A madrugada em Las Vegas tinha um brilho diferente naquela noite — um brilho áspero, metálico, como se as luzes gritassem segredos que ninguém ousava confessar.
Lara saiu do hotel com passos apressados, o coração pesando como se carregasse fichas demais no peito.
O encontro com seu pai, as revelações cortadas pela dor e a expressão trêmula dele quando mencionou Moretti... tudo ecoava dentro dela como um relógio prestes a explodir.
Ela não sabia se queria chorar, gritar ou simplesmente desaparecer.
Mas não teve tempo para escolher.
Quando virou a esquina do estacionamento, uma mão forte agarrou sua cintura e a puxou para a sombra.
Lara se inspirou, pronta para lutar , até que sentiu o perfume.
Dante.
— Você está fugindo de mim? — a voz dele veio baixa, rouca, encostando-se à pele dela como se fosse um toque.
— Eu precisava pensar. — Ela tentou se soltar, mas Dante era um muro quente, intransponível.
— E você não facilita isso.
Ele inclinou o rosto, buscando os olhos dela.
— Você está tremendo — murmurou. — O que aconteceu?
Lara mordeu o lábio, lutando contra o impulso de desabar.
Dante tinha esse efeito nela, despertava o melhor e o pior, a coragem e o medo, o desejo e a raiva.
Ele segurou seu queixo com cuidado.
— Fala comigo, piccola.
O apelido, dito daquela forma, quase derreteu suas defesas. Mas ela respirou fundo.
— Meu pai disse que a falência… não foi um acidente. Que alguém sabotou tudo.
Dante ficou imóvel, a expressão endurecendo.
— Ele disse quem?
— Não. Mas quando mencionei você… ele ficou estranho.
A mandíbula de Dante travou. Algo perigoso brilhou nos olhos dele.
— Eu não fiz nada contra sua família — disse, com uma firmeza que não permitia dúvida.
— Nem deixaria que alguém tocasse em você.
Lara sentiu o estômago apertar. Ele falava com uma intensidade que a deixava sem ar, como se estivesse jurando fidelidade com a própria alma. Mas isso a deixava ainda mais confusa.
— Então quem está por trás disso? — ela sussurrou.
Dante aproximou o corpo dela, até que não houvesse espaço algum entre eles.
— É isso que estou tentando descobrir — confessou.
— E você acabou de dar a pista que eu precisava.
Antes que ela pudesse perguntar, Dante a segurou pela mão e a puxou para o carro.
— Vamos.
— Para onde?
— Para resolver isso.
Mas, no meio do caminho, algo desviou toda a rota.
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O bar clandestino ficava escondido atrás de um beco iluminado por néons vermelhos.
Um lugar onde os jogadores iam quando queriam apostar coisas que não se colocam na mesa principal, informação, lealdade, sangue.
Ao entrar com Dante, Lara sentiu o clima pesado, como se todos estivessem se medindo uns aos outros.
Ela reconheceu alguns rostos — ex-adversários, criminosos de aluguel, gente que vivia do caos.
Dante caminhava como se fosse dono do lugar. E talvez fosse, de certa forma.
— Você já veio aqui antes? — ela perguntou.
— Muitas vezes. Não se preocupe. — Ele colocou a mão nas costas dela, guiando-a.
— Comigo, ninguém vai encostar um dedo em você.
Um homem tatuado, com cicatriz na sobrancelha, se levantou ao vê-los.
— Moretti — disse, com um sorriso torto.
— Ouvi dizer que alguém está cutucando seu império.
— Também ouvi a mesma coisa sobre o seu — Dante devolveu, seco.
— Quero respostas. Agora.
Lara observou a troca com atenção. Era como assistir a dois predadores farejando território.
O homem olhou para ela, curioso.
— Então essa é a Rainha de Copas. Mais bonita ao vivo.
Dante deu um passo à frente, ficando entre os dois.
— Olhe para ela de novo, e eu arranco seus olhos.
O silêncio tomou o bar. Alguns riram, outros recuaram. Lara engoliu seco e não sabia se estava mais assustada ou mais… excitada com aquela proteção feroz.
— Fique calma — o homem disse, levantando as mãos.
— Não vim provocar ninguém. Só tenho um nome para te dar.
Dante cruzou os braços.
— Fala.
— O responsável por derrubar os Monteiro… é alguém que tem contas antigas com você, Moretti.
Lara sentiu o mundo balançar.
— Com o Dante?
O homem assentiu.
— Um rival. Um fantasma. Alguém que todos achavam morto.
Lara olhou para Dante.
Ele empalideceu , algo raro, improvável, impossível.
— Como ele se chama? — Dante perguntou, a voz fria como gelo quebrando.
O homem sorriu, como se estivesse entregando uma bomba relógio na mão de Moretti.
— Rafael Vento.
Lara arregalou os olhos.
Dante ficou paralisado.
Por um segundo, tudo no ar pareceu estilhaçar.
— Isso é impossível — Dante sussurrou, quase para si mesmo. — Ele morreu há anos.
— Ou você achou que ele tinha morrido — o homem corrigiu.
— Mas parece que Rafael está de volta. E está vindo atrás de tudo que você ama.
O olhar do homem deslizou para Lara outra vez.
Dante reagiu na mesma hora, puxou Lara pela cintura e a girou para trás dele, protegendo-a como se fosse um escudo humano.
— Se ele se aproximar dela… — Dante parou, respirando fundo.
— Eu juro que acabo com essa cidade inteira.
Lara tocou o braço dele, tentando trazê-lo de volta.
— Dante… quem é Rafael?
Ele virou para ela, os olhos tomados por uma tempestade que ela nunca tinha visto antes.
— O pior erro da minha vida — Dante respondeu.
— E o único homem que eu realmente precisei matar… mas não consegui.
Lara sentiu o coração disparar.
Não era apenas um inimigo.
Era um fantasma.
Um acerto de contas.
Uma guerra prestes a explodir.
E ela estava no meio.
— Vamos embora — Dante disse, pegando a mão dela.
— Para onde?
Os olhos dele encontraram os dela com uma determinação selvagem.
— Para um lugar onde você estará segura. Mesmo que eu tenha que enfrentar o inferno inteiro para garantir isso.
Lara abriu a boca para responder, mas Dante a puxou para perto dele, segurando seu rosto entre as mãos.
— Eu não vou perder você — ele sussurrou.
— Por nada. Por ninguém. Nem pelo meu passado.
E antes que ela pudesse dizer qualquer coisa…
Ele a beijou.
Um beijo urgente, desesperado, cheio de desejo e de promessas não ditas.
Um beijo que dizia claramente que Dante Moretti estava pronto para incendiar o mundo por ela.
E Lara?
Ela percebeu ali, ofegante, tremendo contra ele…
Que o maior perigo não era Rafael Vento.
Era o sentimento que Dante despertou nela.
Porque isso, sim, poderia destruí-la.
Ou salvá-la por completo.