Capítulo 5

1001 Words
A manhã seguinte chegou como um golpe para Lara. Ela acordou com o celular vibrando de forma insistente — uma chamada de Sofia, sua melhor amiga. — Acorda, garota. Temos um problema dos grandes. Lara sentou-se, ainda tonta de sono. — Que tipo de problema? — O tipo que veste terno caro e faz o FBI parecer escoteiro. O sangue dela gelou. — Fala direito, Sofia. — Dante Moretti. — A voz da sua amiga ficou mais baixa. — Fiz o rastreamento do nome dele. E ele não é só um jogador de pôquer amiga. Lara levantou-se da cama num salto, andando de um lado para o outro pelo quarto. — Eu imaginei. — Ele tem conexões com uma grande5 rede internacional de lavagem de dinheiro. Só que tem uma coisa estranha... — Sofia hesitou. — As transferências mais antigas o ligam ao mesmo homem que destruiu a empresa do seu pai. Lara parou, em silêncio. — Quem? — Victor Renaud. -O mesmo nome que aparece nos documentos que o Rafael usou contra a tua família. O coração de Lara batia descompassado. Victor Renaud. O nome que ela ouvira apenas em sussurros na sua casa— o homem que financiara a armadilha que arruinou seu pai. E agora, Dante estava ligado a ele. Mas uma dúvida se infiltrou no meio da raiva: Se Dante trabalhava para Renaud… por que ele teria tentado avisá-la de um suposto perigo presente no momento? Já não sei o que pensar, ou em quem confiar. Tudo isso é muito coisa para eu assimilar. +++++++++++ O salão do cassino estava lotado novamente naquela tarde. A segunda rodada do torneio começaria em alguns minutos. Apesar dos rostos serenos de todos, havia uma tensão no ar. Lara entrou com o rosto sereno, mas por dentro era um turbilhão de sentimentos. Dante estava lá, como sempre, no centro do salão. Quando ela se aproximou, ele levantou o olhar — e, por um breve instante, pareceu aliviado por vê-la. —Como você Dormiu ? — ele perguntou, com aquele tom leve que escondia algo mais profundo. — Dormi o suficiente pra lembrar que não posso confiar em você e mais ninguém daqui. Ele arqueou a sobrancelha. — E mesmo assim veio. — Vim pelo prêmio, não por você. O dealer anunciou o início da rodada. As cartas deslizaram sobre a mesa. E o jogo começou. Lara jogava com uma precisão surpreendente. A Cada movimento, cada olhar, era calculado. Mas o verdadeiro jogo acontecia dentro dela. Enquanto trocava fichas e olhares com Dante, observava todos os detalhes. Os sinais discretos que ele fazia para alguém no balcão do bar. A forma como, em certos momentos, parecia receber mensagens em um relógio digital. Tudo aquilo formava um quebra-cabeça que ela ainda não conseguia montar. +++++++ Algumas horas depois, o torneio foi suspenso para o intervalo. Lara saiu discretamente do salão e entrou em um dos corredores de serviço, onde a sua amiga Sofia a esperava com um laptop aberto. — Conseguiu alguma coisa? — Lara perguntou. — Consegui, mas você não vai gostar de saber. Sofia virou a tela: imagens das câmeras de segurança internas do cassino. Nelas, Dante aparecia em uma sala restrita, conversando com dois homens de terno. Um deles… era Victor Renaud. Lara sentiu o estômago revirar. — Então é verdade mesmo. Ele trabalha pra o homem que destrói a vida do meu pai. Sofia suspirou. — É o que parece. Mas escuta: a conversa foi parcialmente captada pelo áudio. Olha isso. Sofia aumentou o volume. A gravação era baixa, mas clara o suficiente para ouvir Dante dizer: > “Ela não sabe de nada ainda. Mas se Renaud encostar um dedo nela, o acordo entre nós acaba.” Lara ficou em silêncio. — Espera... ele está protegendo você — disse Sofia. — Ou fingindo proteger — respondeu Lara, fria, mesmo que o coração dissesse o contrário. +++++++++++ Mais tarde, quando voltou ao salão, Dante estava sozinho, apoiado no bar. Lara se aproximou, decidida. — Precisamos conversar. Ele a olhou, surpreso. — Sobre o quê exatamente? — Sobre Victor Renaud. O nome atingiu Dante como um soco. O sorriso desapareceu. — Onde ouviu esse nome? — Isso importa? — ela retrucou. — Quero saber qual é a sua parte nisso. Ele a fitou longamente, avaliando se podia confiar nela. Depois, disse baixo: — Não aqui. Pegou o casaco e a conduziu até uma saída lateral. No estacionamento, o vento noturno cortava o ar, e as luzes de Las Vegas pareciam mais distantes. — Você acha que eu sou um vilão, Lara — ele começou dizendo. — Mas o que você não entende é que o seu pai não foi o único enganado por Renaud. Ela estreitou os olhos. — Está dizendo que também foi vítima? — Estou dizendo que entre o certo e o errado existe uma zona cinza. E é nela que eu vivo desde que ele destruiu tudo que eu tinha. O silêncio entre eles era pesado, cheio de verdades não ditas. Lara o encarou, tentando decifrá-lo. — Então me diz: por que está me ajudando? Dante respirou fundo. — Porque talvez, pela primeira vez, eu tenha algo que vale mais do que dinheiro e poder. Ele deu um passo à frente, a mão roçando o braço dela. — E não vou deixar Renaud tocar em você. Lara o empurrou levemente, o coração disparado. — Não confie em mim, Dante. — Tarde demais pra isso — ele murmurou. — Já estou apostando tudo em você. ++++++++ Enquanto ele se afastava, o celular de Lara vibrou. Uma mensagem anônima, outra vez. “Ele mente para te proteger. Mas vai te destruir do mesmo jeito.” Ela levantou o olhar. Dante já desaparecera na escuridão. E, pela primeira vez, Lara percebeu que estava jogando dois jogos ao mesmo tempo: um na mesa de pôquer… e outro, muito mais perigoso, dentro do seu coração. Mesmo com o coração em jogo, ela não queria parar de jogar e nem perder esse jogo.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD