Festival de moda em Busan
Convidado de honra: Park Jimin.
Jungkook já havia garantido seus ingressos para o evento — após ter esfaqueado um dos revendedores de ticket com um canivete enferrujado, e jogando-o dentro de um camburão.
Numa quarta-feira levariam o lixo, e ele iria junto, como um pedaço de carniça qualquer.
Ninguém realmente se importava com o crime nos subúrbios de Busan. O que era trágico para uns, era um ponto positivo para Jungkook.
Precisava de roupas novas urgentemente. Voltou para o apartamento de luxo do casal, onde eles ainda estavam lúcidos, sangrando e mijados. O cheiro da urina piorou tudo.
Seres humanos podem sobreviver por mais de um mês sem comida, porém, menos de quatro dias sem água. Jungkook não os alimentava ou dava de beber.
Como ainda estavam vivos? Você se pergunta. Bem, na verdade é bem simples:
Eles estavam tomando do próprio mijo.
— Olá, amigos! Vocês fedem à merda — disse, adentrando o lugar, sorrindo — mas não os culpo. Necessidades biológicas, né?
Eles permaneceram em silêncio, vegetando, olhando para o nada, enxergando nublado e Jungkook, para eles, era um borrão; apenas esperando pela morte, e rezando para que ela chegasse logo.
— Eu preciso de roupas, amigos, e vocês têm bastante... — proferiu, antes de fazer, como um aviso. — Vocês não se importam, não é? Ah, é claro que não se importam. — Deu um sorriso infantil.
Caminhou até o quarto do casal, o maior cômodo até então do flat, e antes de tudo, tomou uma ducha. Uma boa ducha. Que não tomava fazia meses.
Depois disso, com apenas uma toalha cobrindo-lhe do quadril para baixo, ficou na frente do grande guarda-roupa do casal, vendo a variedade imensa de vestes ali. Seus olhos brilharam no mesmo instante.
— Ora, ora, vejamos o que temos aqui... — disse, para si mesmo, com um meu sorriso no canto da boca.
Jungkook analisou os mais de quinze smokings do senhor HeJuan, um por um, fazendo a questão de deslizar suas digitais lentamente pelas peças, apenas para sentir os tecidos caros sobre suas digitais. Macios e sedosos. Linha à linha.
Pôs a mão sobre o queixo enquanto mordiscava o lábio inferior, pensando em qual escolheria, como se estivesse escolhendo um sabor de sorvete. Um sorvete de mais de cinco mil dólares.
Acabou por pegar a mais simples, mas elegante. Vestiu. Olhou-se no espelho. Sorriu orgulhoso. Preta, com linhas douradas quase imperceptíveis, mangas suaves com um botão sutil na ponta e calças sociais, que eram um tanto apertadas para suas pernas musculosas.
Parecia ter sido feito à medida, somente para ele. Seu peito malhado e forte ficava destacado sobre uma camisa branca de botões por baixo, como se a qualquer momento, a blusa não aguentaria e os botões fossem pular fora. Preferiu então, deixar os dois primeiros abertos, apenas por segurança. Não queria dar um show strip-tease logo no início da festa.
Quem o visse, pensaria que ele era um grande homem de negócios. Ou um modelo conhecido.
E era exatamente essa impressão que queria dar às pessoas no evento.
Jungkook havia sorte de pelo menos ter nascido bonito, se considerando ao padrão coreano, tanto de rosto, tanto pelas suas proporções físicas. Alto, magro, musculoso — mas não exagerado — lábios perfeitos e um tanto apelativos, olhos grandes e intensos, uma voz profunda demais para alguém de sua idade e cabelos extremamente sedosos.
Era um homem, e tanto.
Claro, se tirasse seu lado doentio.
Secou os cabelos com um secador e os penteou de maneira partida, para trás. Passou uma leve maquiagem no rosto, especialmente nos olhos, e um gloss rosado nos lábios, para dar cor e deixá-los apelativos a quem olhasse.
Aplicou qualquer perfume masculino por ali. Pôs anéis nos dedos. Colocou um Rolex de ouro puro no pulso magro que achou por cima de uma penteadeira junto a uma coleção de muitas outras, e botinas sociais, muito bem engraxadas.
Deu uma última passada de mão pelos fios de cabelo, feliz do que via no espelho.
Era a p***a de um narcisista vaidoso.
Pegou uma carteira cheia de notas e guardou no bolso. Observou os ponteiros do relógio. Oito e meia.
Saiu do quarto, caminho à saída e encontrou o casal mais uma vez no chão. Riu baixinho para eles.
— Hoje eu irei encontrar meu amado, finalmente... — suspirou aliviado, sorrindo — Desejem-me sorte.
E saiu pela porta.