Ela não fazia ideia do que tinha acontecido. Era como se um borrão obscurecesse a sua mente ao tentar lembrar do trajeto que fez até a sua casa e do que a levou a ficar desacordada na entrada do prédio. Felizmente, a senhora do terceiro andar a reconheceu e a despertou preocupada. Contudo, Ember sabia de uma coisa: estava com fome.
Sentindo-se ainda um pouco tonta e desorientada, ela decidiu que seria melhor pedir comida delivery. Pegou o seu celular e abriu o aplicativo de entrega de comida. Depois de um instante de indecisão, optou por um restaurante local que oferecia uma variedade de pratos reconfortantes.
Enquanto aguardava a comida chegar, Ember tentava organizar os seus pensamentos. A sensação de vazio na sua memória a perturbava, mas ela sabia que precisava se concentrar no presente. Após alguns minutos, o entregador chegou com a sua refeição. Ember agradeceu rapidamente e, ansiosa para se alimentar, levou a comida para a mesa da cozinha.
Enquanto saboreava o yakisoba, ela começou a sentir-se mais calma. O calor e os sabores reconfortantes ajudaram a dissipar a confusão em sua mente. Contudo, ao experimentar a comida japonesa, algo dentro de si lhe dava uma sensação de déjávu.
**
Victor observava Ember de longe, escondido nas sombras da noite. Ele sabia que não deveria estar ali, que deveria manter distância. A sua mente lutava contra os seus instintos, mas algo dentro dele o impelia a protegê-la, a permanecer próximo.
Enquanto Ember se aproximava da janela e abria o vidro, Victor segurava a respiração, oculto pela escuridão. Os seus olhos dourados fixavam-se nela, capturando cada movimento, cada expressão. Ele podia sentir o seu aroma no ar, um convite tentador e perigoso, apaixonante e intrigante que estava dominando o seu ser.
Subitamente, Victor decidiu que era hora de partir antes que fosse descoberto. Com passos rápidos e silenciosos, ele se afastou do prédio, desaparecendo na escuridão da noite. Seu coração ainda martelava com a proximidade dela, com a urgência de protegê-la de um perigo que ele não conseguia identificar claramente.
Enquanto caminhava pelas ruas desertas, Victor tentava reprimir seus pensamentos tumultuados. Ele sabia que aquele encontro não poderia se repetir. Seu mundo era perigoso demais para ela, e ele próprio era uma ameaça disfarçada. No entanto, uma parte dele desejava desesperadamente estar perto dela novamente.
De repente, o instinto de Victor o alertou, e ele se virou rapidamente, apenas a tempo de desviar de um ataque surpresa de um dos caçadores prismáticos. Marcus, o caçador, gargalhou animadamente ao ver quem estava diante dele: o próprio príncipe dos vampiros.
Victor recuou rapidamente para uma posição neutra, seus olhos cintilavam com uma luz prateada, fria e aterrorizante.
Marcus, um caçador experiente e ousado, não escondia o seu prazer diante do confronto iminente.
- Ah, se não é o príncipe, Victor. Marcus falou, gargalhando. – Que honra ter a sua ilustre presença aqui esta noite.
- Ousado em entrar no meu território. Victor o encarou com seriedade.
- Como se algum lugar pertencesse exclusivamente a você, majestade. Estou apenas cumprindo meu dever.
- Marcus... Você é tão previsível quanto sempre foi.
- Ah, Victor, sempre um prazer lutar contra você. Eu sabia que não poderia deixar uma oportunidade como essa escapar. Vamos ver se a fama do príncipe dos vampiros é merecida. Ele sorriu sarcasticamente.
Victor e Marcus se estudavam intensamente, cada um calculando os movimentos do outro. Ambos sabiam que o confronto seria rápido e brutal. A tensão no ar era palpável, carregada com a eletricidade de séculos de rivalidade e conflito.
- Se é uma batalha que você quer, Marcus, então será uma batalha que terá.
Marcus, ágil e determinado, desembainhou sua espada com um movimento rápido, enquanto Victor, sempre preparado, retirou a sua das costas em resposta ao desafio iminente.
Ele avançou com velocidade surpreendente, a sua lâmina brilhando à luz fraca das lâmpadas da rua. Victor respondeu com agilidade, usando a sua velocidade vampírica para desviar dos golpes precisos de Marcus. A dança mortal entre os dois começou, cada movimento uma mistura de graça e ferocidade.
A batalha prosseguiu no beco sombrio, cada movimento de Marcus e Victor calculado e preciso. O som metálico das lâminas se chocando ecoou pelo beco, competindo com o silêncio da noite. Victor mantinha a sua postura firme, os seus olhos dourados focados intensamente em Marcus. Ele sabia que os outros caçadores prismáticos estavam ao redor, vigilantes e prontos para intervir se necessário.
Victor sabia que a presença dos outros caçadores prismáticos ao redor tornava a situação ainda mais perigosa. Ele precisava terminar isso rapidamente.
De repente, um movimento nas sombras chamou a atenção de ambos. Três figuras emergiram da escuridão, seus passos quase inaudíveis. Asher, Nathaniel e Sebastian apareceram bem atrás de Victor.
- O que é isso, uma boy band? Marcus perguntou notando a presença dos novos adversários, sorriu sarcasticamente.
Victor manteve-se firme, os olhos dourados brilhando na penumbra.
- Asher, Nathaniel, Sebastian. Ele murmurou, sem tirar os olhos de Marcus. – Obrigado por virem. Mas não quero que intervenham.
Asher deu um passo à frente, o sorriso frio em seus lábios contrastando com a fúria em seus olhos.
- Parece que você precisa de um novo material para suas piadas, Marcus.
Nathaniel, com um tom de desprezo, cruzou os braços.
- Está com medo? Não foi isso que eu ouvi sobre os caçadores prismáticos.
Sebastian, sempre o provocador, riu.
- Vamos acabar logo com isso. Estou ficando entediado.
Asher sorriu, mas de repente ficou sério ao olhar na direção que Marcus rapidamente olhou. Ele tinha a habilidade de manipular as sombras, permitindo-lhe ver através delas com clareza. No canto mais escuro do beco, ele avistou as duas mulheres que observavam a situação em silêncio, prontas para atacar. Dentre as duas, uma lhe chamou a atenção.
Em sua mente, Asher registrou cada detalhe. A primeira coisa que o intrigou foi a postura dela – não era de medo, mas de pura determinação. Seu cabelo n***o caía em cascata sobre os ombros, quase se misturando com as sombras ao seu redor. Seus olhos, de um azul profundo, observavam cada movimento dos vampiros com uma intensidade quase hipnotizante.
Ele notou a calma nos movimentos dela, a forma como seus músculos estavam prontos para qualquer ação, mas sem tensão desnecessária. A serenidade nos olhos dela contrastava com a ferocidade que ele podia sentir emanando dela.
Ele se perguntou se ela era nova no grupo ou se simplesmente tinha passado despercebida. Talvez fosse uma nova arma secreta deles, treinada para se infiltrar e atacar na hora certa. Mas havia algo mais nela, algo que ele não conseguia definir. Uma presença que o atraía, mas também o alertava para um perigo iminente.
Asher sabia que precisava ser cauteloso. A fascinação que sentia poderia ser uma distração perigosa. No entanto, ele não conseguia desviar o olhar dela. Algo sobre aquela mulher o fazia sentir uma conexão, uma curiosidade que ele não conseguia ignorar. Ele continuou a observá-la enquanto a tensão no beco aumentava, esperando o próximo movimento.
Mesmo na escuridão, Asher percebeu que ela agora olhava diretamente para ele. O contato visual era intenso, como se uma faísca invisível tivesse sido acesa entre eles. Ela tinha percebido o olhar dele, e isso a deixava visivelmente constrangida e nervosa. Ele notou uma leve mudança em sua expressão, algo que mesclava constrangimento e nervosismo, como se ela não estivesse acostumada a ser observada tão atentamente.
Algo primal dentro de Asher despertou. Uma necessidade urgente, quase possessiva, de tomar posse daquela mulher. Não era apenas atração física, embora ela fosse inegavelmente bela. Havia algo mais profundo, uma conexão que ele não conseguia entender, mas que sentia com uma força avassaladora. Como se, de alguma maneira, ela pertencesse a ele, e ele a ela.
Ele se perguntou se isso era o que os humanos chamavam de paixão à primeira vista, mas era algo muito mais intenso. Sentia-se atraído por ela de uma maneira que nunca experimentara antes. Cada fibra do seu ser queria se aproximar dela, protegê-la, reivindicá-la como sua. A luta ao seu redor parecia se desvanecer enquanto ele se concentrava nela.
Asher observou seus movimentos, sua postura tensa e alerta. Ela era perigosa, mas isso apenas aumentava sua atração por ela. Ele se perguntou como seria domar aquela ferocidade, trazer à tona a suavidade que ele vislumbrava por trás da máscara de guerreira. Havia uma ternura escondida ali, e ele queria ser o único a descobri-la.
De repente, uma nuvem de fumaça misteriosa surgiu entre eles. O beco sombrio ficou ainda mais denso, e por um momento, Asher, Victor, Nathaniel e Sebastian ficaram alertas, preparados para qualquer coisa. A fumaça era espessa, turva, e tinha um odor acre que picava os sentidos.
Quando a fumaça começou a se dissipar, os quatro vampiros perceberam que estavam sozinhos. Os caçadores prismáticos, incluindo a misteriosa mulher que havia capturado a atenção de Asher, haviam desaparecido. O silêncio da noite voltou a envolvê-los, quebrado apenas pelo som distante do trânsito e das atividades noturnas da cidade.
- Que truque barato. Murmurou Nathaniel, olhando ao redor com uma expressão de desdém. – Só porque eu queria brigar.
- Eles sempre fogem quando estão em desvantagem. Sebastian riu, embora seu riso fosse amargo. – Medo. Eles sabem que não podem nos enfrentar de frente.
Victor, no entanto, estava mais preocupado.
- Isso foi um movimento estratégico. Disse ele, pensativo. – Eles queriam nos testar, medir nossas forças. E agora sabem que estamos juntos.
Asher permaneceu em silêncio, ainda fixado na lembrança da mulher nas sombras. O rosto dela, a expressão nervosa e constrangida, os olhos azuis que pareciam sondar sua alma. Havia algo sobre ela que ele não conseguia tirar da mente.
- Vamos. Disse Victor, interrompendo seus pensamentos. – Precisamos nos reagrupar e planejar nosso próximo passo. Eles voltarão, e precisamos estar prontos.
Os quatro vampiros se moveram em sincronia, saindo do beco com passos firmes e determinados. Enquanto se afastavam, Asher lançou um último olhar para o local onde a mulher havia estado. A promessa silenciosa que ele fizera a si mesmo se fortaleceu ainda mais. Ele a encontraria novamente. E quando o fizesse, descobriria todos os segredos que ela escondia.
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Lily estava furiosa. Ela não conseguiu conter sua frustração ao se aproximar de Marcus, os olhos faiscando com intensidade. Seu corpo ainda vibrava com a adrenalina da batalha interrompida abruptamente.
- Por que você ordenou que recuássemos? Ela disparou, sua voz carregada de indignação. – Estávamos prestes a ter vantagem sobre eles!
Marcus a encarou calmamente, sua expressão serena contrastando com a raiva contida de Lily. Ele sabia que precisava explicar sua decisão, embora entendesse perfeitamente a frustração dela.
- Lily... começou Marcus em um tom firme, mas paciente. – ... você precisa entender que ainda está em treinamento. Enfrentar Asher, Nathaniel, Sebastian e Victor sem um plano definido teria sido um erro fatal. Eles são muito poderosos e experientes.
Lily bufou, cruzando os braços com impaciência.
- Mas estávamos tão perto! Poderíamos ter pego um deles desprevenido.
Marcus balançou a cabeça lentamente.
- Não é assim que as coisas funcionam. Nossa missão era investigar a movimentação no beco da Rua 15. Tivemos a sorte de esbarrar no príncipe e sua guarda, isso já é por si só, valioso.
Lily estava visivelmente revoltada com a decisão de Marcus. Seus punhos estavam cerrados e sua respiração era rápida e irregular. Ela não conseguia conter a frustração por ter sido impedida de lutar até o fim contra os vampiros que enfrentaram no beco.
- Eu poderia ter feito mais! Protestou ela, seus olhos verdes faiscando com determinação. – Não precisava recuar, poderíamos ter vencido!
Marcus olhou para ela com seriedade, compreendendo sua frustração, mas também consciente de seu papel como mentor e líder dos caçadores prismáticos. Ele sabia que era importante ensinar a Lily a importância do planejamento e da estratégia em situações de confronto com vampiros tão poderosos.
- Lily, eu sei que você tem potencial. Disse Marcus com calma. – Mas ainda precisa aprender a controlar seu temperamento e a seguir as ordens. Foi uma decisão estratégica recuar. Você estava se expondo a um perigo desnecessário.
Antes que Lily pudesse responder, Marcus moveu-se com uma velocidade surpreendente. Em um movimento fluido, ele aplicou um golpe rápido e preciso, derrubando Lily no chão. Ela ficou atordoada por um momento, chocada com a velocidade e a força de seu mentor.
Karina, que observava a cena com preocupação, correu para o lado de Lily com uma poção de cura pronta. Ela se ajoelhou ao lado da jovem caçadora, preocupada com eventuais ferimentos que o golpe pudesse ter causado.
- Marcus, isso foi desnecessário! Protestou Karina, olhando para ele com reprovação.
Marcus se levantou, fitando Lily com seriedade enquanto ela se recuperava do golpe.
- Você precisa aprender que, às vezes, a disciplina e o controle são tão importantes quanto a bravura. Você não está pronta para enfrentar inimigos tão poderosos sem seguir um plano.
Lily se levantou lentamente, sentindo a dor do impacto, mas também a lição que Marcus estava tentando ensinar. Ela engoliu em seco, ainda com a expressão de frustração em seu rosto, mas algo dentro de si, dizia-lhe que era por estar se sentindo incomodada com o olhar que aquele vampiro de cabelos cor de marfim lançava em direção a ela como se a visse através da escuridão, seus olhos verdes brilhando ao vê-la como se estivesse nua.