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777 Words
Ping... ping... ping. O sanguę de Kelly Rossi pingava como uma música em meus ouvidos. Ela havia vomitado o que não tinha no corpo, e todos os componentes químicos em seu organismo corriam por seus membros por dentro. Ela estava apodrecendo de dentro para fora. E, mesmo morręndo — palita, puro osso— ela dizia uma só palavra. — Ele está mōrto... — Rossi dizia entre os dentes, enquanto ria e tossia ao mesmo tempo. — Jasmin já deve ter acabado com aquele dęsgraçado. — Cala a boca. — Minha voz saía tão grossa e baixa que eu mesma não me reconhecia. — Pelas minhas contas faz o quê? — Eu ainda conseguia ouvir ela rir, como se uma palhaça estivesse à sua frente. — Cinco meses. Ele está mōrto. Ele está mōrto... Minha cabeça latejava de dor. Até mesmo meus cabelos, presos em um coque, pareciam causar choque na minha mente. Rubens Erdoğan não poderia estar mōrto. Ele. não. estava. mōrto. Sim, ela estava certa. Cinco meses. Cinco maldįtos meses em que tudo virou um caos. Makyson e Ariel não eram mais vistos nos mapas, os únicos telefonemas que recebíamos vinham de Felipe. Nós, da Elite, estávamos no comando e, mesmo sob o poder supremo da máfia... ele não estava aqui. Ele está mōrto... Ele não estava mōrto! Não podia! Eles teriam enviado alguma prova — algum m****o dele, uma gravação, uma foto — algo comprovando a tortūra ou a mortė. Mas não... nada. Nenhum sinal de Erdoğan. Nenhum maldįtos sinal dos Rossi. E tudo isso depois que entreguei o maldįtos diamante para Makyson. Ele está mōrto... — Vamos lá, Alencar, você não pode ser tão estúpida assim. Rubens está mor... — CALA A BOCA! — Virei na direção dela tão rápido que senti meu pescoço estralar. Meus olhos estavam arregalados, e eu sentia o sangue subir pelas veias. — CALA A PŌRRA DESSA BOCA! Minha própria saliva escapava da minha boca enquanto eu tentava me agarrar ao fio da sanidade. Cinco meses sem dormir direito. Cada cochilo era um pesadelo com ele — nossa primeira vez, o sorriso nos lábios — só pra depois ver seu corpo mōrto nos meus braços. Todas as maldïtas noites eu acordava desesperada. — Ana... — Charlotte entrou correndo na sala, se colocando entre mim e a maldįta Rossi. — Vamos sair daqui. Vem... Minhas narinas inflavam e desinflavam numa tentativa desesperada de puxar o ar, enquanto meus pulmões ardiam. Minhas mãos estavam fechadas em punhos, e tudo que eu via era vermelho, como se chamas estivessem diante de mim. — Já passei o número do meu irmão. Você ainda não ligou pra ele. É só pedir pra mandar as cinzas daquele albino nojento. — Lotte virou meu corpo, obrigando meus pés a caminhar. — ELE ESTÁ MŌRTO! Por que vocês não desistem!? Em um único movimento, parei de andar. Puxei o ar com força, ergui a cabeça para o teto e enchi os pulmões o máximo que pude. Num impulso, empurrei Charlotte, puxei minha pistola da cintura, e o tiro foi a única coisa que se ouviu dentro do salão de tortūra. A cabeça dela agora tinha um furo no meio. O chão, tomado por seu sanguę. Virei a cabeça para o lado como uma verdadeira psicopata e sorri. Lotte correu em minha direção, lenta demais. Assim que percebeu o que eu acabara de fazer, paralisou. A porta — a única saída do salão — foi aberta, revelando Silas, que entrou desesperado. Eu apenas virei as costas, ouvindo o barulho dos meus saltos ecoando no chão. Cada passo da minha bota era firme. Ninguém se atrevia a ficar em meu caminho. Em minutos, estava no meu quarto. Assim que fechei a porta, senti tudo girar. Todo o meu quarto tinha o cheiro dele. A presença dele. Eu não aguento mais. Eu não aguento mais. — HA!! — Gritei, agarrando meus cabelos enquanto caminhava até minha cama. Continuei gritando, puxando os lençóis e cobertas, sentindo a garganta doer enquanto derrubava todos os meus perfumes e maquiagens da penteadeira. Peguei minha própria pistola e a joguei contra o espelho. Chutei a mesinha ao lado da janela transformando-a em cacos de vidro também. Foi nesse momento que a porta do quarto se abriu. — Ana! — Charlotte correu até mim e me agarrou num abraço. — Calma, amiga. Calma... — Eu vou måtar todos. Eu vou måtar todos eles! — Berrei, e finalmente senti as lágrimas em meus olhos. — Amiga, por favor... calma... — Eu quero meu floco de neve. Traz o meu floco de neve! — Senti meu corpo desabar no chão e gritei novamente, chorando desesperadamente. Ele está mōrto.
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