Chicago, Estados Unidos
Abro os olhos, e uma tontura acomete meu corpo, a claridade do cômodo é demais e os fecho novamente.
Xingo irritada.
Começo a abrir os olhos novamente, mas, dessa vez, devagar, olho ao redor e percebo que estou em um quarto, no entanto, não é o qual estava na casa de Pedro.
A cama confortável é coberta por um cobertor branco, grande e macio, o quarto tem cortinas em um tom cor-de-rosa também.
O tapete de pelos chama minha atenção.
Que merda é essa? Isso é o que minha mente grita para mim, fecho os olhos por um momento lembrando daqueles malditos.
Fui sequestrada!
— Preciso sair daqui — desespero-me olhando ao redor.
Procuro pelo quarto algo que possa usar como forma de defesa, acho um abajur, melhor do que nada.
Caminho ainda me sentindo tonta, seguro-me na parede por alguns segundos recuperando o equilíbrio.
Saio do quarto tentando não fazer barulho, não estou em uma simples casa. O corredor é enorme e tem vários outros quartos, isso é uma mansão.
Ando em passos confiantes até à escadaria, desço sentindo meu coração acelerado a cada passo que dou. Direciono meus passos para uma espécie de sala de estar, procurando por alguém, até que, uma voz desconhecida surge atrás de mim.
— Finalmente acordou.
Viro-me pronta para jogar o abajur quando à minha frente vejo um homem muito bem-vestido para ser um bandido.
Encaro o sujeito que usa um terno azul, a gravata é da mesma cor, azul-marinho, de seu terno.
Os cabelos loiros penteados para trás, um homem mais velho, bonito, seus olhos me estudam com diversão, não vislumbro nenhuma ameaça ainda.
Ele olha para o abajur em minhas mãos.
— Você tem nossos instintos apesar de não parecer.
— O quê? — questiono, intrigada. — Quem é você? Onde estou? Não vou tirar as roupas para você, t*****r muito menos, acabo com a sua vida se ousar tocar em mim! — rosno entredentes.
O sujeito sorri colocando uma mão no queixo. Consigo ver uma arma em sua cintura.
Merda!
— Está me ameaçando com um abajur? Uma arma seria mais ameaçadora, Katherine.
— Um abajur é tão perigoso quanto uma arma, tudo em minhas mãos se torna perigoso — acrescento, debochada.
Ele passa por mim, rindo até se sentar no sofá confortável e grande da sala.
— Estou fascinado por conhecê-la, você tem todas as características dela.
— Quem? — pergunto, irritada.
— Isabela Carter, sua mãe, minha mulher. Você não deixou seu padrasto fazer uma boa apresentação, pode largar isso ou eu tiro de você? — ele diz e olha em direção ao abajur.
Sorrio deixando-o cair no chão.
Ele semicerra os olhos azuis para mim.
— f**a-se que você está com ela. Quero sair daqui, onde ela está afinal?
— Katherine.
Viro-me encontrando a mesma voz feminina que falava com a minha madrina.
Encontro uma bela mulher, odeio constatar que ela é bonita ainda, queria xingar, rir de sua aparência pela tamanha bagunça que minha vida se transformou graças a ela!
Cabelos loiros, grandes e lisos, olhos verdes, alta e com um belo corpo cheio de curvas, o físico é muito parecido com o meu.
Ela está usando um vestido vermelho, um muito parecido com que a minha memória me traz.
— Isabela. — Minha voz sai fria. — O que quer comigo? Quero sair desse lugar, não sou mais menor de idade, não sou seu bebê abandonado — completo em um tom frio.
Ela se aproxima me olhando com muita atenção. Observando cada detalhe, traço do meu rosto.
— Você foi muito bem cuidada, era o que eu queria, paguei caro para aquela mulher cuidar e te manter longe por um tempo.
Gargalho, debochada.
— Ela quebrou o abajur, sua filha tem todos os instintos, um trabalho a menos — seu namorado comenta ganhando atenção da minha mãe.
Trabalho?
— Explique para mim que merda de trabalho é esse. Achei que minha madrina iria me entregar por causa de uma prostituição ou algo do tipo.
Isabela ignora toda a minha confusão com toda essa situação, seu foco está em falar comigo.
— Temos muito o que conversar, no seu quarto — essa mulher que se diz ser minha mãe, comunica.
Meu quarto? Ela só pode estar testando minha paciência.
— Melhor conversar e tentar acalmá-la. Sabe que tem que apresentar sua filha hoje mesmo, Isabela, volto depois.
— Eu sei, Lorenzo, não vou esconder Katherine do mundo ao qual ela pertence, não mais. — Meus pelos se arrepiam pelo tom que não consigo decifrar.
Quero sair daqui, mas desejo ouvir tudo sobre esse plano, "entrega" que minha madrina iria concluir.
Instintos. Quero saber tudo...
Sigo para o quarto que ela diz ser meu, mas não é p***a nenhuma. Nada que tem aqui dentro me interessa, pode ter de tudo, porém, eu quero a minha liberdade, ela vale milhões.
Isabela fecha a porta e essa atitude dela me faz rir.
— Conversa de mãe e filha a essa altura? Não rola comigo — desdenho.
Vejo uma arma em sua mão. Arregalo os olhos.
— Isso faz parte de mim e de você também. A mulher que eu fiz um acordo para poder te livrar de um destino pior, não contou nada porque seguiu as minhas ordens, sou Isabela Carter, m****o da Outfit ou máfia de Chicago — ela anuncia e sorri divertida.
Engulo em seco.
Máfia.
Armas, poder, vida de pessoas.
Estou aqui sem nada e apenas com a roupa do corpo.
— Minha mãe é uma mafiosa e seu namorado também, todos aqui são. Você me deixou com aquela mulher para viver uma vida de luxo, crime! — elucido.
Isabela, vulgo minha mãe, meneia a cabeça em um claro sinal de negativa.
— A máfia tem tudo isso, luxo, crime e também desejos que podem custar sua vida. Minha vida foi marcada por treinamentos para saber usar isso, arrancar a verdade nem que seja a força, desde que tinha treze anos, sua família está na máfia há muitas gerações, Katherine.
Dou de ombros.
— Eu estou muito bem longe daqui, família sou eu e minhas decisões.
Ela mira a arma na parede atrás de mim e atira, olho o tiro perfeito que ela deu.
— Aprendi a ser ouvida também, coloquei você no mundo e não vou ser ignorada por uma menina.
Balanço a cabeça, é inacreditável estar aqui ouvindo tudo isso.
— Menina? Tenho vinte e três anos, menstruei, fiz sexo. Não há mais nenhuma menina em mim, esqueça uma infância a qual você não teve uma maldita participação! — rebato, ofegante.
— Seu sangue é o meu, agora você vai escutar tudo o que eu quero dizer e sem brincar com a minha paciência.
Ela tem uma maldita arma. Apenas nessa parte ela está em vantagem sobre mim.
Sento-me na cama, olhando para a figura da máfia de Chicago.
Meu sangue é da máfia.
Isso é uma bênção ou maldição?