PRÓLOGO
O céu deveria estar repleto de estrelas, um dia perfeito para admirá-lo. Contudo, o ambiente estava muito escuro e os ruídos vindos na direção da densa vegetação da floresta só aumentavam meu nervosismo. Eu não queria e não podia fraquejar nessa hora. As contrações de minha amada se tornavam cada vez mais fortes e não havia ninguém por perto que pudesse me ajudar nesse momento. Quantas lutas eu já travara em minha vida, e quantas missões arriscadas tive que fazer para ser considerado o guerreiro mais forte do Sul de Zafis e, de todas elas, nunca me senti tão impotente e fraco como agora.
— Força, minha amada. Você consegue!
Observei seus olhos revirarem. Ela apertava com força o cobertor como se pudesse impedir a dor de vir. Dentre cada respiração ofegante, ela mordia o lábio tentando suprimir os gritos. Era necessário, uma vez que estávamos em guerra e não podíamos, em hipótese alguma, ser descobertos. Um grito, a essa altura, poderia ser ouvido a quilômetros de distância.
Olhei para os lados procurando entender como consegui chegar a esse ponto. Eu simplesmente não conseguia me concentrar! Estávamos dentro de um tronco oco, numa árvore rodeada de arbustos e cipós, numa região cercada por incontáveis animais selvagens e tudo isso com o único objetivo de tentar mascarar qualquer som ou pista que levasse o inimigo até nós. Apesar disso, uma vigília constante era necessária e, para isso eu contava com Valente, meu fiel cavalo.
— Kiroshi... estou com medo!
A pequena pedra luminescente que eu arranjara para iluminar era suficiente para que eu conseguisse ver os olhos de minha amada brilhando, já não conseguindo conter mais as lágrimas.
— Falta pouco. — Segurei sua mão enquanto tentava transferir energia do meu manto de força para ela, esperando que isso pudesse ajudá-la. Ela imediatamente puxou a mão para si, e me lançou um olhar repreensivo. Ela estava exausta, e apesar disto, se manteve firme.
— Tenho medo de machucar nosso bebê.
Ela já tinha falado sobre isso comigo várias vezes, anteriormente. Sem qualquer experiência ou instrução, concentrar a nossa energia especial para minimizar a dor e facilitar a saída da criança poderia surtir um efeito inesperado. Reunindo energias, começou a fazer mais força e, poucos segundos depois, pude segurar a criança em meus braços.
— É uma menina! — Eu estava bobo. Ela era tão pequena e frágil e eu já a amava tanto. — Uma menina linda e saudável.
Minha amada sorriu, deixando-se relaxar e, por fim, começou a usar seu manto de força para acelerar sua recuperação. Enquanto isso, limpei a nossa pequena em águas mornas e a enrolei em panos limpos.
— Me deixe segurá-la, Kiroshi.
Cuidadosamente entreguei nossa pequena, ainda sem nome, para minha amada. Ao sentir os braços quentes da mãe ela parou de chorar, se deixando envolver por todo o amor que ela tinha a oferecer.
— Ela é tão bela! — Tornei a repetir. Eu não cansava de olhar seu corpo tão pequeno e frágil, com seus dedinhos balançando no ar. Tudo que senti naquele momento foi um imenso amor e uma necessidade insana de mantê-las protegidas.
— Nosso povo não tem costume de dar nomes com significado, mas quero que com ela seja diferente. Quero chamá-la de Lirabela!
— É um ótimo nome! — Não havia como discordar. Ela fez junção de duas palavras com um imenso significado para nós. Lira é uma flor que em nosso mundo, possui grande resistência a variações de temperatura e permanece florida emanando beleza durante quase todos os dias do ano. Foi em meio a um canteiro de Liras que vi minha amada pela primeira vez. Acabou que essa flor tão especial passou a representar nosso amor, que agora se manifestou da forma mais bela possível… através de nossa adorável menina. — Que seja. Ela será nossa Lirabela!