O.

459 Words
Após tudo, Jimin fechou as grossas cortinas de seu apartamento, cegando Jungkook de qualquer visão do que acontecia ali dentro. O show havia acabado. Guardou sua câmera na pequena bolsa preta e a rodeou em seu pescoço. Levantou sua calça jeans que havia alguns rasgos — não propositais ou por moda, mas por serem surrados e velhos — e desamassou a blusa branca que usava, suja com alguns pingos de sangue, mas aquele era apenas um detalhe. Lavaria tudo mais tarde. Fez o caminho até a porta do flat, onde tropeçou nos corpos ensanguentados dos donos ainda, importunamente, vivos. — Ah! Quase ia me esquecendo de vocês. Suspirou e se agachou entre os dois corpos. Um casal. Homem e mulher, apenas um pouco mais velhos que Jungkook. Amarrados com força em cordas grossas, esmagando os corpos trêmulos e fracos. Pedaços de pano colocados dentro da boca, exatamente como um porco assado numa ceia, impedindo qualquer som além de murmúrios desconexos e baixos saírem. Ninguém lá fora poderia ouvi-los. Jungkook suspirou, olhando para um e em seguida para outro. — Pensei que estivessem mortos — olhou o sangue dos dois formar uma poça densa sobre o chão, tão escura, que era impossível de enxergar o azulejo de madeira sobre o líquido. — Mas, parece que me enganei — deu um pequeno sorriso de lado. Eles estavam calados, com medo, apenas querendo que aquilo tudo acabasse. A mulher tinha a feição desesperada, os olhos tão esbugalhados que quase pulavam para fora. O delineador estava escorrido sobre as bochechas junto às lágrimas incessantes da mulher; as têmporas molhadas de suor. As pernas, cada uma, com um forte profundo nas coxas, onde levara fortes facadas. O suficiente para joga-la no chão e ficar impotente. O homem estava mais calmo, apenas aguardando a morte enquanto seu abdômen sangrava sem parar, sentindo-se cada vez mais leve, como se a sua própria alma estivesse saindo de seu corpo. Doía. E doía para c*****o. Mas ele apenas aceitou e desistiu de lutar. Deus estaria esperando ele no céu, ele queria acreditar nisso, contava com isso. — Bem, pelo menos assim, vocês não irão feder tão cedo. Cheiro de cadáveres mortos é terrível, sabiam? Impregna rápido como carne podre — Disse, numa reclamação e careta. — Vocês fizeram uma sujeira gigante aqui... Tsc. Levou uma das mãos ao sangue fresco e viscoso, molhando as digitais com a tinta vermelha, levando-as próximo aos olhos, sorrindo de forma doentia em seguida. Encostou a pontas dos dedos na boca e passou o sangue nos lábios, dando leves batidinhas, como se fosse um batom. Fechou os olhos brevemente e passou a língua vagarosamente ao redor da boca, apreciando o gosto ferroso das e amargo das hemácias alheias como se fosse vinho. Chupou o resto dos dedos e se levantou. — Até mais, amigos — acenou num sorriso e bateu a porta.
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