Rubens Erdoğan ☠
Quatro meses atrás.
Eu estava no meu limite. Quero mörrer. Preciso mörrer. Pois, se eles não me matårem agora, se Jasmin Oliveira não acabar com a minha vida, eu vou enlouquecer.
Minhas costas estavam em carne viva, pois a maluca gostava de brincar de açougueira. Meus pulsos já não sentiam mais dor. Eles estavam pendurados, mantendo meu corpo como um boi, e eu já não aguentava mais segurar meu próprio peso para aliviar os pulsos.
Ouvi os saltos batendo no piso e fechei os olhos, sentindo-os arder. Quando os abri, vi seus longos cabelos pretos e lisos caírem sobre os ombros, brilhando como sempre. A pele morena dela tinha um brilho hipnotizante, e seus olhos, pretos como a noite, pareciam capazes de penetrar até a alma de qualquer um que ousasse cruzar seu caminho.
— Rubens. — Mas, pela primeira vez naquela noite, não ouvi seu tom brincalhão ou desafiador. — Faz quatro meses. — Sua voz parecia... com pena.
Me obriguei a levantar o pescoço para analisar seu rosto, e pude ver seus olhos brilharem — não com excitação por mais uma tortūra, mas com pena e aflição. Entendi, naquele momento, qual seria o meu fim. Estou tempo demais aqui dentro e não falei absolutamente nada. Era óbvio que isso iria acontecer.
Abaixei minha cabeça novamente, fechando os olhos sentindo a ardência. A imagem de Makyson veio à minha mente, e sorri, deixando uma lágrima cair. Eu cumpri meu papel. Não falei nada. Acabou. Essa merdå acabou.
— Tenho ordens pra måtar você hoje, sabia? — Respirei fundo, sentindo a paz dominar meu peito. — Mas você não liga, não é? Sua vida não vale nada pra você. Se eu te måtar agora, vai ser um favor!
Ela gritava como se estivesse em uma guerra já perdida. Ouvi seus saltos pelo cômodo e estranhei por não seguirem a direção comum da mesa de utensílios. Quando abri os olhos e ergui o pescoço, vi um notebook em suas mãos. Ela levantava a tela com ódįo, digitando de forma raivosa.
— E ela! — No momento em que Jasmin virou o notebook para mim, meu sanguę gelou. Ana Júlia Alencar estava na tela, com um copo de whisky na mão, em pé diante de uma mesinha, analisando vários papéis. Ela parecia abatida e fraca, e finalmente eu senti meu coração doer. Durante esses quatro meses, evitei pensar nela. Mas agora, sabendo que vou mörrer e vendo-a daquele jeito...
— Eu posso måtar você! Mas vou atrás dela! Vou fazer com ela exatamente o que fiz com você!
Senti meu corpo inteiro reagir, e minha mente girar. Num impulso, ergui o corpo, ignorando a dor dos pulsos e das costas, e aproximei meu rosto do dela, encarando a maldįta morena nos olhos. Ela riu, desacreditada, e logo fechou o notebook.
— Por que não usei essa carta antes? — Jasmin deixou a cabeça cair de leve para o lado, sorrindo na minha direção. — Você sabe que temos homens nossos infiltrados na sua máfia, né? Mas são vocês da Elite que têm a resposta que a gente precisa. E olha! — Ela colocou o notebook na mesinha e bateu palmas, o som ecoando na minha dor de cabeça. — Vocês são fōdas, tenho que admitir. Não conversam dentro da sede, nem no carro, nem nos celulares. Sempre que precisam falar com Felipe, usam telefone descartável e vão lá pro meio do mar, onde eu perco o meu sinal!
— O que você achou que ia acontecer? — Finalmente falei. Depois de quatro meses, eu disse algo. Pegando Oliveira de surpresa , e até a mim mesmo. Minha garganta doía. Nem a pouca água que me davam era suficiente. — Que ia atacar Felipe e Makyson, me sequestrar e que a gente entregaria eles de bandeja?
Foi minha vez de rir. E pude ver o desespero em Jasmin, que deu dois passos para trás.
— Não... isso não vai acontecer.
— Eu posso fazer melhor, sabia? — Finalmente vi o ódįo costumeiro borbulhar no olhar dela. — Posso trazer ela aqui. Posso arrancar a pele dela igual a um abacaxi. E fazer você ver tudo... e depois te måtar. Fazer com que a última coisa que escute sejam os gritos dela.
Fiquei quieto, mantendo o pescoço erguido. Ela estava blefando. Ficando maluca. Era isso. Ela não tinha mais cartas. Mantenha a mente em ordem, Rubens. Eles não podem fazer nada com ela.
— Você acha que eu estou blefando, né? — Ela rapidamente pegou o celular no bolso, rindo desesperadamente. — Kayky! — colocou no viva-voz — sabe a ruiva?
— Quem, senhora? Júlia? — ouvi a voz do segurança da mansão. Lembrava muito bem quem era o maldįtos Kayky.
— Isso, ela mesma. Quero que tragam ela aqui na sede! Imediatamente!
Conseguia sentir o ódįo subir pelas veias. Meu peito subia e descia, fora de ritmo.
— Bom, não vai ser difícil, senhora. Esse horário ela costuma sempre se trancar no quarto e ficar bêbada. Posso fazer isso, mas só após as três, quando toda a casa para.
— Ótimo, então trag...
— Para! — Finalmente disse. E vi Jasmin sorrir. — O que você quer?
— Kayky, querido, aguarda na linha, por favor. — Ela deixou o celular na mesa e veio em minha direção. — Onde está o Makyson?
— Eu não sei. — Sorri e foquei meus olhos nos dela. — No momento em que vocês me sequestraram, ativaram o alerta laranja. Makyson é trocado de cidade em cidade, ilha em ilha , país a país. Estou trancado aqui, então não sei onde ele está.
— Alguém da Elite sabe?
— Também não. Recebemos ligações uma vez por mês do Felipe. Ele passa as ordens, pergunta como estão as coisas e ponto.
— Não é possível... — Ela começou a andar de um lado para o outro.
— Senhora! — Olhei na direção do celular como se um tiro tivesse saído dele. — Acabei de receber informações de que Alencar saiu do quarto.
Oliveira correu até o notebook e começou a trocar as câmeras, cômodo por cômodo, até encontrar Ana na cozinha, mexendo no armário de bebidas. Ela m*l se aguentava em pé.
— Você é o hacker do Makyson, não é? O melhor?! — Olhava de Jasmin para a tela do notebook, depois voltava a encará-la. — As câmeras que temos acesso são mini câmeras que a gente precisou instalar. E acredite, demorou muito. O sistema que você criou pra mansão é difícil demais de hackear. E depois do último ataque, ficou pior. Mas você consegue achar seu chefe, né?
Engoli em seco, sentindo uma dor enorme no peito.
— Kayky! — "Sim, senhora." — Quero que entre na cozinha sem que ela ou as câmeras te vejam. E aponte a arma pra cabeça dela.
Não... por favor, não...
— Rubens — voltei meu olhar para Jasmin — eu perguntei: você consegue achar seu chefe?
— É difícil. Como eu disse, ele se muda. Justamente pra, se a gente for sequestrado e acabar sucumbindo, não o entregar.
— Eu não quero saber! Você consegue ou não?! — Fiquei em silêncio. — Kayky!
Ouvi o som da arma engatilhando. Virei os olhos pro notebook. Ana tentava abrir uma garrafa de vinho, mas logo a largou e levou a mão ao rosto, chorando. Atrás dela, a porta dos fundos da cozinha se abria.
Levanta o rosto, anjo. Olha pra trás...
No instante em que vi a arma próxima demais dela, senti meu mundo parar. A presença de Makyson, que tanto guardei na mente, se quebrou. Seus sorrisos sumiram. Meus aniversários e lembranças se apagaram. Tudo que eu via era seu olhar de decepção… e logo depois, meu anjo, mortå.
Fechei os olhos com força e abaixei a cabeça. Quando os ergui novamente, vi os olhos de Oliveira brilharem e seu sorriso se alargar.
— Eu consigo achar ele. Mas fique longe dela.
— Ótimo! Kayky… — Finalmente consegui voltar a respirar ao ver Ana sozinha na cozinha novamente. — Novas ordens, Kayky. Quero que se aproxime de Alencar e não a perca de vista. Posso te ligar a qualquer momento.
Ela desligou o telefone e fechou o notebook. Estávamos novamente apenas eu e ela.
— Vou mandar soltarem você e te dar um quarto na mansão. Vou avisar ao Alessandro. O que você precisa?
— Um banho, whisky… e meu notebook.