Cálculo era difícil de focar. Oliver me incomoda um pouco brincando com meu cabelo ou traçando padrões com a parte de trás do lápis nas minhas costas. Eu continuava me contorcendo e afastando o braço dele, mas quando eu levei bronca por ser desrespeitosa com a turma, tive que deixar pra lá. Sinceramente, depois que relaxei, até que foi bom. Eu podia sentir ele enrolando meu cabelo nos dedos. Se estivéssemos em um ambiente diferente, eu pensaria que é quase sensual, mas tenho certeza de que ele está tentando me provocar de propósito.
Oliver também estava certo sobre minha lição de casa. O número 18 ainda estava errado e eu estava tão apressada para terminar a última pergunta que errei aquela também. Cálculo é difícil, como vou passar nessa matéria? Não tenho atividades extras em meu currículo universitário, preciso de todas essas aulas avançadas.
Eu estava tão envolvida na tarefa que acabamos de receber que esqueci de verificar a hora. O sinal tocou, indicando a hora do almoço, e eu estava correndo para juntar minhas coisas. Droga, eu deveria sair daqui rapidamente para evitar o Oliver, assim como tenho feito com os amigos dele.
"Se você continuar se apressando, vai tropeçar, Millie", diz Oliver, fazendo com que eu deixe cair tudo o que estava nas minhas mãos.
Olho para cima para encará-lo. Oliver parece estar realmente arrependido. Ele se abaixa e começa a recolher minhas coisas. Eu também me abaixo e começo a fazer o mesmo.
"Desculpe, não foi minha intenção fazer você deixar cair tudo", ele diz para mim. Eu o ignoro. "Deixe-me compensar levando você até seu armário. Vou carregar todas as suas coisas", ele oferece.
"Não", eu digo e então pego minhas coisas de volta dele.
"Por quê?" ele pergunta.
Eu o olho incrédula. "Por que todos vocês são tão insistentes?", pergunto. "É... frustrante e eu não entendo isso", afirmo e me viro em direção à porta.
"Millie, espere", ele chama atrás de mim.
Desta vez, me virei sozinha. Talvez eu precise ser uma verdadeira v***a para fazer essas pessoas irem embora. Eu não confio nelas, mas elas não merecem ser alvo só por serem gentis comigo. E isso vai acontecer se eles não pararem.
"Ei, você é novo, certo?" uma garota diz interrompendo o que Oliver estava prestes a dizer. Ela está na nossa aula de cálculo. Ela o olhou de cima a baixo e deu um sorriso doce. "Você precisa de ajuda para se atualizar em alguma coisa?" ela pergunta a ele.
"Não, obrigado", ele responde apressadamente e depois olha para mim. "Millie já se ofereceu para me ajudar", ele diz e meus olhos se arregalam.
Eu deveria ter continuado meu caminho.
A garota me olhou com desprezo. "Millie Holmebrooke? Ha!", ela diz . "Acredite em mim, Millie é coisa usada, bem... se você pode chamar o que ela teve de coisa. Acredite quando digo que você pode fazer melhor, muito melhor."
Eu me viro e vou em direção ao meu armário. Sinceramente, não suporto o olhar que Oliver inevitavelmente me lançaria. Pela primeira vez em muito tempo, pessoas da minha idade estavam sendo gentis comigo. Tenho tentado afastá-las, mas não consigo deixar de ficar triste com toda a situação. Eles ouviriam os rumores, provavelmente acreditariam neles como todo mundo e se juntariam à multidão que odeia a Millie. Se não, então eles também seriam intimidados. Não tenho certeza de como é o bullying para os garotos e até agora parece que esses podem se defender, mas a Lila... Eu me sentiria muito culpada se as pessoas começassem a deixar mensagens no armário dela ou jogassem lixo nela. Tudo isso só por ser minha amiga... Não posso deixar isso acontecer.
Quando chego ao meu armário, suspiro aliviada por Milinda ou outra pessoa não ter me deixado outra mensagem. Caleb não estava me esperando como de costume e eu estava pensando se deveria ir para a biblioteca. Queria poder caber dentro do meu armário e ficar lá durante todo o intervalo do almoço.
Estava resmungando enquanto empurrava minhas coisas para dentro do armário quando alguém se aproximou por trás de mim.
"Oh droga, pensei que você já tivesse ido embora." A voz anasalada de Milinda chegou aos meus ouvidos.
Reviro os olhos e me viro para vê-la segurando abertamente uma lata branca de tinta spray. Claro que ela pode carregar isso por aí sem ninguém se perguntar 'ei, você acha que ela é quem escreve em todo o armário da Millie?'. Tenho que revirar os olhos novamente. Ninguém na escola se importa.
"Não se preocupe, Milinda. Estou indo embora agora, então fique à vontade." Eu digo e então bato meu armário.
Milinda resmunga. "Não é divertido quando você não se importa. O que aconteceu com a chorona do ano passado?" Ela pergunta.
"Cresci." Eu digo com um sorriso forçado e tento passar por ela.
Milinda se coloca na minha frente para que eu não possa passar. "Talvez devêssemos voltar a te bater então." Ela diz.
Estreito os olhos para ela. "Então faça isso. Não me importo mais." Eu digo.
Milinda sorri debochadamente para mim. Ela abre a boca para dizer algo, mas então ouvimos passos vindo do corredor. Mantive meu olhar fixo nela, imaginando se ela ainda faria algo. Tenho certeza de que, se não for um professor, ela fará, e tenho certeza de que o aluno não vai se importar. Os passos ficaram mais próximos e o sorriso de Milinda voltou. Acho que é um aluno.
"Já que você quer ser assim, Millie, tudo bem." Ela diz.
Ouvi o som do tapa antes de senti-lo. Memórias de todos os lábios cortados que recebi no ano passado voltam à tona. Minha cabeça virou para o lado e eu já podia sentir o gosto do sangue. Lágrimas encheram meus olhos, mas eu as pisquei de volta. Milinda tem o tapa mais forte de toda a equipe de líderes de torcida. Limpo meu lábio enquanto me viro de volta para ela e sorrio.
"Parece que você está perdendo o jeito, Milinda. Normalmente eu sangro mais." Eu digo e então passo por ela.
Milinda agarra meu cabelo e me puxa de volta. "Você não tem o direito de dizer uma merda dessas para mim e depois fugir, sua vadia." Ela diz.
Eu me viro e a empurro para longe de mim. Milinda cai sentada e me encara com raiva. O corredor está vazio, não faço ideia de quem era a pessoa ou para onde ela foi.
"Sua v***a estúpida!" Milinda grita.
Antes que isso possa piorar, eu corro. Assim como a covarde que sou. Corro para a biblioteca onde o Ted está. Antes que ele possa me notar, entro no banheiro da família que fica dentro da biblioteca. Ele tranca, então posso me limpar sem que a Milinda venha atrás de mim.
Olho para mim mesma no espelho e lágrimas enchem meus olhos. Todas as memórias de fazer isso no ano passado voltaram correndo. Olhando no espelho, me limpando, chorando como um bebê e me escondendo. Prometi a mim mesma que não me esconderia este ano, mas me permiti alguns minutos de choro. Depois me recompus, lavei o rosto e pressionei o lábio até parar de sangrar. Endireitei os ombros e ergui o queixo. Não tenho certeza se pareço feroz, mas definitivamente não me sinto assim. Finja até conseguir, certo?
Quando saio do banheiro, a biblioteca ainda estava vazia, exceto pelo Ted.
"Millie, você não vai almoçar?" Ted pergunta quando passo por ele.
Balanço a cabeça. "Não estou com fome e realmente preciso trabalhar nessa tarefa de história." Eu digo a ele.
Não foi uma mentira total. A tarefa só precisa ser entregue na sexta-feira, mas eu ainda não comecei. Então, vou fazer isso enquanto me escondo na biblioteca. Tenho apenas hoje, apenas essa hora para me esconder. Depois tenho que voltar lá fora e enfrentar meus agressores.
Enquanto me sento, parte de mim começa a pensar nos passos que ouvi. Quem era? Que aluno foi esse que ignorou o confronto? Talvez eles tenham ficado e assistido? Talvez tenham corrido em busca de ajuda? Duvido.
Meu celular vibrou no bolso e eu o tirei para ver uma mensagem do meu irmãozinho.
"Onde você está?" Ele pergunta.
"Tinha alguns trabalhos para colocar em dia." Respondo.
"Você está na biblioteca?" Ele perguntou.
Engolo em seco. Devo mentir? Realmente não quero que o Caleb veja meu lábio. Quer dizer... Ele vai ver depois, mas depois seria em casa, onde posso acalmá-lo. Aqui? Ah, com certeza ele vai fazer algo.
"Não." Eu digo a ele.
"Você está mentindo." Ele diz.
Merda.
"Estou bem, Caleb, aproveite seu almoço." Respondo.
"A Lila quer te ver." Ele me diz.
Meu coração doeu. O que acabou de acontecer é ainda mais motivo para afastar todos eles. Não suportaria ver Milinda ou qualquer outra pessoa tratando Lila dessa maneira. E se os meninos também forem intimidados da mesma forma ou pior? E se for só brigas e todos me culparem no final? Não consigo fazer isso. Não consigo lidar com a culpa. Eles merecem uma vida normal no ensino médio, não esse show de merda que eu trago.
"Diga a ela que não quero vê-la." Eu digo.
A resposta de Caleb foi instantânea. "Eu não vou dizer isso porque é rude e não é verdade."
Suspiro. "Só quero ficar sozinha, Caleb." Respondo e coloco meu telefone no silencioso.
Hoje está sendo difícil. Acho que deveria ter esperado por isso. Afinal, parei de ceder e reclamar de todo o bullying. Claro que eles aumentariam o jogo deles. Por que os adolescentes são tão cruéis?
Não tenho certeza se Caleb respondeu ou não, pois ignorei meu telefone. Ninguém entrou na biblioteca procurando por mim e fiquei grata por isso. Ted também continuou seu próprio trabalho e me deixou em paz. Finalmente, um pouco de paz e tranquilidade. Trabalhei no meu trabalho de história e estava quase terminando quando o sinal tocou, nos informando que o almoço acabou.
Recolhendo minhas coisas, voltei para o meu armário. Agora há uma mensagem. Revirei os olhos. Diz 'Cuidado, v***a'. Milinda deveria melhorar nas ofensas. Tudo o que ela faz é me chamar de gorda, feia ou algum insulto parecido com v***a.
Pego meu livro de história e bato meu armário. As pessoas estavam olhando para mim e cochichando, mas mantive a cabeça erguida enquanto as ignorava. Isso mesmo, não me importo.
Quando entro na sala de aula, sento no meu lugar habitual e pego meu trabalho. Tudo que tenho que fazer é terminar de escrever os últimos parágrafos e depois digitá-lo. Com certeza terminarei antes de sexta-feira. Bom, se eu jogar minhas cartas direito, não terei lição de casa no fim de semana. Embora isso dependa do cálculo.
"Você deve ser a Millie." Uma voz masculina soa atrás de mim.
Isso é estranho. Ninguém senta atrás de mim. Ou ao meu lado, aliás. Sou como a peste.
Viro para encarar um cara extremamente bonito, tipo muito bonito. Ele tem cabelos castanhos claros amarrados atrás da cabeça em um coque masculino. Ele tem os olhos azuis mais profundos que parecem me hipnotizar. O sorriso travesso que ele está usando é sexy pra caramba. Meus olhos desceram pelo corpo dele e o vi com uma camiseta azul brilhante e um par de bermudas caqui. Sua pele está bronzeada como se ele tivesse vivido na Califórnia a vida toda. E ele tem músculos, não tantos quanto Leo ou Atlas, mais como Oliver. Espera! Por que estou fazendo tudo isso?
Balançando a cabeça, decido franzir a testa para o cara.
"Desculpe, Millie não está aqui hoje. Por favor, não tente novamente." Eu digo e então me viro novamente.