Capítulo 6

1008 Words
Lara Uma chuva caía fina sobre cidade de Las Vegas. Lara observava as gotas escorrerem pelo vidro do quarto de hotel, e o som suave contrastando com o caos exiem sua mente. As palavras de Dante ecoavam em sua mente sem parar: “Entre o certo e o errado existe uma zona cinza. E é nela que eu vivo.” Ela queria odiá-lo. Precisava odiá-lo. Mas algo dentro dela dizia o contrário— esse lado teimoso e irracional — a fazia acreditar que ele estava dizendo a verdade sobre tudo. — Você está perdida, Lara — murmurou para si mesma, fechando os olhos. — Completamente perdida. O toque do celular a fez despertar. Era Sofia, sua melhor amiga, mais uma vez. — Temos companhia Lara — disse a amiga, em tom tenso. — Alguém invadiu o servidor do cassino. E não foi o Sr Moretti. Lara franziu o cenho surpresa. — Quem são então? — Estou tentando rastrear… espera, espera… — um clique, mais outro — Droga. O IP é o mesmo que usaram na fraude da empresa do teu pai. O coração de Lara gelou. — Isso quer dizer que… — Isso quer dizer que o mesmo grupo que destruiu o teu pai está aqui, agora atrás de ti. E provavelmente de olho em você, o tempo todo. Lara levantou-se num impulso, começou a se vestir rapidamente. — Onde está o Dante, você sabe? — Desapareceu há uma hora. Não há nenhum sinal dele nas câmeras. O medo se misturou à raiva. Ela pegou uma pistola pequena que guardava na sua mala. — lembrança de um tempo em que ainda acreditava que podia se proteger de tudo — e saiu do quarto. +++++++++++++ O corredor estava silencioso, o som distante dos elevadores quebrando o ar pesado. Quando virou a esquina, uma sombra se moveu em sua direção. Lara levantou a arma assustada — e o corpo reagiu antes da sua mente. — Calma — uma voz masculina disse a ela de forma, firme, porém baixa. Ela reconheceu o timbre antes de vê-lo. Dante. — Você está me seguindo de novo? — ela sibilou, baixando lentamente a arma. — Te salvando, de novo isso sim. — Ele deu um passo à frente, o rosto meio oculto pela penumbra. — Renaud mandou gentes atrás de você. Lara sentiu o estômago revirar. — Por quê? — Porque você descobriu mais do que você devia. — E o que exatamente eu descobri, Dante? — perguntou ela, cruzando os braços. — Que o homem que arruinou a vida do meu pai também é o mesmo que paga suas contas? Ele ficou em silêncio. Por um momento, apenas o som da chuva preenchia o espaço entre eles. Então ele disse, quase num sussurro: — O seu pai não era tão inocente quanto você pensa. A frase caiu como um raio para cima dela. — O quê? — Ele entrou em um acordo com Renaud. Tentou sair depois, e pagou o preço. — Mentira. — Eu vi os documentos. Seu pai lavava dinheiro do próprio Renaud há anos. Lara deu um passo atrás, como se o chão tivesse desaparecido sob os pés. — Você está mentindo pra mim. — Gostaria que estivesse. As lágrimas ardiam, mas ela não deixaria cair. — Está tentando me manipular. — Estou tentando te impedir de ser a próxima vítima. O silêncio que se seguiu foi brutal. Lara olhava para Dante como se o desconhecesse — e, de certo modo, era verdade. O homem que a fascinava era também o portador da pior dor que ela já ouvira. — E por que me contar isso agora? — ela perguntou, com a voz embargada. — Porque Renaud quer te usar. Ele precisa que você ganhe o torneio. Ela o encarou, surpresa com a revelação. — Ganhar? — O prêmio é uma fachada. O dinheiro não existe. O verdadeiro objetivo é limpar os fundos escondidos nos cofres do cassino. Se você vencer, o sistema transfere tudo automaticamente para as contas dele. Lara ficou sem ar. — Então… eu sou a isca. Dante assentiu. — E se recusar a jogar, você morre, entendeu. +++++++++++++++++ Ela se afastou, sem saber se gritava ou chorava. — E você, Dante? Qual é o seu papel nisso tudo? Ele a olhou com uma dor real nos olhos. — Eu entrei nesse jogo pra destruir Renaud. Só não esperava te encontrar no meio dele. Lara se virou, furiosa. — Você devia ter me contado desde o começo! — E você teria acreditado? — ele rebateu. — Teria me ouvido, depois de tudo o que seu pai te fez acreditar sobre mim? Ela hesitou. — O que meu pai te fez? — Me mandou pra prisão — ele disse, frio. — Porque eu descobri que o acordo com Renaud existia. O ar entre eles ficou pesado. Lara não conseguia respirar. Dante deu um passo, depois outro. Parou a poucos centímetros dela. — Eu não sou seu inimigo, Lara — disse, a voz rouca. — Mas se continuar me vendo como um, vamos acabar nos destruindo. Os olhos dela se encheram de raiva e desejo. — Talvez seja exatamente isso que esse jogo quer. Ele a encarou por um instante… e então, como se as palavras não bastassem mais, a beijou. O beijo foi feroz, urgente, como se ambos estivessem tentando esquecer tudo o que sabiam — e, por um instante, conseguiram. Mas quando ela se afastou, os lábios ainda tremendo, a realidade voltou. — Isso não muda nada — ela sussurrou. — Não! — ele respondeu. — Só muda o quanto isso vai doer para nós. +++++++++ Horas depois, sozinha no quarto, Lara abriu o cofre e tirou uma antiga carta, escrita pelo pai pouco antes de morrer. As mãos tremiam quando ela leu as últimas linhas: “Nem tudo é o que parece, minha filha. Às vezes, o inimigo que mais tememos é o único que ainda pode nos salvar.” Ela deixou a carta cair. E, pela primeira vez, não sabia mais em quem deveria acreditar.
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