♥️capitulo 17

957 Words
DANTE Eu sabia tudo isso era um erro antes mesmo de tocá-la. Soube logo no exato segundo em que meus dedos encostaram na pele quente do rosto dela. Soube quando meus lábios encontraram os dela — suaves no início, depois desesperados. Mas eu fiz mesmo assim. E agora… não existe volta. Lara está sentada no sofá da casa segura, com as pernas cruzadas, o cabelo um pouco bagunçado, a boca ainda marcada pelo meu beijo — e só essa visão já é suficiente para me desestabilizar de novo. Eu caminho pela sala, tentando organizar pensamentos que se recusam a obedecer. Preciso controlar isso. Preciso entender o que está acontecendo. Preciso parar com isso. Mas quando olho para ela… Não quero controlar nada. — Você está inquieto — ela diz, estudando cada movimento meu como se tivesse aprendido a me decifrar. — Não estou — minto, passando a mão pelo cabelo. — Está sim — ela insiste, se levantando. — Você sempre fica assim quando está tentando decidir entre fugir ou quebrar tudo. Ela está certa demais. Isso me irrita. E me atrai. Quando ela chega perto, percebo que ela não tem medo de se aproximar de mim — mesmo sabendo o que eu posso ser, o que eu posso fazer. Esse é o problema. Esse é o perigo. Ela para diante de mim. E eu paro também, como se o mundo tivesse sido abruptamente reduzido a esse espaço estreito entre nós. — Dante… — ela começa, voz baixa e carregada de algo que eu não consigo definir. — O que está acontecendo dentro dessa sua cabeça? Eu rio — um som curto, seco. — Você não vai quer entrar na minha cabeça, Lara. — Eu já estou lá desde o primeiro dia — ela responde, e isso me atinge como um golpe. Porque é verdade. E porque eu também estou na dela. Ela ergue a mão devagar, como se esperasse que eu recuasse. Eu não recuo. Os dedos dela tocam meu rosto — leves, quase reverentes. E é nesse toque que eu percebo: Eu estou perdido. — Você me beijou — ela fala, quase num sussurro. — Sim — respondo. — E isso significa alguma coisa para você? — ela insiste. Eu seguro o pulso dela antes que ela retire a mão. Seguro forte. Demais. — Significa coisas que eu não deveria sentir. Os olhos dela brilham com uma mistura de surpresa e… esperança? Isso é perigoso. Isso é errado. Mas eu continuo. — Quando eu te vi naquela situação, quando percebi que você poderia morrer… — minha voz baixa, rouca, crua — eu surtei por dentro. Eu não sabia que era possível sentir esse tipo de medo de novo. Ela me encara como se estivesse tentando entender cada camada do que eu acabei de admitir. — Dante… — ela começa, mas eu corto. — Não fala meu nome assim — digo, me aproximando ainda mais. — Isso me desmonta. Ela sorri de um jeito suave, que contrasta completamente com o caos que ela provoca em mim. — Eu não quero te desmontar — ela diz. — Quero te entender. — Eu prefiro que você não entenda nada — murmuro, e puxo o queixo dela entre meus dedos. — Porque quando você entender… vai ver que eu não sou um dos mocinhos. — Eu também não sou uma princesa — ela rebate. — E nunca pedi para ser salva por um mocinho. Esse é o problema. Ela me responde como igual. Ela me encara como igual. Ela me desafia como igual. Eu solto o ar devagar. — Você me complica — sussurro. — Que bom — ela responde, sem hesitar. — Eu também sou complicada. A pontinha da boca dela se curva. E eu estou prestes a puxá-la de novo — a repetir o erro, a aprofundá-lo, a torná-lo irreversível — quando o celular vibra na mesa. Ambos olhamos. O nome que aparece na tela me faz congelar. “Águia n***a – canal 7” Meu informante mais arriscado. E ele só liga quando algo grande acontece. Eu atendo. — Fala — digo, a voz instantaneamente afiada. — Dante… você precisa saber. O ataque de hoje? Não foi obra de amadores. Não foi coincidência. Foi encomendado. Para a garota. Meu sangue gela. — Quem? — rosno. O silêncio do outro lado dura um segundo que parece um século. — Cartel Valverde. Eles colocaram um preço. E é alto. Minha visão escurece por um instante. Valverde? Eles não brincam. Eles não erram alvo. Eles não deixam sobreviventes. — Entendido — respondo. Desligo. Lara sabe. Só pelo meu rosto, ela sabe. — Foi sobre mim? — ela pergunta, firme. Eu olho para ela — realmente olho. E digo a verdade nua, crua e brutal: — Eles querem você, Lara. E vão tentar de novo. Ela empalidece — mas não recua. Não chora. Não entra em pânico. Apenas ergue o queixo. Corajosa. Teimosa. Forte demais para o próprio bem. — Então você vai me proteger nem? Eu avanço um passo. Ela não recua. Eu seguro sua cintura, puxando-a para perto. Para perto demais. — Eu não vou te proteger. — Não? — ela sussurra. — Eu vou te esconder do mundo inteiro se for preciso. Vou te guardar. Vou te manter viva. Nem que eu tenha que derrubar um cartel inteiro sozinho. Os olhos dela se abrem, e há algo perigoso ali. Algo que eu também sinto. Porque agora não é só sobre dever. Não é só sobre a missão. É pessoal. Eu encosto a testa na dela. — Você está ferrada, Lara — digo baixinho. — Porque agora… agora você é minha guerra. E ela sorri. Um sorriso pequeno. Mas suficiente para incendiar tudo de novo dentro de mim.
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