capítulo 13

1134 Words
Dante A porta da sala ainda estava aberta quando Lara saiu, mas Dante continuou parado no mesmo lugar, completamente imóvel, como se o ar tivesse sido arrancado dele à força. Ele levou a mão ao rosto, respirando fundo, tentando organizar o caos que se acumulava dentro do peito. Era ridículo. Ele tinha enfrentado chefes de organizações poderosas, negociado com homens que matariam sem piscar, jogado pôquer contra os adversários mais brilhantes do mundo sem tremer uma única vez. Mas cinco minutos com Lara… cinco minutos olhando ela com os olhos brilhando de frustração, de dor, de necessidade… e Dante sentia a alma inteira numa guerra que não sabia mais se queria vencer. ------- Ele caminhou até a mesa e apoiou as mãos no tampo, inclinando-se, a cabeça baixa. O músculo do maxilar pulsava. As palavras dela repetiam-se na mente: Eu estou tentando confiar em você… mas você não facilita. Só não seja mais um a me machucar com segredos. E, principalmente. Então me deixa entrar, Dante. Ele fechou os olhos. Aquilo acertou um ponto dentro dele que nunca deixava ninguém tocar. Deixar entrar? Ele não deixava ninguém entrar. Nunca deixou. Desde pequeno aprendera que abrir portas era pedir para ser traído. Que confiar era oferecer a faca. E que amar… amar era a forma mais sofisticada de vulnerabilidade — e, portanto, o erro mais perigoso que um homem como ele podia cometer. Mas Lara… Lara estava quebrando esse princípio peça por peça. E o pior, ele estava permitindo. ------- O telefone vibrou no bolso. Ele pegou, irritado, e atendeu sem checar o nome no visor. — O que foi? — perguntou, seco. A voz de Matteo ecoou, grave: — A movimentação aumentou. Temos confirmação visual de dois homens ligados ao Rafael circulando perto da entrada lateral do cassino há mais de uma hora. Dante sentiu o peito congelar. — Eles chegaram a vê-la? — Ainda não. Mas é questão de tempo. Dante respirou fundo, o ar quase não entrando. — Redobre a vigilância. Quero tudo monitorado. E me avise no segundo em que algum deles tentar qualquer aproximação. — Entendido. Quando desligou, Dante ficou olhando para o aparelho por alguns segundos, com a mente fervendo. Rafael estava se movendo mais rápido do que ele previa. E isso significava duas coisas: 1. Lara corria muito mais perigo do que ele permitia admitir. 2. Ele estava ficando sem tempo para continuar escondendo a verdade. E isso era o que mais o consumia. Porque ele sabia que, se contasse tudo, se mostrasse a ela quem ele realmente era, o que estava envolvido, o que estava tentando impedir, talvez Lara nunca mais olhasse para ele da mesma forma. Talvez, o deixasse. E só a possibilidade disso transformava seus pulmões em cinzas. Ele saiu da sala e subiu para os andares superiores do cassino, evitando o fluxo de clientes. Caminhou como uma sombra, silencioso, até chegar ao corredor onde as suítes reservadas estavam. A porta do quarto de Lara estava fechada. Dante parou diante dela. Um homem normal teria batido. Mas Dante não era um homem normal. E Lara já tinha virado a exceção de todas as regras dele. Ele ergueu a mão — e ficou ali, por longos segundos, antes de finalmente empurrar a porta devagar. Lara estava sentada na cama, as pernas cruzadas, o cabelo solto caindo pelos ombros. Ela olhou para cima no instante em que ele entrou — e Dante sentiu o mundo inteiro perder forma por um momento. Havia mágoa ali. E medo. E algo que doía ver — dúvida. — Eu precisava te ver — ele disse, a voz mais rouca do que pretendia. Ela não respondeu de imediato. O silêncio dela tinha peso. Um peso que só quem importa consegue colocar. — Dante… — disse ela, finalmente, com cautela — eu preciso saber se posso confiar em você. Ele avançou um passo. Os olhos dela não recuaram. Dante sentiu algo apertar dentro de si. Aquilo era o que mais admirava nela. Lara não desviava olhar. Não se encolhia. Não fugia. Ela enfrentava até os próprios medos. — Você pode — respondeu ele, com total sinceridade. Ela franziu as sobrancelhas. — Mas você esconde coisas de mim mesmo assim. Ele esfregou a nuca, tentando encontrar alguma forma de explicar sem abrir a porta que ainda não estava pronto para escancarar. — Eu escondo coisas do mundo inteiro, Lara — disse. — Mas isso não significa que eu esteja contra você. Ela baixou os olhos. Dante sentiu cada centímetro da distância emocional entre eles e odiou aquilo com uma intensidade que o surpreendeu. Ele deu mais um passo. E outro. Até ficar diante dela. — Olha pra mim — ele pediu, suave. Lara levantou o rosto devagar. E Dante ajoelhou-se em frente à cama. Foi instintivo. Foi visceral. Ele nem percebeu que estava no chão até estar olhando para cima, para ela, com o coração exposto de um jeito que nunca expôs para ninguém. O olhar dela vacilou. — Dante… o que você está fazendo…? — Tentando ser honesto — respondeu. — E isso é… mais difícil do que parece. Ele apoiou as mãos na lateral da cama, mas não tocou nela. — Eu estou envolvido em algo perigoso. Muito maior do que o torneio, muito maior do que nós. Ele respirou fundo. — E você está no meio sem ter culpa de nada. Lara engoliu em seco. — Então me tira do meio. Ele sorriu — triste. — Eu não posso. Silêncio. — Porque eu preciso de você aqui. A voz dele quebrou um pouco no final. Lara piscou devagar, absorvendo aquilo como se cada palavra tivesse peso concreto. — E eu preciso de você… viva — completou ele. Ela levou um segundo para falar. — Dante… eu quero confiar em você. Mas você tem que parar de decidir tudo sozinho. Ele fechou os olhos por um instante — e depois os abriu, com a determinação sombria de um homem que acabara de tomar uma decisão irrevogável. — Então eu vou te contar — disse, finalmente. — Não tudo, ainda não. Mas o suficiente para você entender o que está acontecendo. Lara prendeu a respiração. — Você está pronta? Ela assentiu. Dante aproximou-se mais. A proximidade era quase elétrica. — Lara… tem gente perigosa observando você. — Pessoas ligadas ao Rafael. — Ele não quer vencer apenas o torneio. — Ele quer me desestabilizar. Pausa. — E descobriu que a única maneira de fazer isso… é através de você. O impacto tomou conta dos olhos dela. Foi ali, naquele instante quebradiço, silencioso, vulnerável, que Dante percebeu algo, não importava mais o quanto ele tentasse lutar contra — ele já estava completamente perdido nela. E, mesmo que o mundo inteiro desabasse, ele lutaria até o fim. Para protegê-la. Para tê-la. Para não perdê-la.
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