Lucca Miller
Selena Silva
Acordo novamente e ele estava sentado ao meu lado, não na cama, mas tinha empurrando uma poltrona para ficar próximo ao meu leito. Não sabia porque, mas no momento eu confiava muito naquele homem que parecia ser uma pessoa muito fria, distante e triste da face dessa terra.
Eu deveria odiar os homens, depois de tudo que eu passei era para querer nunca mais chegar perto de um homem novamente.
Eu deveria querer distância daquele homem que tinha um olhar frio, mas que me parecia a pessoa que eu deveria confiar naquele momento.
No entanto, ainda me lembro dele me salvando lá na mata e também não me passou despercebido que os dois falavam português perfeitamente bem. Era tudo que eu tinha no momento, dois salvadores e eles me entendiam.
Eu agora estava mais ciente de onde eu estava, na verdade, era um bálsamo estar em um hospital e longe daquele lugar. Só de pensar que eu passei pelo que eu passei, eu não sei como ainda estou viva e aqui.
Achei que estava morta e agora estava em uma versão paralela ou um mundo alternativo, mas não, estava realmente em segurança e bem. Bom, estava bem na medida do possível.
Sei que caminhei por dias pela mata adentro, não sei especificar que dia é hoje, mas eu sei que já tinha se passado muito tempo desde o meu primeiro desmaio e quando acordei no hospital.
- Sei que acordou...- Estava ainda de olhos fechados.
Eu somente abri rápido e pensei que ele não tinha percebido, mas ele estava com toda a sua atenção voltada para mim.
- Onde estamos? - Com um pouco dificuldade tento me sentar na cama, meu corpo já estava dolorido por causa do tempo deitado, mas sentia meus pés bem machucados.
Eles nos deixam descalço para dificultar a nossa fuga, eles pensavam em tudo, menos que encontraria uma brasileira doida e sem medo.
Vendo meu impasse e a minha falta de coordenação devido a minha situação atual. O ruivo vem até mim e me ajuda a me sentar direito. Ele me ajudou sem o menor esforço, acredito que eu emagreci muito nesse tempo ou ele era forte além da conta.
Eu já não era muito gordinha, mas os dias no navio e os dias tentando fugir não me ajudaram muito com o meu peso.
- Estamos na Itália... – Ele me olha atentamente. – Mas precisamente em Roma. – Olho para ele assustada.
- Como eu cheguei aqui? – Ele me analisou, o homem era a primeira pessoa ruiva que eu via na vida. – Eu queria ver muito a minha mãe.
- Bom, você chegou aqui em um helicóptero, no outro hospital não tinha estrutura para te atender. Então eu fiz você vir para cá. – Diz como se fosse tão natural tudo que fez por mim.
- Não sei como te agradecer... – ele não fala nada e nem sorri, nada!
- Sua mãe está vindo para Roma com as outras, seu estado de desidratação era o mais grave dentre as outras e sua mãe está entre elas. Ela está sã e salva e logo estará aqui. – Eu choro de alívio.
- Graças a Deus! – Digo tudo com um alívio no peito que eu nem consigo descrever.
- Qual é o seu nome? – Me pergunta curioso.
- Selena Silva... – Ele mexe no celular e guarda.
- O seu ? - Ele me analisa.
- Lucca Miller...- Ele olha para a porta. - Você só precisa saber disso por enquanto... - Me oferece água e eu aceito, já tinha um tempo que eu não me hidratava corretamente.
- O que vocês estavam fazendo em um navio cargueiro? – Ele perguntou do nada e não parece querer ouvir qualquer mentira.
Conhecia ele há pouco tempo, mas já sabia que ele era um cara misterioso.
Suspiro bem nervosa, era horrível falar de como éramos tão bobas ao ponto de nos colocarmos em risco para fugir de um opressor inútil.
- Pelo que já percebi, você já sabe que eu sou brasileira... – Ele confirma como se fosse óbvio e era. – Eu morava no Rio de Janeiro em uma favela, na verdade, eu não me importava em morar lá, mas as circunstâncias me obrigaram a partir para tentar algo novo. - Digo nervosa. - Tinha trabalho, casa e a minha mãe para cuidar. O problema era o marido da minha mãe... bom... O desgraçado batia na minha mãe por qualquer coisa, ele era um maldito opressor que fazia das nossas vidas um inferno! Era daqueles machos que se achava na razão e queria nos ter de empregadas. Eu trabalhava para sustentar ele, minha única condição era que ele não batesse na minha mãe.
- Só que ele não fazia o combinado... – O ruivo fala com raiva.
- Resumindo, ele mandou a minha mãe para o hospital várias e várias vezes. A polícia não fazia nada e os donos do lugar que eu morava também não... - Digo chorando. - Estava vendo a hora que eu iria chegar em casa e encontrar a minha mãe morta! - Ele me entrega um lenço. - Não pensei muito... Recebi uma proposta para trabalhar nos Estados Unidos e não recusei, agarrei a oportunidade e tentei a sorte. - Abaixo o olhar. - O que eu não contava era que seria vendida e quase e*******! - Ele trinca os dentes dom raiva.
- Eles não...- Lucca engole seco. - Eles não conseguiram? - n**o com a cabeça.
- Não totalmente porque eu... - Começo a chorar de soluçar e ele me abraça.
- Não precisa falar... - Ele passa sua mão nos meus cabelos e aquilo era bom. - Não precisa voltar para casa, podemos te ajudar a ficar permanentemente no país. - Ele diz e olho para ele.
- Está falando sério? - Meio relutante ele confirmou.
- Não costumo fazer isso, mas posso te ajudar, arrumar um emprego e você pode refazer a sua vida na Itália. - Aquilo era bom demais para ser verdade.
- Olha... - Quando eu iria falar, a porta se abre e vejo minha amada mãe.
Não consigo mas me controlar e choro como uma criança que foi afastada da mãe. Minha mãe estava frágil, assustada, mas ela estava bem e sem muitos machucados.
- Oh minha filha! - Minha mãe chorava de soluçar. - Eu pensei que iria te perder e nunca mais te veria. - Eu não conseguia falar nada e quando vi a enfermeira entrou e me sedou.
Escutei que estava com a pressão muito alta e estava a ponto de infartar.
Gente eu era tão saudável!
O quê aconteceu para não poder mais me emocionar desse jeito?
Eu estava feliz!
Estava viva e tinha a minha mãe perto novamente.
Adormeci segurando a mão da minha mãe, mas pensando nos cabelos ruivos do homem que me salvou.
Lucca Miller...