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1093 Words
Chego à minha casa, solto os meus cabelos escuros da presilha que uso no trabalho. A porta da cozinha está entreaberta, não faço qualquer barulho para entrar. Encontro um prato de sopa quentinho na pequena mesa da cozinha, minha madrina está em seu quarto usando o velho telefone. Ela não me vê, pois está em sua cama sentada de costas, o volume da televisão está em uma altura considerável. A ligação que ela está recebendo é muito importante ou apenas uma amiga que ela pensa em chamar para um chá. — Senhora! Desculpe, o sinal do celular melhorou somente agora. A voz da mulher na linha ao longe paralisa meu corpo, recordo-me de algumas sacolas em minha cama quando era menor. Essa mesma voz é de uma mulher bem-vestida, consigo lembrar-me da roupa vermelha e dos saltos caros. Demoro dois segundos para desvendar o mistério. É a minha mãe, que sempre estava viajando e ocupada. Nada que ela fala tem algum interesse para mim, não preciso adivinhar que ela engravidou cedo e deixou sua própria filha com uma senhora para não ter preocupações. Reviro os olhos. — Ela deve estar chegando, é perto. Trabalha ainda na lanchonete perto de casa, Katherine está bem e será entregue sem nenhum arranhão para vocês. O ar acaba ficando frio, nebuloso para mim. Descarto a ideia de comer e tomar banho, caminho até à porta da cozinha tirando do bolso o meu simples celular. Procuro o nome de Pedro em meus contatos. Seja o que for que a minha mãe v***a está tramando junto a mulher que eu pensei que tinha um mísero carinho materno comigo, pensam em fazer. Não farei parte disso. Não vou ser entregue para " eles", ninguém vai encostar em mim! — Pedro, preciso de ajuda — aviso-o pelo celular. Enquanto saio correndo pela rua, ignoro se estão olhando para uma garota correndo desesperada e falando ao celular. A Lamborghini branca dele logo surge no meio da rua, rapidamente, entro no carro, respirando fundo. Passo uma mão pelos meus cabelos escuros como a noite. — Que brincadeira é essa, gata? O que está acontecendo com você e a coroa? — Preciso de dinheiro, um lugar longe daqui para ficar. Ela quer me entregar para alguém, acelera esse maldito carro! — rosno nervosa. Ele não pensa duas vezes. Somos muito amigos, antes da transa em seu carro ou na sua casa confortável e espaçosa. Olho para a janela, vejo o céu estrelado buscando um pouco de calma, meus batimentos estão rápidos. Eu não vou ser uma encomenda da mulher que me largou aos cuidados de uma senhora por um motivo. Depois do que ouvi começo a acreditar em prostituição ou até ser vendida para algum homem. — Entregar para quem? Sua família? — pergunta fazendo um carinho em minha coxa. — Eu não tenho família, sempre fui sozinha. Assim que conseguir juntar esse dinheiro vou te devolver cada centavo — prometo encarando seus olhos azuis. — Você não tem que me pagar absolutamente nada. — Nada nessa vida é de graça. Tudo tem seu preço, Pedro. — Às vezes nem tudo. Mudo-me para outro estado, a casa é simples, porém, confortável. Pedro tem negócios além do tráfico de drogas, aposto que não quer me contar. Eu não tenho medo disso. Jogo meu corpo cansado no sofá da sala, encaro o teto com alguns desenhos em espiral. O dinheiro que Pedro me deu é suficiente para me ajudar. Preciso falar com ele e saber do movimento na minha antiga casa. Engraçado como a minha vida nunca foi normal, essa proteção maldita no fim das contas tinha uma explicação. Aquela mulher que eu achava que cuidava de mim por um mísero carinho afetivo, iria me entregar nas mãos de uma mulher que jamais se interessou de mim. Diz que é minha mãe, mas para mim apenas me cuspiu no mundo e largou-me para fazer suas comprinhas e até conquistas com homens que nem imaginam que ela tem uma filha escondida no mundo. Pego meu celular e vejo algumas mensagens da Maite, não vou responder ou dar notícias. Largo o celular na mesa, junto aos meus fones de ouvido, encaro minha roupa. Não tem como tomar um banho nesse lugar, estou sem roupa, não penso nem em dormir direito. Tenho que estar com os olhos abertos.      Pedro que não diga nada e muito menos encontre minha maldita madrina. Ela não vai concluir sua entrega, os planos dela foram por água abaixo, com certeza ela iria ganhar um dinheiro com a minha entrega. Ela deve ter recebido dinheiro, muito dinheiro para ficar de boca fechada e tentar me deixar perfeita para a entrega. Em um certo momento o sono me alcança.Quando acordo desesperada pensando estar em algum lugar perigoso como no sonho, vejo que estou na cama confortável. Coço os olhos e depois pego o celular, ao olhar as horas fico mais tranquila, posso escovar os dentes e ir até um mercado, comprar algumas coisas. Não demoro muito para sair de casa, prendo meus cabelos em um coque frouxo. Ando pelo bairro procurando por um mercado pequeno, enquanto caminho tenho a sensação de estar sendo seguida. Olho para os cantos procurando, por algo ou alguém que esteja me perseguindo, meu instinto não me engana, minha intuição sussurra em minha mente que algo está errado. Alcanço meu celular no bolso na calça, constato que a bateria está acabando, quando desvio meus olhos do aparelho um carro luxuoso para à minha frente. Largo o celular, jogando-o no chão, corro pelo caminho que estava vindo, meu coração está disparado e a minha mente uma completa bagunça. Mas correr é inútil quando mais homens surgem com armas nas mãos apontando para mim. — Quieta — um deles ordena. Engulo em seco. — O que querem comigo? Falem! — mando, irritada. O deboche deles ao dizer que não vou saber de nada aumenta meu nervosismo. Dou dois passos para trás batendo em alguém. Mãos ásperas vão ao encontro da minha boca com um pano com um cheiro forte, provavelmente algo químico. — Cheira isso, finalmente achamos você, Katherine Carter.  Minha mente divaga tentando entender. Tento não inalar isso, mas não consigo ficar muito tempo sem respirar, acabo cheirando esse odor forte.  Meu corpo fica mole, perco a consciência nos braços de um desconhecido. Ele conhece meu nome, mas adicionou um sobrenome que não uso, provavelmente é o dela. O sobrenome da minha maldita mãe. Ninguém virá até aqui para me tirar do destino que essa maldita entrega reserva para mim.
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