quiser, pode olhar meu perfil que tenho livros já completos pra você. Tenho romance, livro de babá, máfia, bilionários e tem mais para vir.
Quero esclarecer que, a plataforma censura certas palavras sensíveis e eu uso o trema (Ä) para evitar esse bloqueio. Já conheço algumas palavras para fazer isso. Quero avisar também que não teremos cena de violênciä contra a mulher e muito menos estuprö. Não escrevo isso!
Teremos muito desejo entre o casal, segredos do passado e muita reviravolta. Qualquer dúvida, me procurem no instä @aut.gsilva que respondo lá e tenho grupö de leitura.
Aproveitem esse romance. ❤️
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NÃO ACEITO ADAPTAÇÕES. PLÁGIO É CRIME!